A Escola de Quadros teve início na quinta-feira e, este ano, coincidiu com a Universidade de verão do PSD.
O CDS está a fazer a sua Escola de Quadros quando sempre fez, no primeiro fim de semana de setembro. Fiquei surpreendido de isso ter acontecido, para o ano será outro ano e logo se verá.
Houve algumas críticas relativamente à escolha de algumas pessoas para a Escola de Quadros, nomeadamente a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Como olha para estas críticas?
Sou o responsável pelos convites feitos para a Escola de Quadros, que é uma iniciativa pensada para jovens e para transmitir alguns aspetos fundamentais: a tolerância em relação a diferentes opiniões, a capacidade de ouvir e a capacidade de argumentar. A ideia é que haja posições contraditórias e por isso pensei na escolha da prof. Maria de Lurdes Rodrigues.
É uma pessoa que exerce funções docentes, foi alguém que marcou a Educação nos últimos anos e que estes jovens têm presente porque não foi ministra há 20 anos. Tem ideias diferentes das do CDS – fui opositor claríssimo no Parlamento –, mas sempre foi uma pessoa com capacidade de ouvir e de debater. Foi isso que quis transmitir a estes jovens e curiosamente deles não veio uma única crítica.
Paulo Portas também irá participar na Escola de Quadros. Acha saudável para a vida política que o vice-primeiro-ministro que andou pelo mundo a vender empresas portuguesas se torne assalariado de um desses grandes grupos?
Curiosamente, essa pergunta era feita quando Paulo Portas veio para a política. Aquilo que tenho a certeza é que quer no jornalismo, quer na política, Paulo Portas foi competente e tenho a certeza que no mundo empresarial também o será. O facto de se exercer de forma competente variados cargos gera sempre comentários no nosso país quando há alguma alteração de vida – não sei bem porquê. Não vejo problema nenhum em que um político depois exerça cargos de natureza empresarial ou de consultoria ou de conferencista pelo mundo fora.
Há críticos que falam numa ligação entre a ida do CDS ao congresso do MPLA e Paulo Portas. O CDS teria ido de qualquer maneira ao congresso?
Estas várias polémicas só existem porque estamos no último dia de agosto, isto é, são efeitos da silly season. Não me parece que seja um tema relevante, nem que se devam valorizar excessivamente.
Não estranha a representação do CDS no congresso do MPLA?
Também lá estava o PS, o PSD, e essa pergunta é feita exclusivamente ao CDS. Ainda não vi uma única pergunta a partidos que tiveram como representantes vice-presidentes partidários ou presidentes de partidos, como foi o caso do PS. E os socialistas ainda levaram aquela que é assumida como a número dois do partido.
Outra das questões deste verão foi a Caixa Geral de Depósitos. Acha que o Governo foi humilhado pelo BCE?
A gestão política feita em relação a esta matéria foi desastrosa. Não acho normal que se perceba que o ministro das Finanças tem uma ideia em relação àquilo que deve ser o futuro da Caixa e o primeiro-ministro tem outra. Se um dia eu tivesse que dar um manual de como gerir mal um dossiê, a escolha do da CGA era imediata.
É dirigente do Gabinete de Estudos do CDS. Que tipo de trabalho fazem?
O Gabinete de Estudos existe para estudar e trabalhar propostas, para depois as apresentar à direção do partido, que depois faz delas o que bem entender. Já apresentou propostas na área do envelhecimento ativo, da Segurança Social e está a trabalhar propostas na área da educação, das relações entre Portugal e a Europa. Várias vezes ouvimos o Presidente da República falar na necessidade de pactos e eu vejo os pactos como positivos. O CDS já avançou em inúmeras vezes com propostas para que eles sejam possíveis. Infelizmente, temos ido contra uma parede composta pela atual maioria, que fala muito deles mas não os quer fazer. Desde logo porque também tem dificuldades de fazer pactos verdadeiros dentro de si própria.
O PS acusou-vos de lançar um pânico infundado em relação à Segurança Social. Continuam a insistir numa reforma?
Nós continuamos a defender reformas na área da Segurança Social, da Saúde, e da Justiça, entre outras. Continuaremos a trabalhá-las, aguardando. Chegará o dia, quando houver eleições, em que teremos não apenas um caderno de encargos para apresentar, mas sobretudo um passado positivo. Agora, fazemos aquilo que a nossa força permite já que neste momento somos um partido da oposição.
Aquilo que me parece é que o primeiro-ministro não consegue mais do que gerir o dia-a-dia e as potenciais discordâncias dentro da sua maioria que dão sempre em nada. Continua a concordar em medidas de austeridade, o que não deixa de ser espantoso, como o aumento de impostos – vimos isso no último orçamento.
Esta maioria é feita de um cenário, de um teatro constante. O primeiro-ministro contribui também para esse cenário e como está muito preocupado com isso, não tem tempo para as coisas mais importantes.
Está a referir-se ao arrependimento de Catarina Martins?
Ainda não percebi bem qual é esse arrependimento. Já passaram vários dias sobre a entrevista e continuam a apoiar o atual Governo. Se calhar o arrependimento é por não terem uns lugares de ministros e de secretários de Estado.
Fala numa gestão do dia-a-dia. Não vê medidas para o futuro?
Não vejo porque elas não existem. E não existem porque esta associação de forças que se faz para manter um Governo é completamente contranatura. Há ali diferenças muito grandes, mas é preciso manter um Governo e é pura e simplesmente isso que une PS, BE e PCP. Um dia poderá ruir, não me parece que seja para os próximos tempos. Aliás, estou convencido que, mais uma vez, estamos a assistir a conflitos que são artificiais em relação ao próximo Orçamento do Estado e, na hora da verdade, lá estarão a entender-se em aumentos de impostos, em medidas de austeridade e que não facilitam o crescimento da economia.
Assunção Cristas disse que António Costa está para durar. Prevê uma longevidade da geringonça?
Não prevejo que existam problemas internos nesta esquerda que quer manter-se no Governo independentemente de as medidas que estão a tomar serem bastante erradas. Temos por um lado o PS, que está no Governo, e outros dois partidos que, em 40 anos de democracia, nunca apoiaram um governo e que ainda estão naquela fase de gostar de o apoiar. Fazem um discurso para o seu eleitorado, mas depois tomam medidas contrárias àquilo que os seus simpatizantes mais fervorosos pretendem.
O CDS estaria disponível para dialogar com o PS?
Esse cenário nem sequer se coloca. Com quem o PS quer falar é com o PCP e com o BE e como nós de facto pensamos de maneira diferente desses dois partidos, a conversa torna-se difícil. Coisa diferente é a abertura para que existam pactos.
Na entrevista ao Público, Nuno Melo fala na possibilidade de haver eleições antecipadas devido a um buraco na economia.
É um cenário teoricamente possível, mas mesmo aí esta lógica de Sr. Feliz e Sr. Contente, provavelmente se manteria. Um dia em que tenhamos eleições, António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins irão a votos com a herança do tempo que durar este Governo.
O INE reviu o crescimento económico para 0,9%. Acha que isto é uma consequência das políticas económicas do atual Governo ou do anterior Governo?
A herança do anterior Governo ainda é o que faz crescer a economia. Aquela ideia de que poderíamos fazer crescer a economia, aumentando o consumo de tudo e de todos, como se vê, só serviu como travão ao crescimento da economia.
O que acha que fará a economia crescer?
Uma política virada para o investimento, para as empresas, para a criação de riqueza, para a exportação, para a capacidade de termos uma produção cada vez mais solidificada. Crescer como se cresce em Espanha, que está numa crise política há um ano e tem níveis de crescimento económico incomparáveis com os portugueses. Os dois países estão em crise política, um porque não tem Governo, outro porque tem um mau Governo.
O Presidente da República tem sido cuidadoso nas suas declarações, nomeadamente no que diz respeito ao crescimento económico.
O Presidente da República é aquilo que verdadeiramente une os portugueses. Mais do que o Governo, mais do que alguma vez aconteceu na história da nossa democracia – e de uma forma discreta, inteligente. Tenho a certeza absoluta que Marcelo Rebelo de Sousa já conseguiu que alguns fogos fossem apagados. Infelizmente, o Presidente não pode estar todos os segundos atrás do Governo ou do primeiro-ministro para que não façam disparates.
O Presidente tem sido crítico deste Governo?
Umas vezes, sim, outras não, mas isso é natural. Uma das preocupações que o Presidente tem de ter é com a estabilidade do sistema político e mim parece-me razoável que se veja a estabilidade com horizontes largos. Marcelo tem feito aquilo que lhe compete e a própria oposição não tem contribuído para a instabilidade. O fator de instabilidade em Portugal é o Governo. Nunca fui defensor de um Presidente criador de problemas, seja num governo à direita, seja num governo à esquerda.
Entrevista publicada na última edição impressa do Semanário SOL, a 3 de setembro