João Lourenço na calha para suceder a Eduardo dos Santos

Congresso do MPLA acabou sem surpresas. Eduardo dos Santos foi reeleito com 99,6%

A eleição acontece, sem interrupções, desde setembro de 1979. Há quase 37 anos. E este mandato pode prolongar-se por mais cinco, até 2021. A novidade reside na ascensão de dois generais ao topo da direção do partido. João Lourenço, atual ministro da Defesa subiu à vice-presidência. Paulo Kassoma, presidente do Banco Económico (ex-Espírito Santo Angola) avançou para secretário-geral.

Os novos homens fortes do partido (e do poder angolano) foram eleitos na primeira reunião ordinária do comité central saído do congresso de há uma semana. Vão substituir nas funções Roberto de Almeida (anterior vice-presidente do MPLA) e Julião Mateus, conhecido por ‘Dino Matross’. Todavia, mantêm-se ambos no bureau político do ‘M’.

Nos círculos políticos de Luanda, João Lourenço foi sempre visto como uma ‘reserva moral e política’ do MPLA, partido em que já exerceu funções de secretário-geral. Mesmo depois de remetido por Eduardo dos Santos para lugares mais discretos – vice-presidente da Assembleia Nacional (2008/2014)  – por ter tido a ousadia de assumir publicamente disponibilidade para substituir o líder, quando este falou, anos atrás, na possibilidade de abandonar a vida política ativa.

O seu regresso à ‘ribalta’ aconteceu em abril de 2014. O Presidente aproveitou uma remodelação no Governo, para ‘puxar’ de novo João Lourenço para o círculo de poder em Luanda. E deu-lhe a importante tarefa de reorganizar e comandar um dos ministérios mais poderosos do país: o da Defesa, em substituição de Cândido Van-Dúnem.

Essa nomeação foi logo interpretada como um ato de regeneração da imagem de João Lourenço e da reentrada do general na ‘linha de sucessão’ de Eduardo dos Santos.

Agora, com a chegada à vice-presidência do partido, há quem veja nisso um sinal de Eduardo dos Santos, para o partido e a sociedade, acerca de quem é o escolhido para ‘braço-direito’ na presidência, caso o MPLA renove a maioria absoluta nas eleições gerais previstas para 2017 e, indo um pouco mais longe, passem a ver em João Lourenço o sucessor natural.

«Os militantes podem contar comigo para colaborar com o líder do partido, para as grandes responsabilidades que ele tem até à realização das eleições», declarou João Lourenço no final da eleição, em declarações à agência noticiosa angolana, Angop.

Recorde-se que Eduardo dos Santos, em março último, durante uma reunião do comité central do partido, abriu a porta do abandono da vida política. Perante os altos responsáveis do MPLA, o líder angolano anunciou: «Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República para cumprir um mandato que (…) termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018».

A confirmar-se, isso poderá significar o ‘fim da linha’ para Manuel Vicente, o homem que saltou da liderança da poderosa Sonangol para a vice-presidência, mas que nunca conquistou a unanimidade exigida para um dia assumir naturalmente os destinos do país, como sucessor de José Eduardo dos Santos.

Outra das novidades do último congresso do MPLA recai sobre o nome de Paulo Kassoma, antigo primeiro-ministro e atual homem forte do BESA – Banco Económico e Social de Angola (antigo Banco Espírito Santo de Angola). Além da passagem pela liderança de um dos governos de Eduardo dos Santos, Paulo Kassoma exerceu ainda funções de presidente da Assembleia Nacional e de governador da província do Huambo, tradicional bastião da UNITA. Uma das tarefas prioritárias, a par de João Lourenço, é preparar o partido para a batalha eleitoral do próximo ano.

E promover a renovação de quadros.

Sendo que um dos pontos fortes dos discursos do Presidente aos delegados teve como alvo principal os pretensos empresários angolanos que enriqueceram à custa do Estado e a servir os interesses de empresários estrangeiros desonestos a troco de comissões.