Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. A sabedoria popular tem soluções para tudo, mas uma equipa de investigadores espanhóis acredita estar a dar um novo passo na compreensão da mente humana. Pela primeira vez usaram um algoritmo para avaliar comportamentos e concluíram que parecem existir quatro perfis básicos nos quais encaixa a maioria da população. Segundo a equipa da Universidade Carlos iii, de Madrid, o mundo parece dividir-se de forma praticamente igual entre otimistas, pessimistas, invejosos e confiantes. Em 541 cobaias analisadas, 90% encaixaram nestes perfis. Os invejosos parecem estar, contudo, em ligeira maioria: abrangem uma fatia de 30% dos participantes, enquanto os outros perfis representaram dois em cada dez. Apenas 10% dos participantes deixaram o computador baralhado com as suas atitudes, por não terem traços dominantes de nenhum tipo.
A investigação foi publicada na revista científica “Science Advances” e a grande novidade no estudo comportamental é que a análise dos perfis não foi subjetiva: foi um programa informático que analisou as reações das cobaias e a reflexão que os levou a reagir de uma forma ou de outra perante um conjunto de dilemas sociais que implicavam alguma cooperação. Um exemplo? Duas pessoas podem caçar um veado juntas, mas se forem sozinhas só conseguem apanhar coelhos. Alguém que pertença ao grupo dos invejosos preferirá caçar coelhos porque, pelo menos, vai sair-se tão bem como o outro caçador ou até melhor. O otimista prefere caçar em conjunto porque é a melhor opção para ambos. O pessimista aposta nos coelhos porque, pelo menos, tem a certeza de que apanha alguma coisa. O confiante opta pelos veados porque o que lhe importa é colaborar.
“O engraçado é que a classificação foi feita por um algoritmo informático que poderia ter obtido um número muito maior de grupos mas acabou com quatro tipos de personalidade”, explicou Yamir Moreno, um dos autores do estudo citado no comunicado da universidade. “Este tipo de classificação através de algoritmos tem sido usada com sucesso noutros campos, como a biologia. A aplicação no estudo do comportamento humano é bastante revolucionária, uma vez que os trabalhos anteriores predefiniam os comportamentos expectáveis antes das experiências terem lugar, em vez de permitirem a um sistema externo dar-nos automaticamente informação sobre os grupos mais lógicos”, acrescentou Jordi Duch, outro membro da equipa.
Os investigadores acreditam que a investigação abre portas à imparcialidade no estudo do comportamento humano, o que pode ter alguns impactos. “Os resultados contrariam algumas teorias, por exemplo de que os humanos agem de forma essencialmente racional, por isso devem ser tidos em conta no desenho de políticas sociais e económicas ou de cooperação”, concluem.
Não temos o algoritmo, mas pode tentar ver em que perfil melhor encaixa sem ter de pensar muito em coelhos ou veados. De acordo com as definições apresentadas pela equipa, os invejosos são aqueles que não se importam com o que alcançam, desde que sejam melhores do que os outros; os otimistas acreditam que, acompanhados, vão fazer as melhores opções para si e para os outros; os pessimistas preferem sempre o “menor dos males”; e os confiantes são colaboradores natos e preferem sempre cooperar sem pensar duas vezes – não lhes importa ganhar ou perder.