Há um certo paralelismo entre a evolução da economia em Portugal e em Itália desde meados do século XX. Entre 1951 e 1963 a economia da Itália cresceu, em média, 6 por cento ao ano; na década seguinte (1964-1973) a média situou-se em 5 por cento. Foi o chamado ‘milagre económico italiano’.
Na história económica portuguesa o maior período de crescimento aconteceu na década anterior ao primeiro choque petrolífero, 1973. A Itália e Portugal beneficiaram, então, do forte crescimento europeu nessa época e de ambos os países terem participado na integração europeia – a Itália na CEE, Portugal na EFTA.
Infelizmente, as semelhanças que agora existem entre as economias de Portugal e de Itália são negativas. Desde a viragem do século – ou seja, desde a entrada em vigor do euro – que nos dois países a economia está quase estagnada. Portugueses e italianos não souberam responder às exigências do euro, sobretudo à impossibilidade de ganhar competitividade com desvalorizações cambiais. Tal impossibilidade, que passou a existir com o euro, tornou necessárias reformas para competir no mercado global com uma moeda relativamente forte, como é o euro.
Mas o reformismo não é um imperativo sentido pela maioria em sociedades onde o poder dos lobbies leva a que, quase sempre, triunfem os interesses instalados, como é o caso português e italiano. Quando falo em lobbies não estou a pensar apenas em grandes grupos económicos; também contam aí forças sindicais e grupos profissionais – taxistas em Itália, por exemplo.
Renzi, primeiro-ministro de Itália desde há dois anos e meio, apostou em reformas. Mas os resultados obtidos são insuficientes, pelo menos por enquanto. E Renzi está a perder popularidade para o partido populista de Beppe Grillo.
Por cá, o Governo PSD-CDS ficou aquém do desejável em matéria de reformas, a começar pela do Estado. Agora, com um Governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco, as reformas são uma miragem, imperando as ‘reversões’ e o taticismo de curto prazo.
O nível de desemprego em Itália é semelhante ao português: um pouco acima de 11 por cento da população ativa. E ambos os países sofrem de crédito malparado. Este, em Itália, atinge níveis colossais: 360 mil milhões de euros, cerca de um quinto do PIB; três quartos desse montante são dívidas de empresas, a maioria das quais de pequena e média dimensão. Lá, como cá, muitos bancos continuaram a dar crédito a empresas inviáveis, renovando-o para não registarem prejuízos nas suas contas.
Essa prática tem algo a ver com uma outra semelhança entre Itália e Portugal. Segundo o FMI, liquidar uma empresa em Itália demora, em média, oito anos. Assim, os bancos evitam recorrer aos tribunais para cobrar dívidas.
A Itália tenta enfrentar o problema do malparado dinamizando um mercado de títulos desse crédito. Mas, alerta o semanário The Economist, há aqui um problema: os bancos não aceitam vender crédito malparado por menos de 40 por cento do valor original da dívida, enquanto os potenciais compradores só querem pagar 20 por cento.
Seria bom que as semelhanças entre a economia italiana, a terceira maior da zona euro, e a mais pequena economia portuguesa voltassem a ser positivas. Mas não se vislumbram no horizonte sinais de que tal se concretize.
P.S. – Esta coluna vai três semanas para férias