O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou, no domingo, que a Rússia pode vir a ser acusada de ter praticado “crimes de guerra”, caso se confirme que a sua aviação esteve envolvida no ataque, na semana passada, aos camiões de ajuda humanitária, nos arredores de Alepo, na Síria.
Perto de vinte pessoas morreram – incluindo voluntários – em Urem al-Kubra, enquanto descarregavam alimentos, roupas e medicamentos, fornecidos pela ONU, na segunda-feira passada. Moscovo garantiu que o bombardeamento dos camiões do Crescente Vermelho da Síria, foi feito por “terroristas rebeldes”, em terra, mas as autoridades norte-americanas disseram que se tratou de um ataque aéreo, perpetrado pelo exército sírio ou pelas forças russas.
“O que temos de procurar saber é se o bombardeamento foi feito com o conhecimento de que se tratavam de (…) alvos civis inocentes”, explicou Johnson, numa entrevista à estação televisiva BBC, no domingo. “[Porque] isso é um crime de guerra”, acusou.
O chefe da diplomacia britânica culpabilizou ainda a Rússia de estar a contribuir para “fazer a guerra mais prolongada e bastante mais monstruosa”. Para Boris Johnson “o regime de Putin não está simplesmente a entregar o revólver a Assad”, mas a “dispará-lo em alguns casos”.
Por entre acusações e suspeitas, o ministro britânico fez, no entanto, mea culpa, ao admitir que o Reino Unido e os países do Ocidente falharam, quando decidiram não agir militarmente contra o presidente da Síria, Bashar al-Asssad, em 2013, depois de saberem que este tinha utilizado armas químicas contra a própria população.
“Tenho de admitir que, desde que tomámos essas decisões em 2013 (…) nunca tivemos uma verdadeira resposta militar viável (…) para o que se está a passar”, confessou Johnson.
Dessa forma, acredita, perdeu-se uma oportunidade para “pressionar a Rússia”, o maior aliado do regime sírio. E assim, a única forma que resta para “forçar Moscovo a recuar é envergonhar o país junto da opinião pública”.
Conselho de segurança reunido. Com o final estrepitoso do período de cessar-fogo, acordado por russos e norte-americanos, as forças fiéis a Assad continuam, desde a semana passada, a apertar o cerco à cidade de Alepo. Mais de 200 pessoas morreram, desde quarta-feira e no sábado, depois de 24 horas de intensos bombardeamentos, calcula-se que mais de 2 milhões de sírios tenham ficado sem água.
Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se de emergência, no domingo, para debater a situação no país, a pedido dos EUA, França e Reino Unido, e tentar chegar a uma solução mais sólida do que o anterior acordo de cessar-fogo.
Mas o tom não diferiu muito do clima de acusações visto na última semana. Samantha Power, embaixadora norte-americana, acusou a Rússia de “mentir ao Conselho de Segurança”, sobre a sua atuação na Síria, e classificou como “barbárie” aquilo que russos e o regime de Assad estão a fazer em Alepo.
“Em vez de arranjarem ajuda para os sírios, a Rússsia e Assad estão a bombardear hospitais”, acusou Power, citada pela BBC, aos seus pares.
Vitaly Churkin, embaixadora da Federação Russa confessou, no entanto, que um acordo de paz para a Síria era “uma tarefa quase impossível agora”.