1.Mário Centeno apresentou, após tantas polémicas no Verão, o seu Orçamento de Estado. Ou melhor, o Orçamento de Estado que António Costa e os seus imperativos políticos impuseram. A discussão sobre a relevância do Orçamento de Estado para o futuro da economia e das finanças portuguesas são manifestamente exageradas: este Orçamento é apenas mais uma peça da engrenagem da “geringonça”, mais preocupada com a sua estabilidade interna, com os compromissos assumidos pelos partidos extremistas (incluindo o extremo-PS de António Costa) do que com a estabilidade financeira do país e com o crescimento da economia.
2.Já tínhamos percebido que Mário Centeno tem um peso diminuto no Governo: o que explica que o Ministro das Finanças, ao contrário dos anteriores executivos, incluindo o de José Sócrates até certa fase, não integre o núcleo duro do Governo. António Costa manda; Mário Centeno faz. António Costa quer; Mário Centeno cumpre.
Se há pessoa que desconfia certamente do Orçamento de Estado apresentado no Parlamente e já enviado para Bruxelas, essa pessoa chama-se Mário Centeno. Podemos até sintetizar do seguinte modo: este é o Orçamento do Mário contra o Centeno.
É o orçamento do Mário – o Ministro das Finanças que obedece a António Costa, que adequa as finanças públicas às conveniências políticas do Primeiro-Ministro e que nega o seu pensamento para se manter como Ministro das Finanças (Teixeira dos Santos durante anos fez o mesmo – e a verdade é que a história acabou como acabou…infelizmente, sobretudo, para os portugueses!).
Contra o Centeno – porque trata-se da negação do pensamento económico do Professor Doutor Mário Centeno, ilustre académico na área da economia, de inspiração liberal, que, sem qualquer dúvida, estaria, nesta altura, a zurzir nas opções económicas e financeiras da “geringonça costista”, acaso estivesse a leccionar na Universidade.
3.Dito isto, a primeira conclusão que resulta da análise do Orçamento de Estado é que se confirma que a estratégia da geringonça costista é a falta de estratégia para Portugal. Esta solução política serve essencialmente para António Costa ser Primeiro-Ministro – e evitar que o PSD governe.
Ponto final. Quanto ao mais, é pura navegação à vista: ora agradar aos comunistas e aos bloquistas; ora agradar a Bruxelas; ora agradar aos camaradas socialistas. Basicamente, as prioridades do Portugal geringonçado são três: 1) aumentar o funcionalismo público, para manter e reforçar o eleitorado tradicional e mais militante do PS; 2) Reverter as privatizações dos transportes para manter o poder dos sindicatos do PCP, ao mesmo tempo que, lentamente, o Código do Trabalho se prepara para ser novamente proteccionista, ao arrepio da evolução da economia e dos nossos concorrentes económicos; 3) conferir ao BE um estatuto de poder, dando-lhes a sensação de que poderão crescer às custas do PS.
4.Ora, este Orçamento é apenas isso: o reflexo dos interesses imediatos das três forças políticas de esquerda. Todos clamam vitória: o PS diz que apresentou um Orçamento de esquerda; o PCP diz que condicionou o PS a reverter o “ataque aos direitos dos trabalhadores”; o BE diz que foi graças aos seus deputados e à solução de Governo que promoveu que o país rompeu com a austeridade. Todos ganharam. Excepto os portugueses.
5.Portugueses, que ficaram a saber, finalmente, que um Orçamento de esquerda (que a oposição tanto andou a propalar nos últimos anos) é aquele que aumenta os impostos indirectos (que a esquerda, quando Passos Coelho seguiu o mesmo caminho, dizia ser o imposto mais injusto socialmente, porque era um imposto cego); que aumenta os funcionários públicos em vinte e cinco cêntimos (é verdade, leitor, não leu mal: nós até escrevemos por extenso para que não haja dúvidas) no subsídio de refeição; que, afinal, só acaba gradualmente com a sobretaxa de IRS (afinal, esta medida diabólica também agrada à esquerda, e esta hein?); as reformas mais baixas, dos sectores mais excluídos da sociedade portuguesa, estão subtraídas a qualquer aumento.
Aqueles que mais precisam do Estado – são aqueles que o governo de António Costa abandona…Pensões que, mesmo nos anos de austeridade, o Governo de centro-direita sempre protegeu e aumentou! Afinal, quem é o defensor da justiça social?
Depois, inventam-se novos impostos, alegando razões de saúde! Pois, pois, saúde, dizem eles! Só se for para dar cabo da saúde dos portugueses – abdicando de tratar da saúde do Estado português – mais impostos significa que este governo da extrema-esquerda, com o extremo-PS, vai aumentar o colesterol, as gorduras do Estado. A nós, cobram-nos o “fat tax”; o Estado é o “ fat tacho”- e vai continuar a ser ainda mais o “fat tacho” a dividir pelas esquerdas.
6.E medidas que promovam o investimento? Nada. E medidas que promovem sectores da economia nacional cruciais para o nosso futuro? Nada. Zero. E que apostem na inovação e no conhecimento? Nada. Está demostrado que é um Orçamento esperto e um Orçamento perigoso.
Um Orçamento esperto, porque serve as conveniências políticas de António Costa, passando mais uma vez por “entre os pingos da chuva”, leia-se, por entre os pingos da extrema-esquerda e, previsivelmente, de Bruxelas.
E um Orçamento perigoso – porque coloca novamente Portugal na rota da insolvência financeira e agrava os problemas da nossa economia, promovendo um regresso ao passado (este Orçamento poderia ser do Governo de José Sócrates, de 2009 ou 2010…). Assim, Portugal não tem futuro.
7.Conclusão: este é um Orçamento mau. Mau para os mais velhos, para os reformados, para aqueles que não têm já ânimo, nem força física para ir em busca de novas oportunidades, depois de uma vida de trabalho e prejudicados pelo próprio poder político português, que é só um, independentemente das vicissitudes políticas.
E mau para os jovens porque volta a promover um desequilíbrio geracional, visível até na função pública: os que estão no regime privilegiado beneficiam porque têm a protecção do PCP e do PS; os que estão em regime de contrato de trabalho em funções públicas pagam em dobro – não merecem a protecção dos camaradas comunistas e socialistas; e ainda vão pagar todos os impostos indirectos que Mortágua e companhia lá inventaram. Já para não dizer que os jovens pagarão a factura, porque o que fazemos hoje, o que destruímos hoje – vai-se repercutir por vinte, trinta anos (se não mais).
7.O orçamento de Centeno/Mortágua/ Jerónimo de Sousa é mau, mau é, para o avô e para o bébé. Não respeita o passado – coloca em risco o futuro. O nosso futuro.