Mariana Mortágua, importa dizê-lo, parece estar a desempenhar bem o seu papel. Catapultada para a ribalta por demonstrados dotes parlamentares, vai arrastando o Partido Socialista (PS) e o seu Governo para a agenda do BE que, recorde-se, colheu nas eleições de 2015 o voto de 1 em cada 10 eleitores.
O BE vai também colhendo, assim, os “louros” da governação, continuando a nunca assumir a responsabilidade, o escrutínio e as dificuldades da mesma. Isso fica para os outros. O BE substitui-se ao Governo, atira os foguetes, apanha as canas e, vergando o PS em posições de envergadura, consegue impor-se aos mais de 70% de eleitores que votaram em projetos com traves mestras comuns não radicais.
Já António Costa continua a viver o impasse que sente desde que assumiu a função de Primeiro-Ministro e passou a governar com uma maioria assente no 2.º partido da Assembleia da República e na extrema-esquerda. Não gostando de depender de terceiros, acresce agora que se vê sequestrado pela agenda da esquerda radical. Mas António Costa sabe que se quiser deixar este casamento vai perder o Governo e o lugar de Primeiro-Ministro. Assim, e essa tem sido a sua decisão até agora, vale mais aguentar e sujeitar o País a um inverno político, e económico-financeiro, e tentar evitar um novo resgate…
Um pouco ao jeito de Jeremy Corbyn, o líder que parece estar a conseguir quase fazer desaparecer o Partido Trabalhista do mapa da governabilidade do Reino Unido, António Costa percebe bem o caminho que está a fazer e os custos que o mesmo tem e terá. Custos para Portugal. Mas também para o PS.
Há um ano António Costa teve perante si o dilema de enveredar por um de dois caminhos. Um deles seria o da procura de soluções de estabilidade para o País, aproveitando a oportunidade histórica de ser exigido um consenso que podia ser um tónico reformador de largo e perene alcance protagonizado pelos partidos que garantiam a governabilidade e os valores de Abril na democracia portuguesa. O outro seria o caminho que lhe permitiria ser Primeiro-Ministro: mas para isso iria ter de se aliar àqueles que só lhe podiam oferecer uma glória breve com sabor a fim de festa, desde logo porque descomprometidos das grandes linhas da genética do PS e dos partidos da governabilidade.
Tudo isto pode ser encarado com algum desprendimento. Mas os números da economia, e os do investimento, e os das exportações, e outros tantos, e o que isso significa para o todo nacional, em especial no plano social e do emprego, devem inquietar-nos e levar-nos a dizer-lhe: – António Costa, até quando? Fale por favor com a Mariana e diga-lhe, a bem do País e do PS, “Mariana, o problema não és tu, sou eu…”.