Os instruendos do 127.o curso de Comandos do Exército Português – interrompido desde o dia 4 de setembro devido à morte de dois militares e hospitalização de outros quatro – vão hoje retomar as atividades, informou ontem o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira.
A decisão de prosseguir o curso já tinha sido comunicada pelo Exército na semana passada. Para tal, os 61 militares que não receberam tratamento hospitalar devido ao “golpe de calor” que vitimou os recrutas no domingo, no Campo de Tiro de Alcochete, foram reencaminhados para o Centro de Saúde Militar de Coimbra, onde foram sujeitos a uma avaliação clínica ainda no decorrer da semana passada, sabe o i. Logo na sexta-feira, todos os militares já tinham ido ao médico e o Exército apenas esperava pelos resultados dos exames e das análises clínicas para que o curso fosse retomado.
Ontem, o Exército divulgou que nenhum dos recrutas “revelou contraindicações clínicas que impeçam a continuidade do curso (excluindo, naturalmente, os militares que estão ou estiveram internados no Hospital das Forças Armadas e que continuam o seu processo de recuperação)”, pelo que todos vão retomar hoje as atividades.
Segundo o Exército, os militares foram também entrevistados individualmente por um clínico. Para além dos exames ao estado geral de saúde dos instruendos, foram ainda realizadas avaliações da “degradação de funções específicas”, como é o caso das funções renais e hepáticas, destruição muscular e alterações hidroeletrolíticas [que permitem avaliar, de uma forma simplista, a entrada e saída de água e eletrólitos no corpo humano]. “Os resultados dos exames foram avaliados por médicos de medicina desportiva, internistas, cardiologistas e ortopedistas”, revelou a repartição de comunicação do Exército em comunicado.
Apesar de os militares do 127.o que terminarem as restantes semanas de instrução ainda poderem receber a boina encarnada – um dos símbolos dos comandos –, serão, por tempo indeterminado, os últimos a fazê-lo. Os futuros cursos de comandos estão suspensos até à “conclusão da inspeção técnica extraordinária” pedida pelo general chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, em articulação com o ministro da Defesa, Azeredo Lopes.
Tanto o Ministério Público como a Polícia Judiciária Militar investigam o caso.
QUARENTA DESISTIRAM Desde 2014 que há um estágio de quatro semanas que antecede o curso propriamente dito, explicou ao i Vicente Pereira. O alargamento do estágio – em que os militares recebem maioritariamente treinos físicos – surgiu após o Exército detetar uma “elevada taxa” de desistências e lesões logo nas provas iniciais do curso, disse o tenente-coronel.
Os números do 127.o batalhão não são exceção à regra. Nas quatro semanas de estágio que antecederam o fatídico domingo, 4 de setembro, 40 militares já tinham desistido. O curso – que, recorde-se, se tinha iniciado formalmente no sábado, a 3 de setembro – começou com 67 militares. Hoje, 61 deverão retomar a instrução.