1.Ontem, em almoço com amigos, recebemos a notícia de que José Eduardo Martins vai ser o coordenador do programa que o PSD vai apresentar aos lisboetas nas próximas eleições autárquicas, de Outubro do próximo ano. Não queríamos acreditar: só poderia ser uma piada de mau gosto do nosso conviva de hora de almoço.
Teimámos até que tal seria uma impossibilidade lógica: por muitas críticas que fosse possível tecer à estratégia do PSD para Lisboa, jamais os seus responsáveis cometeriam um erro tão clamoroso, a roçar o ridículo, que iria provar a tese dos seus críticos (que o PSD está sem rumo), como o de apresentar um coordenador do programa sem antes apresentar o candidato. No principal município português, cujo resultado terá, naturalmente, uma leitura política nacional.
Ainda para mais, o coordenador escolhido – José Eduardo Martins – é um putativo candidato a Lisboa, caso Pedro Santana Lopes não avance. E imagine-se: um desalinhado da direcção de Pedro Passos Coelho e até há bem pouco tempo apontado como sendo o favorito de Marcelo Rebelo de Sousa para suceder a Passos na liderança social-democrata. Os dirigentes do PSD jamais cometeriam este erro tão estúpido! Não podia ser verdade!
2.Era verdade. É verdade: a estupidez confirmou-se e José Eduardo Martins vai ser o coordenador do programa eleitoral do PSD para o município de Lisboa. De que candidatura? Não sabemos. Programa de que candidato? Ninguém sabe. O programa será o de José Eduardo Martins, que, no entanto, recusa liminarmente a ir a votos. Das duas, uma:
1)Ou José Eduardo Martins só quer protagonismo fácil, lançando um programa que seja puramente teórico, quase já programa de Governo, com pouca ligação a Lisboa, que depois lhe permita desafiar a liderança do PSD;
2)Ou, então, José Eduardo Martins está a fazer “bluff”, aguardando, apenas, pela recusa de Pedro Santana Lopes para avançar. De facto, José Eduardo Martins ficará muito mal na fotografia (e terá uma conduta inferior ao seu carácter) se recusar protagonizar a candidatura do PSD a Lisboa, no caso de Pedro Santana Lopes recusar avançar. Alguém compreende que a mesma pessoa que está disponível para preparar um programa autárquico, que, no fundo, corresponde às ideias que o partido propõe aos lisboetas e é a essência da candidatura – não esteja disponível para dar a “cara” por esse projecto? Então, José Eduardo Martins aceita elaborar o projecto, mas depois recusa-se dar a cara por ele, submetendo-o a votos? Então, José Eduardo Martins quer impor o seu projecto a outro candidato? A dimensão ética que nós reconhecemos a José Eduardo Martins imporia que este recusasse aceitar ser coordenador do programa – sem antes conhecer o candidato. Ou, pelo menos, que a divulgação do seu nome como coordenador do projecto fosse adiada até à divulgação do candidato do PSD a Lisboa! Seria o mínimo de cordialidade e boa-fé no relacionamento entre políticos, que até são do mesmo partido!
3.Enfim, a atitude de José Eduardo Martins é reprovável – a não ser que aceite protagonizar a candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Perante isto, Pedro Santana Lopes – a não ser que seja irresponsável – está fora da corrida a Lisboa. Porquê? Fácil: se Pedro Santana Lopes aceitar avançar (como seria lógico e a solução mais conforme aos interesses de Lisboa e, logo, do PSD Lisboa) será uma marioneta ou um mero figurante de José Eduardo Martins. Ora, um ex-Primeiro-Ministro, um político carismático e experiente como Santana Lopes, aceitará ficar refém das ideias de outro militante, que não tem o seu pedigree político, como José Eduardo Martins? Santana Lopes alguma vez aceitaria ficar como executante de um programa político de um seu ex- Secretário de Estado do desenvolvimento regional? Claro que não…
4.Qual será a atitude inteligente de Santana Lopes? Anunciar a sua decisão de não se candidatar, explicar que o PSD/Lisboa lhe tirou o tapete – e que, neste momento, só há um candidato possível do PSD à Câmara Municipal de Lisboa chamado José Eduardo Martins. Ninguém se dará à triste figura de se candidatar com um programa com a assinatura de José Eduardo Martins…
5.Se até aqui o leitor já acha esta história deplorável, aguarde que ainda há mais (e pior!). É que este lamentável episódio demonstra a fragilidade e as divisões que já grassam no PSD nacional. O PSD/ Lisboa (distrital) é liderado por Miguel Pinto Luz, um passista convicto e o braço-direito de Carlos Carreiras. Já o PSD/Lisboa (concelhia) é liderado por Mauro Xavier, próximo de Passos Coelho noutros tempos e ligado a Marco António Costa e a Pedro Duarte, director de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa (e que o próprio Marcelo e alguma imprensa, ligada aos socráticos, tentou lançar para a liderança do PSD).
6.Ora, Miguel Pinto Luz, presidente da distrital, condenou publicamente a iniciativa da concelhia de Lisboa, a qual integra a distrital que lidera, qualificado tal decisão de convidar José Eduardo Martins como uma provocação a Pedro Passos Coelho; já Mauro Xavier diz estar a cumprir o desafio de Carlos Carreiras de, primeiro, promover o debate de ideias e só depois de pessoas. E Passos Coelho? Pedro Passos Coelho continua a pedir calma, adiando a decisão sobre Lisboa para Março de 2017. Concluindo: o PSD está esfrangalhado – cada um puxa para seu lado, que é dizer, para o lado onde estão os seus interesses pessoais.
7.Ontem, Mauro Xavier atirou um balázio contra a autoridade de Pedro Passos Coelho. Como é que Passos poderá recuperar desta? Será muito difícil…É casinho atrás de casinho, sempre prejudicando Passos Coelho. Uma curiosidade: Marco António Costa – que é o inspirador material desta trapalhada de Mauro Xavier – já corre em pista própria, salvaguardando-se para o pós-passismo. O seu candidato já está encontrado: José Eduardo Martins, que terá a seu lado Pedro Duarte (director de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa).
8.Uma última nota sobre Carlos Carreiras. O coordenador autárquico do PSD – pela sua competência, pela sua dedicação, pelo seu estatuto de “autarca modelo” – não merecia o golpe de Mauro Xavier, que mina também a sua credibilidade e condiciona o seu trabalho na preparação das autárquicas do próximo ano.
Ontem, Carlos Carreiras teve um dia dúplice: sofreu o ataque de Mauro Xavier, depois de Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso estimado e muito admirado Presidente da República, praticamente o ter reeleito Presidente da Câmara Municipal de Cascais por mais quatro anos. Efectivamente, o Presidente da República afirmou que é um juízo de facto reconhecer-se que Carlos Carreiras é brilhante, “é um grande Presidente de Câmara” e o seu mérito à frente de Cascais é, citando o Presidente, “matéria incontroversa”. Carlos Carreiras conseguiu algo inédito – um Presidente da República, a um ano de eleições autárquicas, diz que o mérito de um Presidente de Câmara é um juízo de facto e incontroverso. Mais vale, atendendo às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, dispensarem-se as eleições autárquicas em Cascais…Para quê realizar-se um acto democrático, eleitoral, sobre matéria de facto incontroversa?
9.Dito isto, Carlos Carreiras merece todos os elogios. Pelo trabalho notável em Cascais – e por aturar os “Mauros Xavieres” desta vida…