Poucos momentos, na vida de um fotojornalista, serão tão recompensadores como ver um trabalho efetivamente ter influência na sociedade, corrigir alguma injustiça, alertar para algum crime. Foi justamente o que aconteceu a Mário Cruz.
O português, fotojornalista da agência “Lusa”, dedicou-se, durante meses, a acompanhar e fotografar crianças talibés, escravizadas em falsas escolas corânicas no Senegal. O trabalho em questão valeu a Mário Cruz vários prémios, um deles no âmbito do World Press Photo – na categoria Assuntos Contemporâneos – e outro a nível nacional, na Estação de Imagem.
Em maio, o fotógrafo iniciou uma sessão de crowdfunding e entretanto conseguiu reunir os fundos necessários para transformar a reportagem em livro, que foi lançado este sábado.
“Talibes – Modern Day Slaves” foi apresentado numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República. Marcelo Rebelo Sousa elogiou Mário Cruz, salientando justamente o facto deste trabalho ter servido como denúncia e ter efectivamente marcado a diferença, contribuindo para a felicidade de cerca de 500 crianças que foram resgatadas e das suas famílias.
De resto, logo após o anúncio da distinção no World Press Photo 28 crianças foram resgatadas.
Durante a apresentação do livro, Mário Cruz recordou as dificuldades que enfrentou para ter acesso às falsas escolas corânicas, onde viu crianças acorrentadas e chicoteadas. Segundo o fotojornalista, só nas ruas das cidades do Senegal estão a mendigar 50 mil crianças, que “são agredidas e violadas diariamente” pelos alegados professores destas falsas escolas.
Consciente deste flagelo – para o qual terá sido alertado pelo trabalho de Mário Cruz – o Presidente daquele país decretou que todas as crianças apanhadas a mendigar fossem ajudadas e declarou as falsas escolas ilegais. Mais: pelas ruas de Dacar, são agora distribuídos panfletos, que usam algumas das imagens realizadas pelo fotógrafo português, com o objetivo de alertar para este problema.