O presidente Juan Manuel Santos e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Rodrigo Londoño, vão assinar, esta segunda-feira, um acordo de paz histórico, que pretende encerrar o mais longo conflito no hemisfério ocidental e um dos últimos episódios dos tempos da Guerra Fria. Foram precisos quatro anos de negociações intensas para se chegar a um compromisso, que ainda terá de ser aprovado em referendo.
A assinatura terá lugar em Cartagena, um das principais atrações turísticas da Colômbia, numa cerimónia que tem todos os ingredientes para se tornar no momento mais importante da história do país.
O conflito com as FARC dura há 52 anos e dele resultaram mais de 250 mil mortos e cerca de 6 milhões de deslocados. O presidente Juan Manuel Santos não tem dúvidas de que, para além de ter limitado o crescimento económico da Colômbia, a guerra colocou em causa a dignidade da população e o espírito de solidariedade dos colombianos.
“Perdemos a nossa compaixão, que é a capacidade de sentirmos algum tipo de dor pelos outros”, lamentou o chefe de Estado colombiano, numa entrevista à televisão britânica, BBC. “Um país em guerra durante 50 anos é um país que destruiu muitos dos seus valores”, lembrou ainda.
O compromisso foi acordado há cerca de um mês, em Havana, capital de Cuba, depois de quatro anos de negociações e inúmeros anúncios de cessar-fogo. A ratificação do pacto será esta segunda-feira, em Cartagena, mas a sua oficialização dependerá sempre da aprovação, em referendo, no próximo domingo.
O acordo prevê que as FARC se transformem num partido político, com 10 lugares no parlamento colombiano, e que percam o estatuto, doméstico e internacional, de “grupo terrorista”. A organização terá ainda um prazo de 180 dias para desmilitarizar as áreas por si controladas, recolocar os seus 7500 ex-combatentes em várias regiões do país, definidas pelas Nações Unidas, e acabar com a produção de droga.
Será ainda garantido um perdão generalizado a quem tiver cometido “crimes políticos”, onde não estão incluídos massacres, sequestros, violações ou crimes de guerra. Com o acordo a depender da aprovação popular, prevê-se que este seja o ponto mais sensível em debate e o mais capaz de provocar ressentimentos junto das pessoas. É que muitos são os colombianos cujos familiares ou conhecidos sofreram, de forma direta ou indireta, às mãos das FARC e da guerra civil.
As sondagens mais recentes apontam para uma vitória do “sim”, mas o presidente Juan Manuel Santos avisa que, caso o compromisso seja rejeitado pela população, no domingo, não está previsto qualquer plano alternativo.
“Voltaremos atrás seis anos e continuaremos a guerra com as FARC”, prevê Santos, se o “não” vencer. “É esse o plano B”, admitiu.