São sete candidatos, é verdade, mas em França ninguém acredita que a luta pela nomeação para a corrida ao mais alto cargo político do país, seja entre outros que não o ex-presidente Nicolas Sarkozy e o atual presidente da Câmara de Bordéus, Alain Juppé. O primeiro é o favorito dentro do partido conservador, mas o segundo conta com mais apoios junto da sociedade civil. As eleições primárias dos Republicanos estão marcadas para os dias 20 (primeira volta) e 27 (segunda volta) de novembro e estão abertas a todos os simpatizantes do partido.
Ao conservador que sair triunfante desta luta juntar-se-ão, na corrida ao Eliseu, os candidatos dos restantes partidos, e todos irão a votos em abril de 2017. Se ninguém conseguir a maioria absoluta, será marcada uma nova disputa para o cargo de presidente da República Francesa, mas apenas entre os dois candidatos mais votados.
Face à quebra acentuada de popularidade do partido socialista – que ainda não oficializou qualquer candidatura, embora François Hollande já tenha dado sinais de que vai concorrer à reeleição -, o grande rival da direita poderá vir a ser, muito provavelmente, o maior partido francês de extrema-direita, a Frente Nacional. A confirmar-se este cenário, estará em perspetiva uma eventual disputa final, na segunda volta das presidenciais, entre Marine Le Pen e o candidato dos Republicanos.
É nesta linha de pensamento que as primárias do partido conservador ganham uma importância única. A France 24 acredita que o vencedor daquelas será “claramente favorito a ganhar a eleição no próximo mês de maio”, data prevista para a segunda volta das presidenciais.
Não é de estranhar, portanto, que os dois principais favoritos, Sarkozy e Juppé, estejam a centrar os seus discursos em temas que poderão interessar aos potenciais eleitores da Frente Nacional, como o combate ao terrorismo, a imigração ou o peso da comunidade islâmica no país, numa tentativa de os chamar para a sua causa.
Numa visita, na quarta-feira, à “Selva” de Calais, campo de refugiados situado naquela localidade francesa – às portas do Eurotúnel, que liga a França ao Reino Unido -, Sarkozy garantiu, segundo a BBC, que se forem tomadas em conta as suas propostas – que incluem a deportação imediata dos migrantes que virem os seus pedidos de asilo rejeitados -, “no final de 2017, o problema da ‘Selva’ estará resolvido”.
Nesta e noutras matérias, o antigo presidente tem adotado uma postura mais rígida, tendo defendido, por exemplo, a suspensão do direito de reunião familiar como meio para travar a mais recente onda de imigração, ou mais restrições na atribuição de cidadania francesa.
“Se alguém quer tornar-se francês, deve viver como um francês”, proclamou Nicolas Sarkozy na segunda-feira, citado pela France 24, para depois exigir às mesmas pessoas que aceitem os “antepassados gauleses” de França. “Não voltaremos a tolerar uma integração que não funciona, vamos exigir assimilação”, prometeu ainda. Para o antigo chefe de Estado, este é o único caminho para a criação de uma sociedade “livre da tirania das minorias” e “fiel à cultura francesa”.
Alain Juppé, por outro lado, é visto em França como um moderado e até parte à frente de Sarkozy nas intenções de voto. Caso vença a contenda dentro do partido Os Republicanos, caber-lhe-á a tarefa de convencer o eleitorado do centro (e da esquerda, quem sabe) a votar nele. Mas antes dessa batalha há que derrotar o discurso nacionalista do seu antigo chefe – Juppé foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Sarkozy entre 2011 e 2012.
“O que significa essa assimilação?”, questionou Juppé no canal France Info, acusando o ex-presidente de estar a querer forçar as “pessoas a serem todas iguais”. “Nós não somos todos iguais e temos de respeitar a nossa diversidade”, explicou. Para o autarca de Bordéus e ex-primeiro-ministro do governo de Jacques Chirac, a integração na sociedade francesa deve ser o mais pluralista possível, no sentido de se criar uma “identidade feliz” na qual todos os franceses se revejam.
O “bate-boca” entre os dois candidatos conservadores já conheceu outros episódios. Sarkozy rotulou este conceito de “identidade feliz” como “impróprio de alguém que pretende ser chefe de Estado” e Juppé acusou o primeiro de estar a “colocar achas na fogueira” ao defender a proibição do burquíni nas praias francesas ou a “detenção imediata” de todo e qualquer suspeito de ligações extremistas.
Ideologias ou tomadas de posição à parte, as duas candidaturas não estão totalmente livres de handicaps. Se o ex-presidente tem contra si o considerável número de escândalos em que o seu nome está envolvido – o mais recente foi a acusação pelo Ministério Público de que terá recorrido a financiamento ilegal na campanha presidencial de 2012, Alain Juppé tem 71 anos e faz parte da velha guarda da política francesa, pelo que poderá não ser tão apelativo junto do eleitorado mais jovem. Para além do mais, poderá ainda limitar as suas pretensões de concorrer a um segundo mandato, caso seja eleito presidente em abril ou maio.
Os outros
Para além dos dois superfavoritos, concorrem nas eleições internas do partido conservador outros cinco políticos, considerados pela maioria da imprensa francesa como outsiders.
São eles Nathali Kosciusko-Morizet – a única mulher na corrida -, François Fillon, antigo primeiro-ministro, Bruno Le Maire, deputado da Assembleia Nacional e ex-ministro da Agricultura, Jean- -François Copé, ex-ministro de Chirac, e Jean-Frédéric Poisson, presidente do Partido Democrata-Cristão, que também tem lugar nesta disputa.
As suas candidaturas podem, no entanto, ser relevantes para o previsível desempate na segunda volta das primárias, uma vez que terão o poder de influenciar os seus apoiantes a votar em Juppé ou em Sarkozy.
À exceção de Poisson, todos os restantes candidatos já exerceram cargos na administração do Estado francês.