Depois do arame farpado, as milícias anti-imigrantes. A polícia húngara publicou anúncios esta sexta-feira em que oferece três mil lugares de “caçadores de fronteira”, um cargo novo que deve reforçar o contingente de dez mil polícias que já patrulham a fronteira com a Sérvia, onde todos os dias cerca de 200 pessoas atravessam as barreiras erguidas pelo Governo de Viktor Orbán para impedir a circulação de requerentes de asilo e imigrantes.
Estes “caçadores de fronteira” transportarão armas de fogo, algemas, gás pimenta e bastões, mas não serão considerados polícias. Terão seis meses de treino e nos dois primeiros meses vão receber cerca de 480 euros, um salário que depois crescerá para a ordem dos 700 euros, de acordo com a BBC. Para entrarem na nova força miliciana, os candidatos têm de passar um teste psicológico.
A Hungria inaugurou praticamente todas as medidas antimigração que mais tarde se generalizaram nos Balcãs no êxodo de centenas de milhares de pessoas que fugiam da guerra civil na Síria, Iraque ou Afeganistão. Construiu uma vedação de arame farpado, rejeitou as quotas de distribuição de refugiados da Comissão Europeia – vai referendar a colocação de 1300 pessoas – e recentemente criminalizou a passagem irregular de fronteira.
Nos primeiros dias do êxodo de 2015, grupos de nacionalistas húngaros formaram esquadrões de patrulha de fronteira, que agiam muitas vezes com violência, publicando vídeos de alerta a requerentes de asilo que procuravam cruzar o país. Algumas delas, escreveu então a Human Rights Watch, estavam ligadas a figuras do próprio Governo húngaro, em particular dos ministérios do Interior e Defesa.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, afirma que a entrada de milhares de muçulmanos na Europa põe em risco “a cultura europeia, que tem raízes cristãs”. Em acampamentos improvisados na fronteira com a Sérvia esperam hoje menos de 500 pessoas por uma oportunidade de rumar ao norte da Europa — o Governo húngaro permite apenas a passagem de 30 pessoas por dia.