Do austríaco Ulrich Seidl habituamo-nos a esperar relatos cínicos e silenciosos de algumas tendências dos seus conterrâneos. Seja as aberrações privadas “Na Cave” (2014) ou nos desvios da trilogia “Paraíso”. Aqui temos uma nova variante do seu olhar, agora centrado num grupo de caçadores que procura a descarga de adrenalina do disparo certeiro num futuro adorno de parede.
Uma atividade devidamente facilitada por peritos que os conduzem ao local, lhe apontam a presa, colocam o tripé para a espingarda de longo alcance e até os ajudam a compor o animal morto para as fotos da praxe. Como que uma encenação da celebração da morte. Isto depois de selecionado o bicho num longo cardápio de preços. Mas também há, os mais idosos, quem prefira aguardar a passagem do bicho diante da objetiva num pequeno bunker de madeira a beberricar cerveja.
Em certo sentido, “Safari” é uma variante de “Paraíso: Amor” (2012), em que as “sugar mammas”, as balzaquianas austríacas, iam à ‘caça’ de negros jovens para umas férias de sexo e lazer. O registo é implacável e imperturbável. Com o mesmo olhar lívido dos troféus que inundam as paredes daquela villa na Namíbia.
O problema é que este realismo cru de Seidl já não nos surpreende da mesma forma. Como que começa a denotar até alguma falta de frescura. O cinismo continua ácido, mas a denotar um tom algo repetitivo. Continua bom. Mas menos.