O reencontro entre o ministro dos negócios estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, para debater uma resolução para a guerra na Síria, foi inconclusivo. Os dois diplomatas estiverem reunidos no sábado, em Lausanne, na Suíça, e, após quase cinco horas de conversa, comunicaram aos jornalistas que tinham trocado algumas “ideias”, que necessitavam de “continuidade”. Mas não havia planos concretos para apresentar.
As expectativas não podiam ser altas, admita-se, tendo em conta a quantidade preocupante de divergências que separam os EUA e a Federação Russa, nos dias que correm, e não apenas em relação ao conflito na Síria.
Para além disso, o encontro entre as duas delegações – que também juntou representantes da Arábia Saudita, do Egipto, do Irão, do Iraque, da Jordânia, do Qatar, da Turquia e das Nações Unidas – aconteceu depois de duas semanas de denúncias graves, de parte a parte, com os EUA (e alguns países europeus) a acusarem Moscovo de ter cometido “crimes de guerra” em território sírio, nomeadamente pela responsabilidade no ataque a uma coluna de camiões de transporte de ajuda humanitária e com a Rússia, por seu lado, a defender que a coligação liderada pelos norte-americanos, continua a apoiar “terroristas sírios”, na luta contra o exército do governo de Bashar al-Assad.
Tanto a corda esticou que, no início do mês, Kerry afirmou ter “perdido a paciência” com o Kremlin e anunciou o fim das negociações diplomáticas sobre a Síria, enquanto os caças russos e sírios não parassem de bombardear Alepo.
Anunciada por Lavrov a meio da semana, a reunião de Lausanne, descrita pela Al-Jazeera como “tensa e difícil”, não deu lugar a uma conferência de imprensa ou a um comunicado conjunto, mas apenas a algumas curtas declarações aos jornalistas. Também não houve um anúncio sobre o fim dos bombardeamentos em Alepo, nem tão pouco sobre um eventual acordo de cessar-fogo. A única matéria que todos acordaram foi a de continuar a falar, embora comunicada em termos demasiado vagos.
“Existem algumas ideias que discutimos (…) que podem influenciar a situação”, contou Lavrov à comunicação social do seu país, citado pelo jornal britânico “The Guardian”. “Acordámos em continuar os contactos nos próximos dias, que apontem a compromissos (…) [e] falámos claramente a favor do início rápido de um processo político”, disse ainda.
As declarações do secretário de Estado norte-americano, depois do encontro, não foram muito mais elucidativas que as do seu homólogo russo. “Ninguém quer fazer isto de forma descuidada”, tentou explicar Kerry, revelando que o encontro de sábado foi dirigido no sentido da “urgência em encontrar algo que funcione para além da ação militar”. Nesse sentido, afirmou o diplomata, o próximo passo teria de ser o de “tentar dar continuidade” ao que foi debatido, de forma “imediata”.
De Lausanne para Londres
A continuidade pode muito bem ser dada em Londres, este domingo, para onde Kerry partiu, depois do encontro com Lavrov, para se juntar ministros dos negócios estrangeiros do Reino Unido, Alemanha e França.
Segundo a BBC, o encontro servirá também para debater o recente envolvimento direto dos EUA na guerra civil do Iémen, depois de dois anos de apoio logístico e venda de armamento à Arábia Saudita