Caixa: António Domingues ameaça investigar fugas de investigação

Para o novo presidente da Caixa só alguns diretores é que poderiam ter tido informações sobre a situação interna do banco do Estado

O novo presidente da Caixa Geral de Depósitos, António Domingues, esteve reunido na quinta-feira com diretores de topo do banco e revelou que vai abrir internamente investigações em relação a eventuais fugas de informação, apurou o i. Esta “ameaça” criou algum mau estar entre os diretores da Caixa, tanto que o encontro ocorreu um dia depois de ter assumido a liderança do banco estatal. Contactado pelo i, António Domigues disse apenas que “não comenta assuntos internos da Caixa Geral de Depósitos”. 

Uma das fugas de informação diz respeito à divulgação dos testes de stress à instituição financeira por parte do Banco Central Europeu (BCE) em que o banco chumbou no cenário mais adverso. Essa informação foi avançada pelo “Jornal de Negócios” no dia da reunião que António Domingues teve com os diretores.

De acordo com o jornal, as insuficiências foram apontadas no cenário mais adverso dos testes, ou seja, aquele em que é testada a capacidade de resistência dos bancos face a choque económicos agressivos, salienta o jornal económico – como no caso de uma recessão acumulada no PIB de 5,3% nos próximos 3 anos, a par de uma desvalorização do preço das casas na ordem dos 12% entre 2016 e 2018.

Neste cenário, a CGD precisaria de dois mil milhões de euros. Um valor compensado uma vez que o plano de recapitalização ronda os 5200 milhões de euros, um envelope financeiro já aprovado por Bruxelas e para o qual o Estado contribuiu com 2700 milhões.

Dados privilegiados Outra fuga de informação diz respeito aos comentários feitos por Luís Marques Mendes na SIC ao ter dito que tinha tido acesso a uma carta enviada pelo Banco Central Europeu (BCE) à Caixa Geral de Depósitos (CGD), a 8 de junho, na qual este levantava algumas questões, além de deixar vários avisos e alertas. E é depois de ter conhecimento do seu conteúdo que concluiu que existia  “um braço de ferro” entre o BCE, por um lado, e governo e o novo presidente da Caixa. 

“O que publicamente foi dito é que a CGD terá 19 administradores”, afirmou Marques Mendes no seu espaço de comentário habitual na SIC. “Só que o BCE contesta este número e recomenda um máximo de 15. Em que ficamos?”, questionou.  Esses números acabaram por ser mais tarde confirmados oficialmente.

No entanto estas duas informações – resultados dos testes de stress e o número final de administradores – para António Domingues só poderão ter sido revelados pelos trabalhadores do banco, já que têm acesso a informações privilegiadas. Daí querer avançar com a tais investigações. 

O novo presidente da Caixa aproveitou também para dizer aos diretores de topo que conhecia “bem” a realidade da instituição financeira, pois antes de entrar em funções já tinha tido todo acesso aos dossiers. 

O que é certo é que António Domigues ainda não tinha assumido a liderança do banco do Estado e já estava nas instalações da CGD em reuniões. 

O novo presidente apresentou a sua demissão da administração da NOS um dia antes de assumir a liderança do banco através de uma carta enviada ao mercado e que foi enviada ao Mecanismo Único de Supervisão do BCE, pelo Banco de Portugal.

A nova administração da CGD conta com uma administração de apenas 11 membros, dos quais sete executivos. Mas é intenção do governo reforçar o plantel de não executivos ainda este ano.

O BCE exigiu a 3 administradores que tivessem formação no INSEAD em formação bancária, nomeadamente em matérias relacionadas com as regras de Basileia III. São eles João Tudela Martins, Pedro Leitão e Paulo Silva, pelo que deverão estar, numa primeira fase, mais ausentes.