Várias horas depois de a tempestade tropical mais violenta numa década ter atingido na terça-feira as zonas litorais do sudeste do Haiti era ainda difícil saber quantas pessoas estavam mortas, quantas casas foram destruídas e que tipo de assistência humanitária será necessária nos próximos dias. Apesar disso, um primeiro balanço governamental, citado ontem pelas Nações Unidas, estimava que pelo menos 350 mil pessoas estivessem em risco, referindo-se à pior situação humanitária no pequeno país depois do violento terramoto de 2010.
Os ventos de mais de 230 quilómetros por hora destruíram dezenas de casas de madeira e zinco, causaram inundações graves em pelo menos 11 localidades – na cidade portuária de Les Cayes andava-se ontem com água ao nível dos ombros – e destruíram pelo menos uma ponte vital para o envio de ajuda ao sudoeste do país. As comunicações estavam também em baixo. A mais recente estimativa dizia terem morrido 11 pessoas.
“Não temos muita informação quanto ao número de pessoas mortas, mas a principal preocupação é dar abrigo aos desalojados: muitas pessoas perderam o telhado ou ficaram sem casa. O telhado da grande igreja de Les Cayes, que é um dos grandes símbolos da cidade, ficou destruída”, contava ao “Guardian” Prospery Raymond, o gestor de uma organização de caridade no Haiti. Segundo ele, a grande tempestade de terça-feira devastou também muitas colheitas e afogou centenas de cabeças de gado, deixando antever uma escassez alimentar para breve – a Organização Mundial de Saúde preparava ontem mantimentos para alimentar 300 mil pessoas por mês.
A maior preocupação de quem opera no Haiti é sobre o que o furacão Matthew pode fazer ao surto de cólera, que as próprias Nações Unidas inadvertidamente levaram para o país no rescaldo do terramoto. A água enlameada pelas chuvas aumenta o risco de contágio desta e de outras doenças transportadas por água. Já morreram mais 30 mil pessoas de cólera desde 2010, nove mil só este ano – foram diagnosticados 27 mil casos suspeitos desde janeiro. Os surtos são tão mais graves por ainda restarem 55 mil pessoas desalojadas pelo terramoto.