Foi quase com uma sensação de alívio que o anúncio da candidatura de Assunção Cristas à presidência da Câmara de Lisboa foi recebido no passado dia 10 na rentrée do CDS-PP em Oliveira do Bairro.
Aquilo que muitos previam e outros tantos ansiavam desde o último congresso centrista concretizava-se. A campanha busca a afirmação da nova liderança e do partido enquanto “alternativa sensata” na oposição ao governo do PS.
Longe da capital e das televisões, ocupadas com a cobertura dos incêndios que assolam o país e com uma noite de jogos de futebol, houve uma nova frase que se destacou na intervenção da líder. Nos cartazes que ladeavam o palco onde Cristas discursava lia-se o novo slogan: “Pela positiva”.
A ideia pretende romper com a imagem contida do PSD, que opta por não apresentar propostas para o Orçamento do Estado de 2017. O CDS quer afirmar-se longe do catastrofismo do discurso de Passos, mais próximo da direita sorridente de Marcelo.
A postura mais proativa das hostes centristas verificou-se, por exemplo, nas intervenções de João Almeida e Cecília Meireles na Assembleia da República na semana passada, reagindo à proposta conjunta do Bloco de Esquerda e do governo para um imposto sobre o património.
Almeida acusou o Partido Socialista de ser um “neobolivariano”, uma referência às preferências ideológicas da esquerda portuguesa pela Venezuela. De acordo com o deputado do CDS, o Bloco de Esquerda tornou-se “na lavandaria da porcaria que o governo faz”, estando longe “dos problemas reais”.
O PCP também não escapou à ofensiva de João Almeida que “são dos maiores proprietários” mas não se mostram abertos à tributação em sede IMI no que toca aos partidos políticos.
O tom mais agressivo do CDS-PP não passou despercebido no parlamento. O objetivo é também “denunciar o crescente protagonismo de dirigentes do Bloco, como Mariana Mortágua”, assume fonte dos centristas. Mortágua integra o grupo de trabalho conjunto com o PS que produziu a proposta de taxação ao património e apresentou-a minutos antes de um deputado socialista, Eurico Brilhante Dias.
A ‘defesa da classe média’ passa, na nova abordagem do CDS, por um ataque cerrado aos partidos da esquerda da Assembleia.
Querem meter-nos a defender os ricos
No Largo do Caldas, a ideia é colar o governo à extrema-esquerda, invocando o crescente protagonismo de Mortágua na agenda fiscal. “Este imposto, nestes moldes, não se aplica a nada. Querem tentar meter-nos a defender “os ricos” mas não caímos nessa. Queremos é saber mais”, diz uma fonte centrista.
“A ideia passa por responsabilizar estes partidos pelos danos que estão a causar ao eleitorado moderado, até porque não estão habituados à pressão de governar”, acrescenta. A vertente construtiva e “sensata” e “pela positiva” será, naturalmente, encabeçada por Cristas. A ‘tropa de choque’ contra a esquerda virá dos deputados.
“Tem que haver pragmatismo e sensatez, seja para o país, seja para Lisboa e ela quer mostrar isso”, resume um dos membros da Comissão Política Nacional.