Daniel Bessa foi hoje a Coimbra às jornadas parlamentares do PSD falar sobre uma das palavras mais ouvidas nos últimos dias "crescimento". O Presidente pede mais crescimento, o Governo promete mais crescimento, o PSD e o CDS criticam o fraco crescimento. O ex-ministro de António Guterres acha, porém, que essa pode ser uma batalha perdida. E avisa que o caminho pode estar numa receita adoptada pelo ministro de Cavaco, Mira Amaral, que "pagou" para trazer a Auto Europa para Portugal.
"O tema do crescimento aparece como solução para tudo", apontou Bessa, lembrando uma discussão que houve em Portugal nos anos 80 sobre a sustentabilidade da segurança social. "Depois de uma enorme discussão, pôs-se toda a gente de acordo: crescendo", recordou, para ilustrar a tese de que "crescer" para ser a fórmula mágica para todos os problemas nacionais.
O problema dessa fórmula é que, como sublinhou o economista, "desde o início do século, somos uma das economias que menos cresceu no mundo".
Daniel Bessa acha mesmo que nas últimas décadas, só os anos 60 e depois a partir de 1985 – com a adesão à União Europeia – houve momentos de crescimento sustentável. O que a economia cresceu por exemplo em meados dos anos 90, com António Guterres, foi na opinião do seu ex-ministro de forma "insustentável", através de um crescimento "muito puxado pelo défice privado e público".
Então, haverá solução? "Eu sou daqueles que acha que na vida nem tudo se resolve", confessou o professor universitário, e lembrado o "período de crescimento muito baixo" que se vive na Europa e constatando que há países, como Japão, que historicamente têm crescimentos baixos, apesar de terem economias estáveis e maduras.
Na Europa, Daniel Bessa acha que "o BCE não pode fazer mais" e que, neste momento, "o BCE é um problema", porque "as taxas de juro zero ou negativas são um problema".
Onde ainda haveria margem para políticas de estímulo, acredita o economista, é "na frente orçamental", na qual a Alemanha poderia ter um papel fundamental.
Políticas de estímulo "à escala de 10 milhões de tesos" são uma "patetice"
"Sou amigo de políticas de procura, agora não sou amigo de políticas de procura à escala de 10 milhões tesos e endividados", afirmou, explicando que tentar crescer estimulando o consumo "à escala de Portugal é uma patetice".
"O lugar do morto num Governo em Portugal é o do ministro da Economia", sentenciou, para em seguida explicar que um dos governantes que mais impacto positivo teve em termos económicos foi, em seu entender, Mira Amaral enquanto ministro da Economia.
Como? Pagando para atrair o investimento da Auto Europa e obrigando a empresa a trazer os seus fornecedores para Portugal. O que não resulta, argumenta Bessa, é continuar a achar que investimento é betão. "Esse investimento colapsou e colapsará por muito tempo".
Pagar para trazer capital estrangeiro para Portugal? "É negócio, puro e simples. Não vejo mal nenhum", conclui, explicando que não bastam qualidades como a estabilidade e a segurança para trazer os investidores. "É preciso pagar".