A ideia foi lançada pelo ex-líder do PSD Marques Mendes na Universidade de Verão do partido: é preciso aumentar os vencimentos dos governantes para atrair os melhores. “O barato sai caro. Os melhores não vão para a política”, alertou o ex-ministro, garantindo que “há ministros que Passos teve que foram segundas, terceiras ou quartas escolhas e secretários de Estado que foram as sextas ou sétimas”.
A proposta feita pelo ex-líder do PSD só se aplica aos governantes, porque ao contrário dos deputados estão obrigatoriamente em regime de exclusividade, mas nem assim colhe apoios no PSD e no PS. O argumento dos deputados dos dois maiores partidos é que ninguém iria compreender que os políticos fossem aumentados em tempo de crise.
Fernando Negrão, deputado do PSD, afasta qualquer mexida nas remunerações dos políticos enquanto o país não conseguir sair da crise. “Enquanto não tivermos crescimento económico e uma situação mais estável do ponto de vista das nossas contas é uma questão que não deve ser resolvida dessa forma”, diz ao i o presidente da comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas.
Negrão reconhece que há “recusas de pessoas que têm mais vantagens noutras atividades”. Mas isso não faz com que, perante “os baixos salários dos portugueses e a situação do país”, este seja o momento para aumentar os vencimentos dos governantes, conclui. Duarte Marques, deputado do PSD, alinha com o argumento de que “enquanto Portugal não sair desta crise” os políticos não devem ser aumentados, porque “o exemplo deve vir sempre de cima”.
"Não faz sentido" Não muito diferente é a opinião do deputado socialista João Torres. “Não faz qualquer sentido”, diz ao i o líder da JS, que não quer ouvir falar em aumentos para os políticos “depois de quatros anos de políticas de austeridade que foram profundamente nocivas para a população no seu conjunto”. João Torres, que também pertence à Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas, não tem dúvidas de que “este não é o momento para discutir aumentos. No futuro, a remuneração dos políticos poderá ser alvo de um debate mas no âmbito de “uma reflexão mais alargada sobre o exercício de responsabilidades públicas no nosso país. Essa problemática não pode ser abordada de forma isolada”.
Os ordenados dos políticos são um tema sensível, principalmente desde que os portugueses foram afectados por pesadas medidas de austeridade. Ninguém esconde, porém, que é difícil competir com o privado. António Pires de Lima, por exemplo, ganhava dez vezes mais na Unicer do que como ministro da Economia. “É um misto do sentido de dever moral com o sentido de realização”, disse ao “Observador” o ex-ministro, que voltou à atividade privada assim que terminou o mandato do governo liderado por Passos Coelho.
Cortes Os vencimentos dos políticos foram alvo de cortes em 2010 pelo governo de José Sócrates. A proposta foi feita pelo PSD e contou com o apoio do agora Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. “Cortar salários num momento de crise, acho muito bem, os políticos devem dar o exemplo”, disse, na altura, o comentador político da TVI.