1) Não conhecemos Sebastião Bugalho pessoalmente, pelo que desconfiamos da referência à pessoa de “trato cordial”. Julgamos que nos encontrámos uma vez em sessão pública e dele guardamos uma imagem muito positiva. Portanto, o nosso juízo provisório (porque só falámos uma vez) sobre as pessoas não se muda em função dos humores matinais ou do seu grau de concordância com o que defendemos. Continuamos a achar que Sebastião é uma pessoa simpática e bem formada. Nem mudamos a opinião – que temos partilhado com várias pessoas – que Sebastião Bugalho poderá ser uma referência do jornalismo português no futuro. Tem perfil, tem background, tem conhecimentos, tem inteligência para o ser – e mantemos exactamente a nossa opinião, apesar do ataque de carácter (que, note-se, não foi um ataque político, nem uma mera discordância opinativa) que, contra nós, Sebastião aqui, no SOL, fez;
2) Pergunta o autor do texto se nós temos vergonha. Respondemos, clara e secamente: não, não temos vergonha. Defender aquilo em que acreditamos, mesmo se contra a opinião maioritária – nunca é (nunca pode ser) motivo de vergonha. A palavra usada remete, desde logo, para uma censura sectária e fanática da opinião alheia, própria da esquerda (e da direita) intolerante. Sectarismo e fanatismo que Sebastião Bugalho nunca havia revelado nos seus textos – pelo contrário, este autor tem-se pautado pela defesa do liberalismo, da direita cosmopolita, tolerante e democrática. Nesta medida, Sebastião Bugalho (trato-o pelo nome completo, e não apenas pelo primeira, porque assim mandam as regras da cortesia, quando se trata de uma missiva, ainda que pública, entre pessoas que não se conhecem pessoalmente) tem-se revelado uma lufada de ar fresco no panorama jornalístico português: que bem têm feito os seus artigos para a afirmação dos valores do demoliberalismo e da liberdade (e moderação) política em Portugal, nos últimos tempos! Vergonha é trocar a opinião – rectius, a liberdade – em troca de algo ou da expectativa em torno de algo. Coisa que nem nós, nem Sebastião Bugalho, fazemos. Enfim, a referência a “vergonha” foi um dislate infeliz. Mas quem é que não teve infelicidades ao longo da vida? E nunca se deixou de se ser competente e inteligente por isso…;
3) Diz Sebastião Bugalho – repetindo uma ideia que já foi usada, usada novamente e usada ainda mais uma vez em qualquer blogue anónimo – que o nosso texto foi uma “lambidela” na mão de José António Saraiva. Pois bem, perguntámos a nós mesmos: mas será que Sebastião Bugalho tem lido os nossos textos? Sebastião Bugalho responde: acha os meus títulos engraçados e as análises criativas. Está explicado: como acha tanta piada aos títulos, o humor e o riso excessivo – está provado! – tem um efeito distractivo, diminui a capacidade cerebral de concentração e análise cuidada. Por isso, Sebastião Bugalho ignora que se há pessoa que discordou inúmeras vezes de José António Saraiva (quando era director do SOL, portanto, quando tinha poder executivo), essa pessoa é o autor destas linhas. Senão, vejamos. Discordámos de José António Saraiva quanto aos méritos do Governo Passos Coelho; discordamos quanto à apreciação da recta final dos mandatos de Cavaco Silva; discordamos quanto às virtudes políticas de Marcelo Rebelo de Sousa; discordamos quanto a vários episódios da “geringonça” como, por exemplo, no caso do Secretário de Estado Rocha Andrade. E até discordamos – veja bem! – quanto a Cristiano Ronaldo ser o melhor jogador de futebol do mundo e quanto à apreciação, totalmente diferente, que temos em relação aos méritos de Jorge Jesus como treinador! E estes são apenas exemplos de que me lembro de repente! E discordámos publicamente: sem encenações, nem conversas de bastidores. Para “lambidelas” de mão, são discordâncias a mais – no próprio jornal de que José António Saraiva era director, precisamente no tempo em que exercia funções executivas! Sabe qual é a diferença? É que mesmo quando alguém discorda de nós, nos responde publicamente e nós exercemos o contraditório – se essas divergências forem racionalmente fundadas e inteligentemente expendidas, essa pessoa merece a nossa maior admiração. Não críticas pessoais, nem ataques de carácter: admiração, embora possamos democraticamente divergir. Se admiramos José António Saraiva? Admiramos. Mas já admirávamos muito antes de colaborarmos com o SOL – e divergimos diversas vezes nos comentários. Como escreve (e muito bem), se José António Saraiva fosse seu director, escreveria um artigo crítico, exercendo a mesma liberdade que José António Saraiva exerceu ao escrever e publicar o seu último livro -e exactamente a mesma liberdade que nós exercemos para escrever o texto. Vê? Quem ganhou? A liberdade. Como liberais que somos, só podemos estar felizes…Juridicamente, para alguém (como Sebastião Bugalho) que diz filiar no pensamento jurídico e político britânico e norte-americano, o livro de José António Saraiva estaria protegido pela “tradição constitucional” e pelos precedentes do Supremo Tribunal, os quais têm dado prevalência à liberdade de expressão mesmo contra a reserva da intimidade da vida privada (quando em causa estejam figuras públicas). Claro: mas racionalmente e mediante uma retórica discursiva dialéctica – não com insultos ou ataques de carácter – os quais só desqualificam quem os profere;
4) Por último, há que ficar muito claro o seguinte: ao contrário de Sebastião Bugalho que pode abrir a porta do gabinete de José António Saraiva e do Director do SOL, como o próprio conta no seu texto, nós não podemos. Precisamente porque não trabalhamos no edifício do SOL – nem nunca entrámos sequer no edifício do SOL. Mais: não conhecemos pessoalmente José António Saraiva. O autor do texto que Sebastião Bugalho tanto critica, afirmando ser uma “lambidela” na mão, nunca esteve pessoalmente com o autor do livro “Eu e os políticos”. Não temos o número de telemóvel, não temos a morada, não conhecemos a família, nunca almoçámos ou jantámos…nada! Zero. O que nos liga a José António Saraiva? Só a estima pessoal e a admiração enquanto leitor. Nada mais. Portanto, os ataques de carácter são totalmente gratuitos – e muito aquém da personalidade, da inteligência e da formação de Sebastião Bugalho. Precisamente, porque sabemos que o autor vale muito mais do isto, lemos o seu texto, em jeito de carta a nós dirigida, apenas com bonomia. Esperando pela próxima. Aguardando que venha o Sebastião Bugalho, que vale a pena ler e que recomendo vivamente aos leitores. Às sextas-feiras, no jornal “i” (que está cada vez melhor: notável trabalho de Mário Ramires, Vítor Rainho e a insubstituível Ana Sá Lopes – ou também não posso elogiar, sob pena de estar a “lamber” mãos?).
Não podemos deixar, no entanto, de notar que pessoas normalmente inteligentes, como Sebastião Bugalho, caíram no erro de se concentrar no acessório – e esquecer o essencial. E o essencial passa pelas revelações que explicam muita coisa do período de José Sócrates como Primeiro-Ministro, que têm inequívoca relevância política e histórica, as quais passaram completamente despercebidas! Mais uma vez, a direita normalmente inteligente caí numa armadilha infantil, perdendo toda a autoridade e credibilidade. Este tem sido o drama da direita – mais uma vez, a História repete-se.
Por nós, este assunto morre aqui – já cansa e é irrelevante. O que importa é o Orçamento de Estado, a economia que não cresce e o fanatismo da esquerda. Sobre eles, esperamos que Sebastião Bugalho escreva. Não se confunda o “Bugalho” de hoje (infeliz e de ofensas pessoais gratuitas, à la caixas de comentário anónimas) com os “Bugalhos” – o autor que brilhantemente tem ajudado os leitores do “i” a pensar sobre os problemas que a todos afligem. Todas as semanas. Aguardemos por sexta-feira! Pelo verdadeiro Sebastião Bugalho!
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