Acabaram as razões para lamentos e preocupações sobre o futuro do futebol português. Não no geral, claro, que há sempre coisas para melhorar – e o povo é exigente, obviamente. Mas pelo menos, agora já há um goleador – desculpa lá, Éder, mas é verdade. Depois de anos e anos de choro pela ausência de um verdadeiro homem-golo (até Pauleta e Nuno Gomes eram criticados, vá-se lá perceber porquê), eis que chega um menino de 20 anos e desbarata isto tudo: Silva. O seu nome é André Silva.
Em quatro jogos pela Seleção A, o avançado do FC Porto soma quatro golos, três dos quais apontados ontem. É certo que os adversários que os sofreram, Andorra e Ilhas Faroé, não pertencem ao topo do futebol mundial – são mesmo lá do fundo, na verdade. Mas números deste calibre nunca se podem desprezar, sejam contra que adversários forem. Esperança para o futuro, já há: resta-nos acreditar que o prodígio portista não se perca por portas e travessas, como tem acontecido com tantos outros ao longo do caminho – leste bem, Nélson Oliveira? Pois.
Ronaldo não faltou à chamada Ontem, como sempre, todos os olhos estavam postos em Cristiano Ronaldo. Com os quatro golos apontados à Andorra, o capitão ascendeu aos 22 golos no conjunto de fases de apuramento e fases finais de mundiais, ficando a apenas um do recorde nacional, detido por Pauleta. Já o igualou, mas foi preciso esperar até aos 65 minutos para tal. Valeu a pena, pois foi o melhor golo da noite: um tiraço de pé esquerdo, que ainda raspou na luva do guarda-redes das Ilhas Faroé. Mas levava aquele selo que todo o amante de futebol reconhece – e foi entregue.
Este foi, porém, o quarto golo de Portugal na fria noite de Tórshavn. Antes, já tinha havido direito a um show muito particular: o de André Silva, pois claro. Foram três os golos do jovem jogador do FC Porto, e todos no espaço de 25 minutos. Primeiro, aos 12’, numa finalização fria, serena, como se fosse um ponta de lança veterano na cara do guarda-redes, após uma intervenção falhada de um central adversário. Dez minutos volvidos, usou a cabeça para pôr a bola direitinha no único sítio onde podia entrar, na recarga a uma defesa incompleta do guardião após cruzamento de Quaresma. Aos 37’, a entrada para o panteão dos autores de hat tricks pela Seleção nacional, novamente numa recarga, agora após um remate fortíssimo de meia distância de João Cancelo – também ele mais uma vez numa rotação altíssima.
Gelson e Cancelo elétricos Ao intervalo, a coisa estava feita, obviamente. Mas havia a tal ânsia de Ronaldo em marcar – tão natural como a sua sede, como dizia o anúncio. E Ronaldo marcou. Mas também havia vários jovens cheios de ambição de vingar neste patamar – para quem clamava por uma renovação urgente em relação à faixa etária da Seleção, ontem estiveram quatro jogadores abaixo dos 23 anos no onze inicial (Cancelo, André Gomes, João Mário e André Silva), além de Gelson Martins, lançado aos 68’ para o lugar de Quaresma.
E foi precisamente Gelson a criar a primeira grande oportunidade da segunda parte, aos 70’, num cruzamento perfeito para André Silva. O matador desta vez não matou, porque o guardião Nielsen fez uma defesa sensacional. No canto consequente, Pepe cabeceou diretamente contra um central faroense que estava posicionado mesmo em cima da linha. O 5-0 estava ali à espreita, mas nunca mais chegava – pelo meio, as bancadas continuavam em festa, como desde o início: naquelas paragens, os resultados são secundários.
Mas o campeão europeu não facilitou, apesar de ter tirado o pé do acelerador em certos momentos. Na parte final, voltou a pô-lo e de que maneira: um minuto após os 90, João Moutinho fez um golaço, num remate em arco de fora da área. E aos 90’+3’, outro João, o Cancelo, voltou a aventurar-se por aí fora e fechou as contas. Três jogos na Seleção, três golos: é defesa, mas pouco. Ah, e parabéns ao míster: Fernando Santos festejou ontem 62 anos e os seus meninos deram-lhe uma bela prenda.