Depois dos Jogos Olímpicos, que acabaram por ser um êxito e não a desgraça que se profetizava (desde a organização às ameaças de contágio pelo vírus zika, passando pelos avisos de atentados terroristas, houve de tudo), o Brasil voltou esta semana a ser palco de outro espetáculo, mas político, transmitido em direto para todo o mundo: o julgamento e deposição da Presidente da República. Isto depois de o Brasil já ter deixado meio mundo boquiaberto com a indescritível balbúrdia do seu Parlamento, quando este aprovou a abertura do processo de destituição.
Sejamos justos: se todos todos os governantes perdessem o mandato por mascararem as contas públicas e autorizarem despesas não orçamentadas, como Dilma Rousseff foi acusada e por isso condenada, a classe política de quase todos os países estaria reduzida aos mínimos.
Cada país tem a sua lei e o facto é que no Brasil esses procedimentos são considerados ilegais e têm uma sanção política. Mas, independentemente de concordarmos ou não que houve esses crimes, há três aspetos que merecem realce. O primeiro é que a lei pode ser atropelada em qualquer esquina, sujeita às interpretações que mais convêm. Veja-se, a propósito, como após terem considerado provado que Dilma cometeu crimes de falsificação das contas públicas e decidirem destituí-la, os senadores aprovaram uma espécie de perdão de uma parte da pena (a perda de direitos políticos por oito anos). Como se estivessem com má consciência do que tinham acabado de fazer.
Em segundo lugar, Dilma é destituída pelos seus pares, muitos deles suspeitos ou já incriminados por corrupção, o que não acontece com ela.
Finalmente, a agora ex-Presidente revelou uma força física e psicológica impressionante. Ela que esteve presa cerca de três anos e foi torturada durante a ditadura militar, nos anos 70 do séc. XX, defendeu-se das acusações no plenário do Senado, num julgamento que durou dias, com uma estoicidade e tenacidade notáveis.
Mas Dilma cometeu muitos erros, sim, que lhe foram fatais. Mais recentemente, a nomeação de Lula para o seu governo, como forma de lhe conferir imunidade para fugir à Justiça. Além de ter fechado os olhos e ter pactuado durante anos com os esquemas de corrupção que alastraram durante a sua governação, sendo impossível não saber como os mesmos alimentaram o PT e as suas próprias campanhas.