1.Esta semana ficou marcada pela edição de um livro que nos deve surpreender, senão mesmo deixar-nos perplexos e até indignados. É um facto editorial que deve gerar polémica, discussão e até movimentos de indignados nas redes sociais. Um livro que vai gerar muita polémica: o seu conteúdo desafia os limites do que se convencionou ser admissível numa democracia madura, consistente e pluralista. Já adivinhou qual o nome do livro? Já antecipou mentalmente o nome do sue autor? Não? Então, avancemos a resposta: o Jovem Conservador de Direita (ou o Dr. Jovem Conservador de Direita) publicou um livro! É verdade: o cronista mais saudavelmente louco do jornal “i” (escreve todas as segundas-feiras) publicou um ensaio político, que se auto-qualifica como o melhor do ano, intitulado a “Era do Doutor” (Editora Saída de Emergência).
2.Ora, só esta informação já merecia manchetes indignadas, programas televisivos com comentadores a “malhar” forte e feio no livro e no seu autor durante uma hora (ah, mas sempre com a resslava de que não leram o livro, nem nunca lerão – cruzes credo!) e artigos com títulos grandiloquentes, entre o insulto e a crítica divertidamente descabida – meu Deus, o Jovem Conservador de Direita escreveu um livro! “Jovem Conservador de Direita” e “livro” na mesma frase, numa relação de associação, por si só, já deveria ter levado as redes sociais aos píncaros e decretado o estado de emergência nacional, tal a tamanha ofensa à democracia pluralista!
Exige-se, no mínimo, uma entrevista à SÁBADO (dura e frontal), cujo título será, naturalmente, “A traição do Dr. Jovem Conservador de Direita ao Dr. Nuno Melo, ao Padre Felício (para quem não sabe é o confidente do Dr. Jovem Conservador de Direita) e a 37 unicórnios”. Porquê o Dr. Nuno Melo e Unicórnios? Bom, para saber terá de ler a tentativa de obra literária do Dr. Jovem Conservador de Direita, que ganhou o prémio “Winston Churchill” de melhor ensaio político. Atenção: não confundir este “Winston Churchill” (que se lê “Vinston Churchill, pronunciando-se o “u”, à portuguesa), amigo do Dr. Jovem Conservador de Direita e assessor recreativo na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos – com Winston Churchill, figura de referência da história política europeia (que não só britânica).
3.Convém clarificar de uma vez por todas: este Dr. Jovem Conservador de Direita não é jovem, não é conservador e não é de direita. É velho – porque recorre a piadas já usadas e recicladas, sem o devido “twist” criativo e original. O nosso “ Dr. Jovem Conservador de Direita” parte de estereótipos de uma direita decrépita, já só existente nos manuais de História. Limita-se a recorrer aos preconceitos sobre a direita que a esquerda foi utilizando, ao longo das últimas décadas, para descredibilizar todos os movimentos, todas as personalidades, todas as ideias (independentemente dos seus méritos) apresentadas pela direita (mais rigorosamente, pelo centro-direita). Consequentemente, as piadas do Dr. Jovem são as mesmas que se faziam na década de 50, na déada de 60, na década de 80 ou na década de 90. A esquerda não é particularmente criativa neste particular…
3.1.O Dr. Jovem Conservador de Direita não é conservador: é liberal, no sentido bloquista do termo. O Jovem não gosta da iniciativa privada, não gosta de comentadores de direita, não gosta de políticos de direita, não gosta de empresas, não gosta de gente trabalhadora – verdadeiramente, só gosta do Estado. Só gosta de liberdade quanto à política de drogas, de eutanásia e de sexo. Nesta sua visão da vida, o Dr. Jovem Conservador de Direita alinha, na totalidade, com o partido de que é simpatizante ou militante (o Bloco de Esquerda). Convidamos, até, o leitor a ver o vídeo do nosso Dr. Jovem Conservador de Direita a apresentar um livro de dois companheiros seus bloquistas, sobre o mito do empreendorismo. Nunca vimos José Soeiro a soltar tantas e tão desabridas gargalhadas! Afinal, o Dr. Jovem Conservador de Direita não tem a sua troika (Deus, o Dr. Nuno Melo e o Dr. Francisquinho, forma como se refere ao líder da JP) ao seu lado – tem é José Soeiro e os seus camaradas do Bloco de Esquerda, que se deliciam com as piadas ultrapassadas, de crítica fácil à direita…
3.2.O Dr. Jovem Conservador de Direita é de esquerda. Por todas as razões apontadas, acrescentem outras que resultam directamente do seu livro:
1)O Dr. Jovem Conservador de Direita já é um mentiroso compulsivo: já mente sem ter noção de que está a mentir. Por exemplo, nas primeiras páginas em que apresenta ao leitor o que se propõe tratar na “Era do Doutor”, o Dr. Jovem promete que não fará notas de rodapé ao longo de livro. Ora, quando chegamos ao final do livro, concluímos que tivemos que ler, nada mais, nada menos que…156 notas de rodapé! O Dr. Jovem promete 0 notas de rodapé…e brinda-nos com 156! Mente logo na primeira página! Ou seja, promete fazer algo – e depois faz exactamente o contrário. Há melhor forma de vincar o seu feitio e vocação esquerdista do que mudar de palavra à primeira oportunidade? Atenção PS: têm aqui um substituto à altura de António Costa…;
2) O Dr. Jovem Conservador de Direita, que é, afinal, um Velho Liberal de Esquerda, discrimina as pessoas em função da raça, do sexo ou tão só do penteado ou do número de cartões vermelhos que recebeu ao longo da carreira. Por exemplo, o Dr. Jovem trata todas as personalidades que merecem a honra de serem referidas no seu ensaio político pelo título “Dr.”. Assim, temos o Dr. Justin Bieber, o Dr. Marvel, o Dr. Cristiano Ronaldo. Exactamente quando se refere à Selecção Nacional, o Dr. Jovem do Dr. Cristiano Ronaldo e de Bruno Alves. Só assim: Bruno Alves. O defesa central é a única pessoa referenciada no livro sem o título de “Dr.”. Porquê? Pelas vezes que já foi expulso? Porque não é militante do BE? É um tratamento diferenciado injustificado. Mais: o Dr. Jovem elogia largamente o Dr. Sheldon Cooper (da série norte-americana, emitida na CBS, “The Big Bang Theory”), ignorando por completo o Dr. Rajesh Koothrappalie a Dra. Penny. Porquê? O primeiro é um cientista de sucesso, nascido na Índia, que se integra com êxito na sociedade norte-americana, acolhendo os seus valores. A Dra. Penny, embora sem qualificações superiores, é uma verdadeira empreendedora, aspirante de actriz, que não desiste do seu sonho, partindo para Hollywood desde a sua terra natal (Omaha, capital económica do Nebraska). Uma verdadeira empreendedora, que sabe que só o capitalismo lhe permite ascender socialmente, realizando os seus sonhos! O Dr. Jovem – velho, liberal e de esquerda – ignora o Dr. Rajesh porque não acredita como uma sociedade capitalista, assente na meritocracia (como os EUA) podem acolher tão bem alguém que quer triunfar na vida, quer fazer o seu génio para se realizar pessoalmente e contribuir para o desenvolvimento da sociedade. E ignora a Dr.ª Penny, pois não aceita que uma sociedade que acolhe os princípios da meritocracia e da liberdade individual, incluindo a liberdade de mercado, permita que uma mulher prossiga os seus sonhos! Que seja livre, em todas as dimensões! Porventura, a Dr.ª Penny não votaria no Bloco de Esquerda – logo, o Dr. Jovem Conservador de Direita apaga-a da história, à boa maneira estalinista;
3)O Dr. Jovem adora o Dr. Sheldon Cooper. Não admira: o Dr. Sheldon é uma espécie de Estaline modernaço. Um ditador da física, que controla a vida dos seus amigos e quer uma sociedade baseada em leis ditadas pelo poder político. Poder político que deveria ser personificado apenas por ele: Sheldon Cooper, a mente mais brilhante de todos os seres humanos já nascidos. Enfim, o Dr. Cooper considera-se a vanguarda que irá levar o povo para um mundo mais justo, mais recto e progressista. Donde, a conclusão é óbvia: o Dr. Shedon Cooper é o fétiche de qualquer esquerdista. E o nosso Dr. Jovem Conservador de Direita (que é velho, liberal e de esquerda) não é excepção;
3.3.Por último – e, agora, em termos mais sérios – a personagem do “Jovem Conservador de Direita” visa descredibilizar a mensagem padronizada dos partidos de direita (e de centro-direita) para os colar à imagem que a esquerda precisa que a direita tenha. Atacar, ridicularizar, hiperbolizar os argumentos e desvirtuar as soluções propostas – é a melhor forma para prender o adversário político ao passado e, ao mesmo tempo, esconder as dificuldades da esquerda em se ajustar ao novo mundo em que vivemos. Neste sentido, o “Dr. Jovem Conservador de Direita” é uma arma muito eficaz para a comunicação do Bloco de Esquerda – sobretudo na captação dos mais jovens. A popularidade do “Jovem Conservador de Direita “(ou melhor, da sua rábula) hoje – será amanhã convertida em votos e militantes do Bloco de Esquerda ou mesmo da JS. Não tenhamos ilusões. E a direita tem culpas no cartório – “aburguesou-se”, deixou deliberadamente que a esquerda ocupasse o espaço comunicacional. Até no humor!
4.Tem o Dr. Jovem Conservador de Direita (que é, na verdade, um Velho Liberal de Esquerda) méritos? Tem. Desde logo, o de cumprir a sua função – ajudar a agenda política do Bloco de Esquerda – com alguma mestria. No entanto, o Dr. Jovem tem um problema: ao querer construir uma personagem entre o político e o humor, concentra-se tanto no político que, às tantas, se esquece do segundo: do humor. As crónicas do Dr. Jovem Conservador de Direita têm muito (demais!) de política – e muito pouco de humor. Tem dúvidas? Leia todas as segundas-feiras no seu jornal diário – o “i”, pois claro.