A não-intervenção militar direta dos Estados Unidos no Médio Oriente sempre foi uma premissa-chave da estratégia de política externa de Barack Obama, fruto do legado que lhe foi deixado pelo seu antecessor, George W. Bush, e da pressão da opinião pública norte-americana.
Mal rebentou a guerra civil no Iémen, em 2014, resultante da invasão do norte do país pelos rebeldes xiitas, apoiantes do ex-Presidente Ali Abdullah Saleh, o Presidente dos EUA manteve a estratégia e deixou que a Arábia Saudita liderasse uma coligação sunita, a partir de março de 2015, com vista à reconquista do território perdido para os hutis e à reposição no poder do exilado Abdu Rabbu Mansour Hadi.
Durante os dois anos que se seguiram, os EUA e outros países ocidentais, como o Reino Unido, optaram manter a distância, limitando a sua participação no conflito à venda de armas, apoio logístico, treino e troca de informação militar com os sauditas.
Entretanto o Ocidente esqueceu-se deste conflito e ignorou as mais de 10 mil mortes e os 3 milhões de deslocados que dele resultaram. Até há pouco tempo.
No semana passada, a coligação saudita bombardeou um funeral na capital iemenita, matando mais de 150 pessoas e ferindo perto de 600. A resposta não se fez tardar e no dia a seguir ao ataque, um navio de guerra norte-americano, estacionado em águas internacionais, no Mar Vermelho, por pouco não foi atingido por dois mísseis, disparados de territórios controlados pelos rebeldes. E a imprensa ocidental voltou a lembrar-se da guerra ‘esquecida’ do Iémen.
A tentativa de agressão ao USS Mason acabou por resultar numa tomada de posição inesperada, por parte dos EUA. Pela primeira vez desde o início do conflito, os norte-americanos saíram da sombra e retaliaram, na quinta-feira, bombardeando áreas controladas por rebeldes, na região oeste do país. «Os alvos foram escolhidos com base na nossa avaliação de que estiveram envolvidos no lançamento recente dos mísseis», explicou Peter Cook, um porta-voz do Pentágono, citado pelo The New York Times. «[Os nosso disparos] foram lançados no sentido de defendermos os nossos barcos e as suas tripulações, e para protegermos a liberdade de navegação num canal que é de importância vital para o comércio internacional», justificou. O navio de guerra USS Nitze disparou mísseis contra três radares hutis, perto da cidade costeira de Moca, banhada pelo mar onde cruzam mais de 4 milhões de barris de petróleo por dia.
As próximas semanas podem ser decisivas para percebermos se esta intervenção militar norte-americana foi um simples ato de retaliação ou se, por outro lado, irão envolver-se abertamente no conflito, como os hutis argumentam desde o início.