Acordo entre EUA e Rússia sobre a Síria traz esperança (mas depende de Moscovo)

Plano prevê cessar-fogo de sete dias seguido de ataques coordenados a posições extremistas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, anunciaram no passado sábado um acordo conjunto sobre a Síria que prevê um cessar-fogo, a partir desta segunda-feira, com uma duração de sete dias.

A suspensão dos bombardeamentos aéreos durante este período servirá para arquitetar um conjunto de ataques coordenados, que serão iniciados a partir da próxima semana, contra as áreas controladas pelo Estado Islâmico e pela al-Nusra, ao mesmo tempo que permite que as organizações humanitárias no terreno intervenham nas zonas mais fustigadas pela guerra, como a cidade de Alepo.

“Hoje, os Estados Unidos e a Rússia anunciam um plano que esperamos possa reduzir a violência, reduzir o sofrimento e abrir caminho rumo a uma paz negociada e uma transição na Síria”, começou por partilhar o representante dos EUA, citado pelo “New York Times”, numa conferência de imprensa no sábado, em Genebra, ladeado pelo seu homólogo russo. Para o chefe da diplomacia norte-americana, este plano pode tornar-se um “ponto de viragem” numa guerra que dura há quase cinco anos e já provocou quase 300 mil mortes, caso venha a ser seguido de forma efetiva.

Uma das novidades trazidas pelo discurso de Kerry tem a ver com uma eventual mudança de atitude face a Bashar al-Assad, já que revelou que espera que o líder sírio “cumpra as suas obrigações” e os termos do cessar-fogo e que “trabalhe em conjunto” com a comunidade internacional no processo de transição rumo à paz.

Embora o acordo de cessar-fogo traga esperança para uma eventual resolução que ponha fim à guerra civil na Síria, a sua execução dependerá, principalmente, da ação de Moscovo, argumenta o “Washington Post”.

Para este jornal, “a estratégia dos EUA parece estar inteiramente dependente da boa-fé russa”. Isto porque, defende, no caso de os rebeldes sírios – muitos deles apoiados pelos norte-americanos – quebrarem o cessar-
-fogo, o exército russo poderá responder militarmente.

Mas se forem as forças de Assad a não cumprir a suspensão dos ataques, os EUA não têm um mecanismo de retaliação, uma vez que a administração Obama não quis entrar no conflito diretamente contra as forças do regime. Neste sentido, “Moscovo tem mais poder que Washington” para determinar se poderá haver paz.