Duas horas depois de as autoridades sírias terem declarado o fim das tréguas, as áreas controladas pelos rebeldes na cidade de Alepo foram sujeitas a um forte bombardeamento. Correspondentes locais, citados pela agência France Presse, falam de um bombardeamento “non stop”.
O acordo de tréguas conseguido com a mediação da Rússia e dos Estados Unidos da América (EUA) foi denunciado pelo regime de Bashar al-Assad depois de a aviação americana ter bombardeado posições do exército sírio na localidade de Deir Ezzor, no leste do país, provocando a morte de 80 militares e ferimentos em mais 100. Esta localidade estratégica está cercada por combatentes do Estado Islâmico. O bombardeamento da coligação dirigida pelos EUA foi feito nas vésperas de ser acionada uma alínea da trégua que previa que as ações aéreas de russos e norte-americanos fossem coordenadas entre ambos. Depois do ataque da força aérea americana, a Rússia convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, e declarou que suspendia a cooperação militar entre os dois países no conflito sírio.
Na sua declaração de fim da trégua, feita na manhã de segunda-feira, as autoridades de Damasco acusam os rebeldes sírios de terem violado o cessar-fogo em mais de 300 ocasiões. O regime sírio afirma que os rebeldes “não respeitaram uma única disposição” do acordo. Segundo comunicado do exército sírio citado pelo diário francês “Le Monde”, a trégua que agora as forças de Damasco denunciam era “uma oportunidade real de acabar com o derramamento de sangue, mas os grupos armados terroristas desprezaram este acordo”. No mesmo sentido vão as declarações das autoridades russas. “Tendo em conta que os rebeldes não respeitam o regime de cessar- -fogo, o seu cumprimento unilateral pelas autoridades sírias não tem sentido”, afirmou segunda-feira, ao início da tarde, o general do exército russo Serguei Roudskoi.
Pelo seu lado, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, lamentou a situação: “Não tivemos [sequer] sete dias de calma para encaminhar a ajuda humanitária [às populações sitiadas]”, como previa o acordo de tréguas.
O acordo de tréguas assinado em Genebra a 9 de setembro previa que, numa primeira fase, cessassem hostilidades entre o exército sírio e os rebeldes, excluindo o Estado Islâmico e as forças ligadas à Al-Qaeda; e numa segunda fase, as forças armadas dos EUA e da Rússia deviam cooperar diretamente para derrotar o Estado Islâmico. O acordo, que fazia prever um mecanismo de transição política na Síria, foi aceite a contragosto por Damasco, por pressão dos seus aliados de Moscovo. O bombardeamento americano às posições sírias, para além de reforçar o Estado Islâmico na localidade, veio dar o argumento para o fim das tréguas.
Mais de 300 mil pessoas já morreram desde o início da guerra civil na Síria, em março de 2011.