A abertura oficial do encontro dos G20 na China teve a habitual fotografia de grupo e o discurso otimista do anfitrião, neste caso o presidente Xi Jinping, que ontem pediu aos líderes dos países mais poderosos do mundo que evitassem “conversas vazias” e se dedicassem a acalmar os mercados globais voláteis e à estagnação do comércio mundial. “Contra os riscos e os desafios que a economia mundial enfrenta, a comunidade internacional tem grandes expectativas para o G20”, afirmou Jinping em Hangzhou, no Leste da China, no primeiro de dois dias de encontros, depois de ter formalmente ratificado o Acordo Climático de Paris com os Estados Unidos.
Mas sob a epiderme diplomática de ontem palpitavam ainda os incidentes entre responsáveis chineses e jornalistas norte-americanos no sábado, um espelho da instável convivência entre os Estados Unidos e a China.
O primeiro incidente deu-se logo que Barack Obama aterrou no aeroporto de Hangzhou, de onde partiu depois para um encontro preliminar com Xi Jinping, onde os dois líderes discutiram as tensões militares no Mar do Sul da China. À chegada do Air Force One, não havia uma escada alta que permitisse a Obama sair da porta principal da aeronave, forçando-o a usar a barriga do avião como alternativa – algo que só acontece em locais de grande risco. Quando a comitiva de jornalistas americanos tentou fotografar a saída do presidente, foram impedidos por responsáveis chineses de segurança.
De acordo com o “Washington Post”, um responsável da Casa Branca disse, em suma, que aquele era o seu avião e o seu presidente. “Este é o nosso país, o nosso aeroporto”, respondeu um responsável chinês.
Aconteceu um segundo incidente no complexo dimplomático onde Obama e Xi se encontraram horas depois, novamente entre jornalistas e responsáveis governamentais chineses. Os últimos argumentavam que não havia espaço para todos os jornalistas, enquanto os primeiros exigiam ocupar um local que aparentemente estava livre. Segundo o “Washington Post”, o caso acabou quase à pancada entre responsáveis chineses.
Obama desvalorizou os dois casos e argumentou que a China tem uma relação diferente com os jornalistas. “Nós pensamos que é importante que a imprensa tenha acesso ao trabalho que fazemos”, afirmou, depois do longo encontro com Xi Jinping, que se prolongou pela noite dentro.
Nessas horas de conversa discutiu-se o verdadeiro ponto de contenção entre os dois países: não a ordem do comércio global, mas o Mar do Sul da China.
Obama e Xi consideram-no um local estratégico e imprescindível. Por lá passa um terço do comércio marítimo global e Pequim reclama direitos sobre grande parte da extensão marítima, onde construiu ilhas artificiais com instalações militares.
Os EUA, por sua vez, defendem as reivindicações dos países vizinhos e enviou para a zona uma frota com um porta-aviões.