FC Porto e Sporting. Hoje à noite no conforto do lar…

A jornada n.º 6 abre hoje com a recepção a Boavista e Estoril, respetivamente. Adversários melhores era difícil.

Com duas horas de diferença, FC Porto e Sporting entram hoje em liça procurando esquecer os resultados bisonhos do último fim-de-semana, com empate em Tondela face ao lanterna-vermelha por parte dos azuis e brancos e derrota dolorosa em Vila do Conde por parte dos leões. Convenhamos: resultados ainda mais dolorosos no anoitecer da segunda-feira, após a vitória do_Benfica sobre o Braga que isolou os encarnados na liderança de um campeonato que vem prometendo desde a pré-época ser um dos mais renhidos de todos tempos. Logo se verá se a profecia se cumpre ou se algum dos chamados Três Grandes terá golpe de asa para fugir aos rivais antes de a luta se atirar para a confusão das jornadas derradeiras.

Que ninguém é campeão à quinta jornada, todos sabemos, e a frase pode ser repetida até a exaustão sem correr o risco de ficar desactualizada. Mas que cada pontinho amealhado, tanto por aqueles que têm o título na mira, como por aqueloutros que mais humildemente estrebucham para não descer, é uma espécie de maná dos deuses que merece ser amealhado como de dobrões de ouro se tratassem, eis uma outra verdade que o senhor de La Palice não desdenharia de assinar nem no dia em que se viu morto, frente a Pavia, tal como conta o verso antigo.

FC Porto primeiro porque joga antes, em casa, frente ao_Boavista, 12º classificado para já, um lugar que lhe fica bem se tivermos em conta as dificuldades que estas suas duas épocas de regresso à I_Liga acarretaram para um clube que vegetava nos escalões terciários. Podem bem exclamar – «Mas é um “derby”» – que vou ali e já venho. Mesmo não me esquecendo o que o Boavista de Petit foi fazer às Antas no campeonato que passou. Depois de deixar dois pontos em Tondela, lá para os lados de Lafões onde predomina a vitela, e que não deixará de ter sido sentido nas hostes portistas como um grande galo, nova escorregadela deixaria Nuno Espírito Santo metido numa verdadeira camisa de onze varas e os adeptos a tremer como varas verdes.

Por isso, hoje, pelas 19h00, tem o FC Porto de dar ao pedal e levar de vencida o seu vizinho da Avenida da Boavista, tal como esperam mais ou menos todos e, a não, ser surpreenderia a maioria.

Por seu lado, duas horas mais tarde, em Alvalade, o_Sporting de Jorge Jesus, com mais farronca ou menos farronca, tem tarefa idêntica, só que face ao Estoril, que soma até agora apenas quatro pontos, frutos de uma vitória e um empate, nada de muito assustador para uma equipa que se revelou, até ao naufrágio no rio Ave, a mais equilibrada do campeonato. Recupera-se o equilíbrio ou não no reino do leão? Daqui a pouco saberemos a resposta, mas não há que ter medo de atribuir, tanto ao_FC_Porto como ao Sporting, total favoritismo em jogos contra adversários perfeitamente torneáveis. Tudo o que não sejam duas vitórias – mais ou menos claras, para o caso pouco importa, é de pontos que estamos a falar – é como se fossem derrotas. Sobretudo num final de semana que leva, amanhã, pelas 18h15, o líder a Trás-os-Montes com as vicissitudes que decorrem de se ver frente a frente com a única equipa – tirando o próprio Benfica – que ainda não sabe o que é uma derrota.

É evidente, límpido como uma manhã de sol sobre o Tejo, que há de creditar mais complicações aos encarnados do que aos seus dois companheiros de jornada nesta luta renhida pelo primeiro lugar na tabela. E, assim sendo, cabe a dragões e leões lamberem as feridas deixadas tanto pela ronda europeia como pela consequente ronda nacional. Não sei, sinceramente, se haveria dois adversários mais propícios para isso. Boavista e Estoril não são pródigos em golos e os canarinhos têm mesmo um ataque pior do que defesa. Aquilo que fizeram até ao momento não levanta, que pareça, sinais de alerta. Pelo que, no conforto do lar, FC Porto e Sporting têm um fim de tarde e uma noite de sexta que podem dar trabalho, mas nada de exigente e excessivo. Nada melhor para quem tremeu como tremeu faz agora uma semana. E para quem tem de se preparar para novas tarefas europeias já na próxima terça-feira.

Sabemos que as equipas portuguesas exibem uma certa alergia a estes contínuos confrontos, que metem jogos ao ao sábado e ao domingo e, depois, á terça e à quarta, o que as faz antecipar desafios, como acontece hoje, sempre que possível. Algo que não é fácil de entender quando vemos, por exemplo, logo aqui ao lado, em_Espanha, para não irmos mais longe que sempre se poupa no preço, Real, Barcelona e Atlético (estes, anteontem, curiosamente, um contra o outro), jogarem á quarta e ao domingo em semanas que precedem jogos da Liga dos_Campeões.  Os maus hábitos são fáceis de aprender e difíceis de largar. Algum dia, os confrontos europeus terão de ser encarados com a normalidade das coisas que devem fazer parte da vida natural de clubes com ambições. Até lá, continuaremos a ouvir falar de focos, de desconcentrações e demomentos menos conseguidos como se o futebol não fosse sempre o mesmo, claríssimo e lúdico como só ele. FC Porto e_Sporting estão hoje sob a atenção dos seus adeptos entusiastas.  Resta saber se já estão definitivamente cicatrizadas as feridas recentes que lhes rasgaram a pele quase até ao osso.