Era um dos danos colaterais possíveis do Brexit e foi confirmado esta quinta-feira por Nicola Sturgeon. Pouco mais de dois anos após a realização de um referendo sobre a independência da Escócia – que resultou na vitória “não” à saída, com 55.3% dos votos – a líder do Partido Nacional Escocês (SNP) e do governo autónomo daquela região do norte do Reino Unido anunciou que irá apresentar uma proposta legislativa que permita a realização de um segundo referendo, antes da saída oficial dos britânicos da União Europeia.
“Estou determinada a que a Escócia tenha a capacidade para reconsiderar a questão da independência e a fazê-lo antes que o Reino Unido abandone a UE”, confirmou Sturgeon, citada pelo jornal “The Guardian”, num discurso inflamado, perante os membros do seu partido, em Glasgow. “E se pensarem, por um segundo que seja, que não falo a sério sobre fazer o que for preciso para defender os interesses da Escócia, então pensem outra vez”, acrescentou, em tom de desafio, numa clara alfinetada ao governo e, nomeadamente, à primeira-ministra Theresa May.
Conforme anunciou, para gáudio dos seus colegas partidários, a líder do SNP irá apresentar uma proposta de lei, já na próxima semana, que permita à Escócia voltar às urnas, antes de março de 2019 – data prevista para a saída formal dos britânicos da União – para decidir se quer a independência, depois de, no dia 18 de setembro de 2014, 55.3 % dos escoceses terem votado contra a separação do Reino Unido e 44.7% a favor da mesma.
Brexit mudou tudo
A decisão popular escocesa de manter o território agregado à Inglaterra, à Irlanda do Norte e ao País de Gales, parecia ter deixado o combate da independência, liderado por Sturgeon, para umas décadas mais tarde. Até porque o objetivo de voltar a colocar a Escócia no mapa político britânico foi conseguido, um ano depois, nas eleições legislativas, com a consagração do SNP e a sua afirmação como terceira força partidária em Westminster.
Mas o resultado do referendo, realizado no passado mês de junho, que oficializou a intenção dos britânicos de abandonarem a União Europeia, voltou a dar força às vozes que defendem a independência da Escócia. Isto porque, na região escocesa, o “não” ao Brexit venceude forma clara: 62% contra 38%.
Neste sentido, o raciocínio de Sturgeon é simples e o encadeamento lógico, por ela defendido, ainda é mais: O Reino Unido decidiu pelo Brexit. Na Escócia venceu o “não” à saída. A Escócia quer ficar na UE. A Escócia quer ser independente.
E é segundo este fundamento que a primeira-ministra escocesa entende que possui um “mandato político poderoso” para voltar a falar em independência.
Sturgeon aproveitou o discurso para lançar duros ataques ao Partido Conservador e à atuação de May, no que toca aos planos para a saída do Reino Unido da UE. “A ala direita do Partido Tory está em ascendência e procura sequestrar o resultado do referendo”, disse, citada pelo Independent. Isto porque, acusou, “estão a utilizar [o Brexit] como licença para a xenofobia”, numa referência a um plano do governo, entretanto abandonado, de obrigar as empresas britânicas a fazer uma lista dos seus empregados de nacionalidade estrangeira.
Para além da pretensão do referendo, Sturgeon também anunciou que o SNP vai votar contra a legislação apresentada por May, para oficializar o Brexit, uma vez que “os escoceses não votaram nesse sentido”.