Muitas coisas acontecem no Espaço e algumas delas deixam-nos perplexos. Uma delas é o facto de os astronautas que passam muito tempo fora da Terra crescerem. Mas como é que isto acontece?
Segundo estudos feitos pelos cientistas da NASA, os astronautas podem crescer até 3 por cento da sua altura após algum tempo a viver num ambiente com microgravidade – onde existe a sensação de ausência de peso. Ou seja, uma pessoa com cerca de 1.80 metros pode ganhar até cinco centímetros enquanto se encontra numa órbita.
O astronauta canadiano Chris Hadfield descreveu esta sensação no seu livro “Guia de um Astronauta para Viver Bem na Terra”. Hadfield participou em três missões espaciais, a última delas com uma duração de 146 dias, a bordo da Estação Espacial Internacional. “Foi surpreendente descobrir que aos 53 anos tinha crescido três a cinco centímetros”, escreveu o astronauta.
Scott Kelly é outro dos casos mais conhecidos. Após quase um ano na Estação Espacial Internacional, o astronauta norte-americano cresceu cerca de cinco centímetros, ficando mais alto do que o seu irmão gémeo.
Mas porque é que este fenómeno acontece? Segundo os especialistas da NASA, a respostas está nos discos intervertebrais (presente entre as vértebras, que se articulam umas com as outras de modo a dar rigidez e flexibilidade à espinha dorsal): na Terra, estes são ligeiramente comprimidos devido à força gravitacional. No Espaço, essa compressão não ocorre, fazendo com que haja uma expansão dos discos. Isto resulta num alongamento da coluna vertebral e, consequentemente, num aumento da altura da pessoa.
Este ‘crescimento’ desaparece rapidamente – basta passar algum tempo na Terra para que a gravidade comece a ‘funcionar’ e a comprimir os discos, fazendo com que a pessoa regresse à sua altura normal.
O corpo é que paga Com o passar dos anos, os cientistas começaram a perceber que apesar de usarem fatos especiais desenhados para prevenir quaisquer problemas, os astronautas chegavam a terra firme com um corpo muito diferente do que tinham meses antes.
“Giant steps are what you take/ Walking on the moon/ I hope my legs don’t break/ Walking on the moon”. Em 1979, os Police cantavam os medos dos primeiros astronautas, mas não sabiam que estavam também a falar sobre as mazelas que muitos profissionais podem vir a sofrer. Não no Espaço, mas sim no regresso a casa.
Para perceber melhor estes fenómenos, especialistas do National Space Biomedical Research Institute (Estados Unidos) e da NASA decidiram estudar o corpo de Scott Kelly e compará-lo com o do seu irmão gémeo, Mark, também ele astronauta, mas há um ano em terra. Assim, os cientistas tentam agora encontrar as seguintes alterações: Ossos mais frágeis: os astronautas não andam no espaço, flutuam. Por isso, os ossos das pernas, das ancas e da coluna começam a não suportar tão bem o peso. Isto pode fazer com que os ossos se partam com mais facilidade.
Músculos mais fracos: a falta de movimentação das pernas e das costas pode levar a um atrofiamento e enfraquecimento dos músculos.
Problemas de circulação: o sangue tem mais facilidade em circular na parte de cima do corpo, fluindo com uma maior dificuldade nas extremidades inferiores.
Coração mais pequeno: O coração não tem de trabalhar tanto no Espaço. Com o tempo, este fenómeno pode levar à sua diminuição. Teme-se também que a radiação espacial afete as células endoteliais – células que cobrem os vasos sanguíneos.
Problemas de equilíbrio: O ouvido interno deixa de funcionar normalmente. Com a chegada à Terra, os astronautas podem ter dificuldade em manterem-se direitos, andar ou virar a cabeça.
Aumento do risco de cancro: Os astronautas estão expostos a altos níveis de radiação, o que pode desencadear problemas cancerígenos.
Quantos anos tens agora? Uma coisa é certa: uma ida ao Espaço ‘desajusta’ o nosso relógio biológico. Ao ponto de os astronautas regressarem do Espaço mais novos. Segundo o site ScienceAlert, Scott Kelly regressou à Terra ‘mais novo’ do que o seu irmão gémeo. E tudo isto se explica com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein.
Einstein defendeu – e as investigações posteriores vieram a confirmar isso mesmo – que o tempo passa mais devagar para os objetos em movimento do que para os que se encontram estáticos. Para além disso, o tempo também ‘custa mais a passar’ para os objetos que se encontram mais próximos de uma massa gravitacional como a Terra. Este fenómeno é conhecido como dilatação do tempo.
Ou seja, quem está no Espaço vive o tempo de uma forma completamente diferente de quem fica por cá. Quanto mais rápido nos mexemos, mais rápido o tempo passa. Como Scott Kelly andou pelo Espaço a cerca de 28 000 km/h, viveu menos cinco milissegundos que o irmão.