A campanha militar nos arredores de Mossul abrandou ontem, passados dois dias de avanços rápidos sobre as pequenas aldeias que rodeiam a maior cidade alguma vez conquistada pelo grupo Estado Islâmico.
Na frente leste, os peshmerga curdos devem parar pelo menos dois dias, em parte à espera que os soldados iraquianos no sul avancem com a sua própria ofensiva, e em parte para limpar as aldeias recém-conquistadas de todas as armadilhas, explosivos e túneis deixados para trás pelos combatentes extremistas.
A sul, os soldados iraquianos avançam mais lentamente do que os seus aliados curdos. Esta frente tem ainda qualquer coisa como 70 pequenas aldeias para serem tomadas, antes de se conseguir chegar ao centro urbano de Mossul, onde cerca de um milhão e meio de pessoas e mais de quatro mil combatentes jihadistas os esperam. O Estado Islâmico parece estar a resistir mais nesta zona sulista, travando o progresso iraquiano com muitos e rápidos ataques suicidas – um plano que não conseguiram levar a cabo para abrandar os avanços dos combatentes curdos, a leste.
À medida que as duas forças vão ganhando terreno aos terroristas e vão libertando as aldeias que envolvem Mossul, cresce o número de civis fugitivos, em direção à Síria, a oeste. Segundo a organização humanitária “Save the Children”, mais de 5 mil pessoas cruzaram a fronteira, nos últimos 10 dias, rumo ao campo de refugiados de al-Hol. Números que assustam, mas que estão longe das estimativas feitas pelas equipas humanitárias, que preveem mais de um milhão e meio de deslocados, no total.
Face a estas previsões, caracterizadas pela ONU como “a maior crise humanitária dos últimos tempos”, começa a ser expectável que as infraestruturas criadas para receber quem foge da guerra não consigam apresentar as condições mínimas exigíveis. No campo de al-Hol, na Síria, com capacidade máxima para acolher 7500 pessoas, já se encontram perto de 9 mil refugiados. “O campo está a rebentar pelas costuras e corre o risco de se desmoronar”, admite um ativista, citado pela BBC.
Antes de chegarem aos campos, os deslocados de Mossul terão ainda de sobreviver a um caminho penoso, pelo meio de ruínas e aldeias abandonadas e no qual operam grupos de contrabandistas e assaltantes.