Assunção encrista-se a Medina. Com Freitas do Amaral?

1.Assunção Cristas anunciou a sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Bem: perspicaz no timing do anúncio, inteligente na decisão, inspirada no discurso.

1.1.Perspicaz no timing do anúncio, na medida em que se antecipa ao PSD (e tudo indica com uns meses de vantagem) e aproveita as fragilidades e erros infantis de Fernando Medina (o anúncio de Assunção Cristas coincide com o pior momento de sempre do socialista que ainda lidera o executivo da capital portuguesa). A um Fernando Medina fraco e desgastado – opõe-se  agora uma Assunção Cristas com vitalidade e impositiva. À imagem de incompetência de Fernando Medina, opõe-se a imagem de rigor e competência de Assunção Cristas. Tudo a correr bem ao CDS, portanto, neste particular.

1.2.Inteligente na decisão. Assunção Cristas sabe que as transições de líderes carismáticos (como é Paulo Portas) são sempre traumáticas: as pessoas, sobretudo os militantes, habituaram-se a um estilo, a uma postura, a uma forma de estar e fazer política. E, não obstante alguns (habituais) desaires ou momentos menos felizes da liderança anterior, as pessoas confiavam e sabiam que Paulo Portas, mais tarde ou mais cedo, levaria o CDS a resultados eleitorais muito positivos. Foi assim em 2002 nas legislativas, após um resultado não tão positivo nas autárquicas; foi assim em 2009, nas europeias e depois consecutivamente nas legislativas do mesmo ano e em 2011.

Ou seja: sempre que o CDS tremia, desconfiava ou entrava em paranóia eleitoral – Paulo Portas aparecia e resolvia. Agora, a situação não pode deixar de ser apreensiva para os militantes do CDS: têm consciência que Paulo Portas encerrou um ciclo político da sua vida, não sendo mais cogitável um seu regresso à liderança do partido (os seus objectivos políticos passam por outra Presidência e outro Palácio!) – mas também ainda não estão seguros de que Assunção Cristas seja a pessoa indicada para prosseguir o ciclo de crescimento do CDS legado por Paulo Portas. Neste sentido, Assunção Cristas – inteligente e sempre sensata, como é – percebe que o caminho para as legislativas ainda poderá ser longo (está nas mãos da geringonça) e que, pelo meio, realizar-se-ão eleições autárquicas.

Eleições autárquicas, essas, que são historicamente adversas para o partido democrata-cristão. Um resultado negativo no próximo ano poderia exponenciar o sentimento de descrença dos militantes do CDS na liderança de Assunção Cristas, precipitando o ressurgimento do sempre presente, Nuno Melo. E Assunção sabe muito bem que a estratégia de Nuno Melo é aguardar pelas autárquicas para fazer o balanço da liderança…No fundo, Nuno Melo ainda pensa em replicar o caminho percorrido por Paulo Portas em 2006 – lembre-se que foi um péssimo resultado nas autárquicas de 2005 que fez a liderança de José Ribeiro e Castro entrar em absoluta agonia.

1.3.Inspirada no discurso. Apelando à sua infância, adolescência e vida familiar na cidade lisboeta, às suas raízes familiares em Lisboa, mostrando que Lisboa é uma parte da sua vida – e até uma faceta da sua personalidade. Mostrou que Lisboa está entranhada na vida, no ser, na felicidade da candidata. Ora, Assunção Cristas estabelece, assim, uma diferença fundamental com o actual Presidente, Fernando Medina – este socialista é aquilo que se convencionou designar como “ um pára-quedista”. Caiu em Lisboa de pára-quedas, devidamente alugado por António Costa, vindo do Porto –e, sem saber como, o poder caiu-lhe ao colo. O que leva amigos de Fernando Medina – como Manuel Serrão – a dizer que o admiram muito porque “é um portuense que conquistou Lisboa”. O discurso de apresentação de Cristas funcionou muito bem – recupera um sentimento de paixão pela cidade, pela sua identidade própria, que vai muito além do discurso de “betão” e de “confusão” de Fernando Medina.

2.Por último – e já perspectivando a estratégia futura de Assunção Cristas – apurámos que o CDS pode estar a reservar uma surpresa para anunciar em breve: o regresso de Diogo Freitas do Amaral ao partido. E logo como mandatário da candidatura de Assunção à Câmara Municipal de Lisboa. Os dois têm falado nos últimos dias e o regresso pode mesmo vir a concretizar-se no final deste ano ou no início do próximo. Única dificuldade: a saúde de Diogo Freitas do Amaral, a qual poderá recomendar precauções e uma vida com uma calmaria incompatível com a política.

3.O que é certo é que Assunção Cristas quer Freitas do Amaral – porque lhe permitirá deslocar o CDS para o centro, conferindo-lhe a natureza de partido mais moderado, retirando votos ao PSD e até ao PS. E Freitas do Amaral quer ajudar Assunção Cristas – a verdade é que o Professor de Direito arrepende-se de figurar entre os ex-Ministros de José Sócrates e conotado com um certo PS.

Como cultor da História, Freitas do Amaral sabe que o seu legado ficará muito marcado pela última imagem. Esta é, pois, a oportunidade de se reconciliar com a sua família política de origem – e apagar, tanto quanto possível, a sua aproximação ao PS de José Sócrates.