Nós próprios qualificámos como uma escolha sensata, inteligente e lúcida das forças políticas europeias de centro-direita para suceder a Durão Barroso – que completara o seu segundo mandato (impossibilitado, pois, para se candidatar a um terceiro, atendendo à regra da limitação de mandatos que vigora para o Presidente da Comissão) e se encontrava profundamente desgastado, em virtude das crises e turbulências que teve de gerir, sobretudo, no seu segundo mandato. Durão Barroso era, na óptica dos europeus, a figura mais visível da austeridade, do rigor orçamental, das medidas restritivas de direitos, do alegado “retrocesso civilizacional” tão anunciado pela esquerda.
Parece agora que Juncker, Moscovici, Hollande e Merkel se esqueceram dos profundos laços de admiração e estima que mantiveram com Durão Barroso ao longo de quase duas décadas. Parece agora que os “quatro da vida airada” europeia se aperceberam que Durão Barroso não passa de um perigoso lobbysta, de um homem desprovido de ética e de convicções.
Barroso mais não é, afinal, do que um homem que equaciona apenas as suas conveniências, descartando as suas convicções e procurando estar sempre ao lado dos mais fortes. A sério, Angela Merkel? Realmente, Sr. Juncker? Está a brincar connosco, Sr. François Hollande (na verdade, o Senhor é tão politicamente incompetente que nem sequer sabe brincar com competência: seria uma brincadeira demasiadamente bem conseguida para ser da sua autoria!).
Ou seja: os visionários líderes europeus precisaram de quase uma década para descobrir aquilo de que muitos portugueses já desconfiavam há muito tempo. Aquilo que alguns portugueses detectaram em poucos meses sobre a personalidade de Durão Barroso – parece, pois, que os líderes desta União Europeia, os “todos poderosos” deste nosso continente, precisam de lições de ciência política do nosso “Zé Povinho”. Talvez se possa convidar Angela Merkel, François Hollande ou Juncker para participarem numa Universidade de Verão organizada pelo povo português…
Dito isto, Juncker, com muita pena nossa, não passa de uma “anedota seca”, como se diz na gíria: todas as palavras proferidas pelo Presidente da Comissão Europeia soam a piada de classe B ou C. Ouvir Juncker falar de moralidade, de ética, de exemplo de distanciamento entre poder político e poder económico – só pode ser uma piada digna de um catedrático de humor negro. Juncker é produto de uma União Europeia sem liderança política, sem visão, presa aos interesses de uma Angela Merkel sem o fulgor de outros tempos – e de um François Hollande débil como sempre. Se a União Europeia se levasse a sério, O Parlamento Europeu deveria propor um “impeachment” a Jean-Claude Juncker e impor-lhe uma reforma antecipada tranquila no Luxemburgo. Aguentará a União Europeia mais três anos com Juncker como Presidente da Comissão? Duvidamos muito…
Porquê as críticas tão assertivas e humilhantes de Juncker a Durão Barroso? Por duas razões essenciais:
- O facto de Durão Barroso ser português e trabalhar para uma empresa norte-americana. Veja-se o exemplo de Romano Prodi: é italiano e foi trabalhar para um banco europeu. Já alguém ouviu alguma crítica ou sequer uma suspeição suave em torno da idoneidade ou da seriedade de Prodi? Nem uma. Os líderes políticos alemães e franceses têm dificuldades em aceitar o sucesso internacional de personalidades portuguesas. É assim no futebol, nas artes, no cinema e na política. Não percebem como é que um país pequeno geograficamente como Portugal consegue alcançar lugares e posições que nenhum alemão ou francês consegue! O que revela desconhecimento da história: Portugal já registou inúmeras vitórias sobre franceses e mesmo sobre alemães. Portugal foi sempre um país enorme – enorme em talento, enorme em genialidade, enorme em espírito e alma. Durão Barroso – não obstante as críticas políticas (e muito duras, por vezes) que lhe dirigimos – é um homem com qualidades intelectuais, habilidades políticas e com um enorme talento negocial. Pense-se nos meios diplomáticos: por todo o mundo, José Manuel Durão Barroso recebe largos elogios pelas qualidades pessoais, humanas e seu conhecimento superior das regras da diplomacia e da história dos vários povos. Portugal (não obstante a simpatia pessoal que cada um possa ter em relação ao político Durão Barroso) deve ter orgulho pelo facto de Barroso jogar no onze inicial da equipa favorita à vitória da “Champions League” do sistema financeiro internacional. Significa que há um português que é dos melhores – e isso prestigia Portugal. Porque se não fosse um português, seria um alemão, seria uma qualquer Merkel ou um qualquer Schroeder. Onde andava a Senhora Merkel quando Schoreder foi compensado pela Rússia (pelas opções de política externa que tomou enquanto chanceler alemão) com um lugar luxuosamente remunerado na Gazprom? Andava distraída? E para onde irá François Hollande quando deixar a Presidência francesa no próximo ano? Os ataques de Bruxelas a Durão Barroso justificavam-se pelo facto de…Barroso ser português. E é pena que partidos portugueses – como o BE, e menos o PCP – alinhem ao lado de François Hollande ou Angela Merkel contra um português e, logo, contra Portugal;
- Por outro lado, a guerra contra Durão Barroso justificava-se pelo facto de Barroso ter ingressado numa empresa norte-americana. O que, aliando à coincidência temporal dos ataques ao TTIP e à condenação da Apple (quase sempre pelas mesmas personagens!), permite concluir que este é mais um episódio da “guerra comercial” que a Alemanha e a França estão a mover contra os EUA. Guerra que explica, ainda, a determinação da Alemanha em vetar a candidatura de António Guterres ao cargo de Secretário-Geral da ONU. O processo de descredibilização de Durão Barroso tem o propósito claro de prejudicar a imagem externa de Portugal – com o intuito de afectar a credibilidade e a força da candidatura de António Guterres. Porque Angela Merkel quer ter uma candidatura (como seria Giorgieva) que lhe desse cobertura institucional à sua política de acolhimento de refugiados. Quer que a ONU assuma as exigências e os condicionalismos alemães – já que domina a União Europeia, Angela Merkel quer ganhar mais protagonismo na ONU. Esta atitude da Alemanha é, sob o ponto de vista das relações entre Estados, lamentável e altamente censurável. Esperemos que a diplomacia portuguesa assuma uma posição firme na defesa dos interesses de Portugal, fazendo valer a sua indignação junto do Embaixador alemão em Portugal. Angela Merkel está a jogar muito feio…
E isto mostra o quão ingrata é Merkel: depois de deixar cair José Sócrates, o qual sempre defendeu a chanceler e as suas orientações; agora é a vez de Merkel humilhar Durão Barroso, o qual foi, durante anos, um fiel aliado da Alemanha e da França de Sarkozy na Comissão Europeia. A humilhação que estão a impingir a Durão Barroso é desumana – até pela circunstância de coincidir com o período de luto que a família de Durão Barroso está a viver.