Se fosse futebol, teria protagonizado a transferência do ano. Não pelo dinheiro, mas pela polémica. Depois de quase dez anos na equipa das manhãs da rádioComercial – ao lado de Pedro Ribeiro, Vasco Palmeirim, NunoMarkl e César Mourão, entre outros – em maio, sem aviso prévio, Vanda Miranda trocou esta rádio pela M80 (também do grupoMediaCapital), onde ficou a conduzir o espaço entre as 20h e as 22h – isto depois de um comunicado oficial da Comercial atribuir a saída à vontade da radialista em levar o filho mais novo à escola. Histórias mal contadas, que, com o regresso de Vanda Miranda, no início deste mês, ao horário matinal, à frente do programa “Manhãs da M80”, levaram a reações inflamadas, por parte dos ouvintes, que se sentiram traídos. Mas Vanda Miranda não é mulher de alimentar polémicas. Prefere ver “o copo meio cheio”. E seguir em frente.
Como é que tem vivido o regresso às manhãs radiofónicas, agora na M80, e depois de quase dez anos neste horário na Comercial?
Voltar a acordar cedo não é fácil, e estes meses com um horário mais folgado foram muito bons porque me deram para descansar um bocadinho a cabeça. Acho que as pessoas têm tendência – e é normal – a ver só a parte do entretenimento. E muita gente diz que tem inveja do nosso trabalho, que estamos sempre animados e a rir. Essa é a parte boa, mas depois há todo um esforço intelectual e físico. Mantenho que não é fácil acordar todos os dias à hora que acordo e ter logo boa disposição. E eu até sou uma pessoa matinal. Mas é um novo desafio e estar a fazer uma coisa nova, ter tido ideias novas e estar a pô-las em prática compensa tudo o resto.
Em que é que estas manhã da M80, conduzidas por si, acompanhada pelo Paulo Fernandes, divergem das anteriores?
Não gosto de fazer programas muito elaborados, no sentido de, de cinco em cinco minutos, acontecer uma rubrica. É certo que as manhãs são naturalmente assim, porque é o espaço radiofónico com mais movimento, estamos a falar para as pessoas que estão a começar o dia e temos de ter notícias, o trânsito, o tempo… Só isso enche um programa. Mas depois, apesar de haver um guião, gosto de deixar fluir, de deixar que uma situação do dia-a-dia seja transportada para o programa e que isso permita troca de experiências com os ouvintes. O que tenho sentido ao longo de todos estes anos em que faço rádio, e não apenas manhãs, é que as pessoas gostam de ouvir falar daquilo que lhes é familiar. E às vezes as coisas familiares são tão simples quanto chegar ao programa e partilhar qualquer coisa que se passou comigo. O facto de trabalhar na rádio não significa que não seja uma pessoa completamente normal, a quem um dia rebocam o carro. E os ouvintes respondem muito a esse tipo de estímulo. É engraçado perceber que as pessoas, mesmo às 7h da manhã, nos ligam. E ligam porque se relacionam.
Historicamente a rádio foi sempre vista como uma companhia, sobretudo nos horários noturnos. Hoje em dia acha que os programas da manhã criaram essa maior proximidade com o ouvinte?
Acho que tem muito a ver com esta questão da partilha. Por exemplo, quando se faz programas sozinho é um mais difícil falar de nós porque parece que se está ali a fazer uma coisa egocêntrica. Mas quando temos mais alguém a fazer o programa connosco – que é o que acontece nas manhãs –, acabamos por estar a conversar com aquela pessoa e o ouvinte sente-se parte dessa conversa. E por isso telefona. A rádio continua a ter essa função de companhia, também porque a podemos levar para todo o lado. E o ser humano continua a precisar que outros seres humanos lhe digam alguma coisa, e de manhã isso é fundamental. Prova disso é que, muitas vezes, nos dizem para passarmos menos música e falarmos mais, o que é uma coisa estranhíssima, porque nos outros horários da rádio é o oposto.
Acha que foi essa proximidade, esse sentimento de que os animadores de rádio são vistos pelos ouvintes como amigos, que fez com que as pessoas se sentissem traídas com a sua saída da Comercial para a M80?
Sim. E percebo. Costumo fazer uma analogia com aquele amigo que tem uma namorada, que até não fazia parte do grupo de amigos, mas que com os anos passou a fazer. De repente esse casal separa-se, o tal amigo arranja outra namorada e temos de receber essa pessoa no grupo. E até podemos gostar muito dela, mas não é a outra. É normal do ser humano, quando qualquer coisa de que gostavam muito acaba, reagir de uma forma mais intensa. Mas essa intensidade, mesmo que possa ser difícil de lidar com ela porque nunca gostamos que as pessoas pensem determinadas cosias de nós, se fizer um trabalho interior, chego à conclusão que, se não tivesse importância nenhuma para aquelas pessoas, elas nem opinavam. Se calhar estou a ser demasiado otimista mas gosto de acreditar que, quando alguém é importante na nossa vida e há uma mudança, as pessoas opinam. Por vezes até se zangam. E com quem é que nos zangamos mais na vida? Com as pessoas de quem gostamos mais e que nos são mais próximas – é com essas pessoas que perdemos as estribeiras.
Foi esse pensamento que tentou que prevalecesse quando começou a ver algumas reações mais inflamadas, nomeadamente nas redes sociais, em relação à sua ida para as manhãs da M80?
Sim, sim. Volto a usar uma analogia: aqueles casais que toda a gente acha perfeitos, que nunca se vão separar, e de repente separam-se.
Mas afinal porque saiu da Comercial?
Acima de tudo estou muito feliz por estar na M80. A equipa recebeu-me muito bem. Houve pessoas que me disseram que estava a fazer um downgrade na carreira, mas o que sempre disse foi: tenho plena consciência que tive um ponto alto na minha carreira, mas os pontos altos não duram para sempre. Por outro lado um novo desafio, até por ser uma rádio mais pequena, dá um clique qualquer. Sinto que estou num projeto que vou poder ajudar a crescer. Essas pequenas grandes coisas dão muito ânimo. De resto, a vida é para a frente e não quero ficar presa no passado. Quero seguir em frente e dedicar-me a este novo projeto que me está a dar muito prazer.
Em alguns órgãos de comunicação social falou-se de desentendimentos com o Pedro Ribeiro, diretor da Comercial e seu colega nas manhãs daquela rádio. Ele foi, de resto, o único elemento da equipa que não se pronunciou publicamente acerca da sua saída.
Gostava de saber onde é que estão as fontes de algumas revistas. Acho muita piada quando leio certas notícias que dizem “fonte próxima”. Quem serão essas fontes próximas que sabem tanta coisa sobre a nossa vida? Tenho de confessar que não tenho lido muita coisa sobre este assunto, acho que é mais saudável, mas no outro dia um ouvinte fez um comentário, onde dizia que a mudança devia ter sido por dinheiro… (risos) Não sei onde as pessoas vão buscar certas informações, mas eu não tenho mais nada a acrescentar. Para a frente é que é caminho.
O que a fez, já na M80, aceitar o convite para voltar a fazer manhãs?
Não era uma ambição. Até porque nunca fiquei agarrada à popularidade do programa da manhã. E continuo a manter que o horário é cansativo e que isto devia começar às dez da manhã. Mas houve uma coisa que foi um bocadinho mal entendida – nunca disse que a minha saída das manhãs estava diretamente relacionada com a vontade de ir levar o meu filho à escola. O que disse foi que a grande vantagem que via na saída das manhãs é que podia levar o meu filho à escola. Mas nunca disse que essa era a razão primordial da saída. É esta a minha forma de estar na vida: olhar para o copo meio cheio.
Os seus filhos gostaram destes meses com a mãe a sair mais tarde de casa?
Acho que eu gostei mais do que eles. Às vezes, enquanto mães e pais, sentimos que estamos a falhar, mas eles não sentem, é mais uma coisa nossa. Por exemplo, há uns dias o meu filho, ainda antes de eu ter começado a fazer as manhãs da M80, ia no carro com o pai e disse: ‘Oh pai, nunca mais ouvi a mãe a fazer rádio e eu gostava muito’. Ele ouvia-me sempre quando ia a caminho da escola.
Esse comentário ajudou-a a decidir aceitar o convite para voltar a fazer manhãs?
Não, mas se tivesse sentido que fazia mesmo falta aos meus filhos que não fizesse o horário da manhã, garanto que não voltava. Gosto muito de fazer rádio, mas há coisas mais importantes. Mas como cheguei à conclusão que era muito mais necessidade minha do que dos meus filhos, aceitei o convite. E aceitei muito por – isto vai parecer politicamente correto, mas estou-me a lixar, porque é a verdade – respeito e gratidão pela M80, que senti que queria apostar em mim, que reconheceu o meu trabalho e quis que eu tomasse conta do horário mais importante. É importante quando valorizam o nosso trabalho. E, na M80, deram-me uma folha em branco e disseram-me: mostra-nos lá o que queres fazer. Na M80 tenho a possibilidade de fazer as coisas mais à minha imagem, porque quando somos muitos temos de deixar cair algumas das nossas ideias. Na M80 tenho mais margem de manobra e de crescimento. Em paralelo, a outra razão que me fez aceitar o convite para voltar a fazer manhãs, agora na M80, foi a quantidade de ouvintes que, ao longo destes meses, continuavam a dizer-me que tinham muitas saudades de me ouvir de manhã.
O nome da terra onde nasceu define-a de alguma forma?
(risos) Nasci na localidade de Sarilhos Pequenos, Moita. Mas nunca fui um grande sarilho. Aventureira, mas não de dar grandes problemas.
Esse lado de aventureira está associado ao facto de ter crescido, ainda que não muito longe de Lisboa, fora de uma grande cidade?
Sim. Tenho um irmão mais velho, mas nunca fui a menina protegida, ele levava-me nas brincadeiras dele. Subi muito às árvores, esfolei-me toda, corria a aldeia de uma ponta à outra. Saía de manhã e só voltava a casa quando tinha fome. Não digo que as pessoas da cidade não possam ser assim, mas no meu caso acho que isso contribuiu para o facto de ser uma pessoa com os pés na terra, não me deixo deslumbrar com a fama. Não estou a dizer que sou o menino da aldeia, como o Toni Carreira, não é isso, mas tive uma infância muito em contacto com tudo o que é real. E hoje em dia faço isso com os meus filhos, puxo-os para verem o que é real, de onde vêm as maçãs, as batatas, as couves. Posso estar enganada, mas acho que isso dá escola para a vida.
Ainda hoje tem uma relação próxima com o seu irmão?
Sim. Temos cinco anos de diferença e portanto, quando éramos pequenos, eu era a companheira de brincadeiras, ainda por cima gostava mais de carrinhos do que de bonecas. Depois ele teve aquela fase que me odiava, como todos os irmãos mais velhos. Mas mesmo nessa fase influenciou-me muito, até a nível musical. Sou toda rockeira por causa dele.
Qual foi a primeira banda que a marcou?
Gostava muito de Rolling Stones, apesar de não ser uma banda da minha geração. Cresci com a música dos anos 80, muito mais do que com a dos 70, mas como o meu irmão ouvia muito Rolling Stones, cresci com eles. E fui muito marcada pelo rock clássico – Led Zeppelin, Black Sabbath.
Sendo essa menina que subia às árvores e gostava de rock, vestir um vestido era um suplício?
Não, ainda hoje tenho essa dicotomia, esse paradoxo. Continuo a ser muito Maria-rapaz, adoro bricolagem e jardinagem, por exemplo. Não me importo nada de me sujar. Mas depois adoro ser feminina, sou conhecida por andar sempre de saltos altos.
O que faziam os seus pais?
O meu pai era eletricista. A minha mãe foi doméstica quando eu e o meu irmão éramos mais pequenos e depois passou a tomar conta de uma loja de eletrodomésticos que os meus pais tiveram. Nas férias de Natal costumava ir trabalhar com eles a fazer os embrulhos.
Portanto não tinha nenhuma ligação familiar à rádio.
O meu pai foi speaker do clube lá da aldeia (risos). Era um clube para aí com cinco adeptos, mas tinha um speaker! Tinha uns oito ou nove anos e lembro-me de o meu pai dizer a publicidade. Quando questionamos, em família, de onde vem esta minha apetência para a comunicação, eu brinco com ele com isto.
Mas fora isso costuma dizer que foi a rádio que a apanhou.
Sim. Ainda apanhei aquela fase das rádios piratas e de todos termos um gravador em casa onde púnhamos a gravar, e a tocar, as nossas músicas. E lembro-me perfeitamente que comecei a ter aulas de jornalismo ainda no liceu e acabei por ir para uma vertente estranhíssima que havia no meu liceu e que era jornalismo e turismo. Escolhi esta opção porque queria ser guia turística, imaginava a vida a passear e tinha muita facilidade com línguas. Mas acabou por ser o jornalismo. Depois começou a fase da legalização das rádios piratas e acabo na rádio Moita.
Que idade tinha?
Dezassete anos. Ainda falava assim [imita uma voz muito esganiçada e com um sotaque meio alentejano]. Nem sei como é que me deram emprego! Mas depois a minha evolução na rádio foi meteórica. Rapidamente passei para a Super Fm, que na altura era uma das rádios jovens. Depois vim para Lisboa, para a Energia. Quando me convidaram tive medo, achei que era uma grande responsabilidade. Estavam lá as pessoas que eu gostava de ouvir e que admirava, e eu era a mais nova, tinha 20 anos. Acho que vivi tudo muito rápido.
O que foi fazer na rádio Moita?
Os noticiários, comecei na redação. Uma rádio local é uma escola fantástica porque temos de fazer tudo. Era jornalista, apresentava noticiários, fazia reportagens, mas se fosse preciso também pegava nuns discos e ia fazer um programa. Não há escola maior, dá uma grande estaleca, ensina-nos que não há silêncios em rádio e que temos de preencher espaços.
Pagavam-lhe?
Sim. Recebíamos à hora. O conforto financeiro de uma rádio local era muito periclitante, por isso não tínhamos ordenados. Era qualquer coisa do género: “olha, este fim de semana estive cá e fiz não sei quantos noticiários, o que dá X horas”.
Ainda pensava ser guia turística?
Não, rapidamente me esqueci dessa ideia. Quando cheguei à rádio senti que tinha um talento pelo qual nunca tinha dado conta. Desde o primeiro dia que me senti muito à vontade.
Na altura em que começou ainda havia muito o culto das grandes vozes da rádio. Como lidava com o facto de ter uma voz esganiçada?
E ainda se fazia muito aquela rádio com a voz colocada, com vozes de cama. Há muitos anos que percebi que não há nada como a naturalidade e hoje em dia já estou habituada à minha voz. No início ninguém gosta de se ouvir… Há sempre diferenças entre a voz que achamos que temos e aquela que sai através dos aparelhos da rádio. Ainda no outro dia tive uma senhora que me dizia que tinha ligado para a rádio pela primeira vez e que, quando ouviu a sua voz, ia morrendo pois percebeu que falava à tia.
Quando vai para a Energia vem viver para Lisboa?
Não, continuei do outro lado. E ainda sou do tempo em que a travessia do Tejo, nomeadamente para o Montijo, se fazia num barco que demorava uma hora. Continuei daquele lado durante muito tempo. Cheguei a fazer noites e a rádio era muito simpática e pagava-me o táxi para que conseguisse apanhar o último barco. Eu era muito “margem sul power”.
Quando é que se muda para este lado do rio Tejo?
Em 2005. E comecei a fazer manhãs dois anos depois, já na Comercial. Mas Lisboa já era a minha cidade, comecei a vir trabalhar para cá muito nova, e cresci a ver as luzinhas de Lisboa, do outro lado do rio, e a achar que a cidade era linda.
A rockeira, jovem, a viver sozinha em Lisboa, resistiu à noite da capital?
Não. Mas também fiz muita vida noturna do outro lado, até porque nessa altura essa zona tinha uma noite muito gira. Em Lisboa ia sobretudo da altura da 24 de Julho. Lembro-me de ir ao caldo verde no final das noites. Agora só saio à noite para despejar o lixo.
Foi mãe pela primeira vez muito jovem, com 22 anos. O que é que isso mudou no seu percurso?
Acho que sou a prova que os filhos não nos tiram a oportunidade de construir uma carreira. Fui mãe com 22 anos, mas fui sempre evoluindo na rádio. Ser mãe nova nunca me prejudicou. Claro que também tive uma grande ajuda da parte dos meus pais, mas acho que consegui sempre conciliar bem. A verdade é que, apesar de não ter planeado, apaixonei-me logo por esta coisa de ser mãe. Até podem achar que sou uma grande animadora de rádio, mas acima de tudo acho que sou uma grande mãe.
É com o encerramento da Energia, entretanto FM Radical, que vai para a Comercial. Nessa altura a Comercial era uma rádio com a certidão de óbito emitida.
O que era uma pena. Lembro-me de pensar como é que uma rádio nacional, histórica, podia estar pelas ruas da amargura como estava. Tinha uma audiência residual! Fui convidada pelo Luís Montez, que já tinha sido meu diretor na FM Radical e que foi entretanto convidado para assumir a Comercial. A FM Radical tinha fechado um mês antes, mas logo no dia em que foi anunciado o encerramento ele ligou-me a convidar para a Comercial. Sou péssima com datas, mas nunca me esqueço que comecei na Comercial em dezembro de 1997, no dia a seguir ao Natal.
O que foi fazer?
A Comercial estava a passar por uma grande restruturação. Comecei por fazer uma coisa sobre livros, chamada “Páginas Soltas”, num programa do Aurélio Gomes. Um mês depois já estava a assumir um espaço de emissão. Entretanto a rádio muda para o formato rádio rock – o que foi a melhor coisa que me podia acontecer na vida porque era o meu estilo de música.
É já com o Pedro Ribeiro que passa para as manhãs da Comercial?
Sim. O Pedro tinha assumido a direção da Comercial há um ano, penso eu, e estava a fazer as manhãs sozinho. De repente aborda-me e diz-me que está à procura de uma companheira para as manhãs e que tinha pensado em mim. Eu, que sempre fui uma pessoa que duvida das suas capacidades, disse-lhe: “Ai, não sei, nunca fiz manhãs, não sei se tenho perfil”. Há muita gente que tem essa ambição porque obviamente é o topo da carreira em rádio, mas eu nunca tinha pensado nisso. Estava a fazer finais de tarde e gostava desse horário porque, se as manhãs são o horário que leva as pessoas para o trabalho, o final de tarde é o que as traz de volta a casa. Mas a minha costela mais aventureira não me permitiu recusar, mesmo achando que não era feita para as manhãs.
O ponto de viragem foi quando ultrapassaram a RFM?
Sim. Obviamente que esse era o grande objetivo. Há duas grandes rádios em Portugal: a Comercial e a RFM. São as únicas que lutam pela liderança. Ainda demorou, as pessoas têm hábitos de escuta que não são fáceis de mudar, mas houve ali uma altura em que sentimos que estávamos a conquistar auditório, mesmo ainda antes das audiências da Marktest nos darem a vitória. Quando saíamos à rua sentíamos que as pessoas falavam do programa. Até os nossos amigos nos diziam que achavam que toda a gente nos ouvia.
O que acha que foi fundamental para essa inversão? A entrada do Vasco Palmeirim e as suas adaptações musicais?
O Vasco entrou uns meses depois de mim. Acho que todos contribuíram, com as suas personalidades diferentes, e resultou muito bem. Muitas vezes nos sentámos a conversar sobre o que terá levado à mudança… Acho que foi uma fórmula que, sem ter sido muito pensada, foi muito eficaz. Era um programa com um guião mas que ao mesmo tempo era muito solto, muito natural, mais conversado do que lido. Era uma conversa de café. Obviamente que as canções do Vasco e o facto de ele ter começado a fazer televisão foi um boost. Tal como a Caderneta de Cromos do Nuno Markl.
Ainda assim, nada faria imaginar que iam ser ouvidos diariamente por cerca de um milhão de pessoas e iam encher a Meo Arena com os espetáculos da equipa das manhãs da Comercial.
Nem me passaria pela cabeça. Até para nós era complicado perceber o porquê, costumávamos dizer entre nós: “Isto é só um programa de rádio”. Tive de me habituar. Sendo uma rapariga um bocadinho tímida, foi difícil de repente andar na rua e sentir que tinha quase o mesmo nível de reconhecimento de uma pessoa que fazia televisão. Ainda por cima, apesar de ter chegado a fazer um programa na TVI, nunca fui para a rádio a pensar na televisão, sou uma mulher da rádio. Ainda hoje me faz confusão o reconhecimento que as pessoas da rádio passaram a ter. Há 20 anos, quando comecei, as pessoas quanto muito reconheciam-nos pela voz, quando nos ouviam falar. E muitas vezes nem associavam. Muitas vezes acontecia dizerem-me “que engraçado, conheço a sua voz e não estou a ver de onde.” Pelo menos agora já não há desilusões.
A Vanda era a única mulher das manhãs da Comercial. O papel da mulher na rádio está longe de estar equiparado ao dos homens?
Agora, na M80, é o Paulo [Fernandes] o único homem. Gostava muito que estivesse equiparado, mas infelizmente ainda vemos a maior parte dos programas serem conduzidos por homens. E essa é outra parte do desafio da M80, e do qual tenho muito orgulho – de repente olharam para mim, uma mulher, e disseram: esta mulher pode conduzir um programa.
Nos estudos de audiência, e ao contrário do que é comum, é muito apreciada também pelas ouvintes. O que acha que leva a isto?
Isso é um grande mistério que ainda ninguém conseguiu perceber. É muito curioso e falamos muito disso, na Comercial e agora na M80. Quando recebemos os estudos de personalidade e percebemos isso é muito surpreendente. Não fiz nada para isto acontecer, não foi estudado. Mas acho que é porque sou genuína. Acho que gostam da ideia de que faço as mesmas coisas que todas as outras pessoas fazem, cozinho, dou banho ao filho, tenho o carro rebocado… A minha vida não é nada glamorosa.
A sua família tem razão quando diz que a Vanda é mais divertida na rádio do que em casa?
(risos) Acho que sim… Sobretudo com o acordar cedo torno-me mais birrenta e é a família que leva com o meu feitio.
Até quando é que se imagina a fazer rádio’?
Costumava dizer que queria trabalhar até ser velhinha, que ia ser o António Sérgio de saias, mas ele morreu muito mais cedo do que devia. Hoje em dia não sei. E acho que esta dúvida tem a ver com a exigência das manhãs. Estarei por cá enquanto o público me quiser e enquanto sentir que tenho coisas para dar. Não quero sair arrastada. Depois, na reforma, gostava de recuperar imóveis antigos ou abrir um turismo rural. É preciso é ter capital. E depois abro uma radio pirata! (risos)