s irmãos gémeos Ridha e Haider tornaram-se conhecidos pelos piores motivos: são acusados de agredirem barbaramente um jovem de Ponte de Sor. Tudo seria relativamente “normal” – rixas entre adolescentes há-as, infelizmente, às centenas – não fosse o caso de os irmãos iraquianos gozarem do estatuto de imunidade diplomática. Ao estarem a coberto de regalias que o comum dos mortais desconhece por completo, nomeadamente poderem conduzir sem terem idade legal para o fazer, Ridha e Haider sabem muito bem que podem ter atitudes “ilegais” que nada lhes acontece, atendendo à imunidade diplomática que o seu pai e restante agregado familiar goza.
Até se pode dizer que a imprensa foi atrás da história da vítima e que se esqueceu um pouco de ouvir a versão dos gémeos. Aceito a crítica mas é óbvio que os jornalistas só noticiaram os factos que apuraram. A embaixada levou longos dias a abrir as portas para dar a sua versão dos acontecimentos e só o fez quando tudo já estava em chamas.
Este caso teve o condão de abrir uma discussão que poderá ser bastante útil no futuro, já que não faz qualquer sentido países como Portugal se regerem por uma convenção assinada nos anos 60 do século passado em que os diplomatas e as respetivas famílias têm um estatuto de imunidade total. Quer isto dizer que podem matar, atropelar, roubar ou não pagar nos restaurantes onde vão, por exemplo, pois sabem que o pior que lhes pode acontecer é serem considerados “personas non gratas” e receberem ordem de expulsão do país.
A história dos irmãos gémeos, ao que se sabe, tem um lado sinistro. Depois de se envolverem numa cena de pancadaria com jovens portugueses que estavam num bar de Ponte de Sor, os iraquianos foram levados a casa pela GNR local e voltaram ao local do crime para concretizarem a sua agressão bárbara. Aí, diz-se, terão pontapeado a cabeça de Rúben Cavaco deixando-o num estado lastimável.Fala-se também que o atropelaram e que o abandonaram.O jovem seria depois encontrado por trabalhadores locais e transportado de urgência de helicóptero para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Esteve em coma induzido e não se sabe a gravidade das lesões, mas sabe-se que quando acordou do coma induzido nem a mãe reconheceu. Os jovens iraquianos aguardam agora que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país lhes levante a imunidade e possam responder em sede própria pelo acontecido. E que melhor do que um tribunal independente para apurar responsabilidades?
P. S. Alguém consegue imaginar a história ao contrário? O que se passaria se os filhos do embaixador português se envolvessem numa cena idêntica em Bagdade?