1.Medalhas Olímpicas. Foi grande a frustração com o escasso número de medalhados no Rio 2016. Tão escasso que até sabemos o seu nome –Telma Monteiro –, a modalidade –judo –, e a posição – bronze. Olhando para a lista dos países mais medalhados com ouro (EUA, Grã-Bretanha, China, Rússia, Alemanha, Japão ou França), não pode deixar de saltar à vista um associação entre sucesso olímpico e a dimensão económica do país, medida pelo respetivo Produto Interno; as exceções são a Índia e a Indonésia. Vários estudos empíricos confirmam que o nível do Produto é o fator crucial para prever o sucesso olímpico, a que se juntam o facto de ser o país organizador e número de medalhas conquistadas em edições passadas (refletindo a persistência das vantagens comparativas no desporto). Deste ponto de vista a performance portuguese foi na realidade inferior ao expectável: o nosso PIB é o 50º no mundo mas o nosso número de medalhas não foi além da 78ª posição.
2.Olimpismo. Na semana passado li dois curiosos artigos de opinião sobre o olimpismo. O de João César da Neves (O Desporto faz mal à saúde, DN, 18 de agosto) condena o culto do corpo e a obsessão com o desempenho físico subjacente aos jogos modernos. O outro, em réplica, de Rui Tavares (Teodósio da Neves, Público, 19 de agosto) equipara esta condenação à reação do primeiro imperador cristão a governar o Império Romano (Teodósio) que aboliu os Jogos Olímpicos como manifestação pagã. Curiosamente, os dois articulistas, tão distantes, concordam com essência pagã dos Jogos. César das Neves é um reacionário no melhor sentido da palavra: alguém que se bate para que as tradições e valores milenares não sejam extirpados pelo último vento da moda. Rui Tavares é um revolucionário (julgo) no melhor sentido da palavra: alguém que se bate para que as tradições e valores milenares não aprisionem o futuro. Ambos são necessários: uns impedem que o pêndulo balance demasiado lentamente, outros que balance demasiado rapidamente.
3.Paridade. Este é um terreno minado, pelo que convém ser muito claro. As mulheres têm as mesmas capacidades intelectuais que os homens. Em particular, não existe qualquer razão para supor que uma mulher ‘gestora de topo’ seja menos competente do que um homem ‘gestor de topo’, antes pelo contrário. Mas a escassez de mulheres conselhos de administração não reflete necessariamente e em toda a sua dimensão discriminação. Pode refletir, por exemplo, que a proporção de mulheres disposta a investir tudo o que é necessário para subir ao topo da escada corporativa é inferior à dos homens. Desagrada-me a ideia avançada pelo secretário de Estado Eduardo Cabrita de impor quotas por género nas empresas privadas cotadas na bolsa. Que o faça, se desejar, nas empresas que o Estado controla e na administração pública. As empresas privadas têm por objectivo criar valor para os seus acionistas e se estes destroem esse valor quando se privam do talento feminino serão penalizados onde lhes dói mais: na carteira.