O dispendioso lodaçal da elite financeira portuguesa

Se há uma evidência que os portugueses interiorizaram na última década, com um misto de estupefação e indignação, é que a elite financeira do país em que vivem não se recomenda. 

Se há uma evidência que os portugueses interiorizaram na última década, com um misto de estupefação e indignação, é que a elite financeira do país em que vivem não se recomenda. Oliveira Costa levou à falência o BPN(com uma fatura de 5,2 mil milhões de euros para o Estado), João Rendeiro fechou as portas do BPP (com custos públicos de 450 milhões), a família Roque provocou a implosão do Banif (e uma intervenção de          3 mil milhões do Estado), Ricardo Salgado e a família Espírito Santo fizeram ruir o BES(obrigando a uma injeção de 4,9 mil milhões) e, agora, a CGD pública veio retirar mais 5 mil milhões aos bolsos dos contribuintes.

É um somatório assustador de incompetências, gestões clientelares e corruptas, trocas de favores e de posições de poder, mordomias indecorosas e estatutos de impunidade dos que eram os Donos Disto Tudo. Um somatório de 19 mil milhões de euros afundados no lodaçal da banca. 19 mil milhões representam mais de 10% do PIB nacional.

Dariam para pagar aos funcionários públicos não só um 15.º mês como um 16º e por aí fora até ao 29.º mês de salário… É tanto dinheiro que o cidadão comum perde a noção da gravidade do que está em causa e da monstruosidade da verba.

Estes dez anos vieram revelar-nos que muitos dos nossos banqueiros – de Oliveira Costa a Ricardo Salgado, de Santos Ferreira a Armando Vara – não têm escrúpulos, são indiferentes aos desprovidos de poder (vejam-se os dramas dos lesados do BES e do Banif) e alimentaram artificialmente um tecido empresarial que, além de viver encostado aos poderes políticos e financeiros, assenta em práticas delituosas e desvituadoras da concorrência (vejam-se as dívidas incobráveis de centenas de milhões de empresas como a Ongoing, construtoras como a Mota-Engil ou figuras como Joe Berardo, Luís Filipe Vieira ou José Guilherme).

Ainda há quem defenda a tese de que ‘o barato sai caro’ e é preciso pagar bem aos gestores para ter qualidade e competência. Foi com essa lógica que agora se pôs fim aos tetos salariais para a nova administração da CGD. Ora, olhando para a última década e para o cadastro dos nossos banqueiros, essa tese e estes ordenados milionários parecem cada vez mais difíceis de sustentar.