Nova Iorque, Londres, Milão, Paris, Maria Clara esteve em todas, 37 desfiles ao todo, e depois ainda fez questão de não perder a ModaLisboa, no fim de semana passado, e o Portugal Fashion, que termina hoje, no Porto. Conversa encaixada entre tudo isso e uma viagem que não sabia ainda se havia de acontecer, vida de manequim é assim, que nos trouxe à memória outra que teve com o “Observador” há meio ano, no Porto, entre um cheesecake e a dúvida sobre se havia de comer o segundo. Gucci, Valentino, Kenzo, Dolce & Gabbana e Maria Clara Vasconcellos, 19 anos e mais do que lançada numa carreira internacional, continua a dizer, como escreveu no Instagram quando abriu o desfile de Luís Buchinho na última Semana da Moda de Paris:_“Always a pleasure to open a Portuguese show in Paris”.
É que apesar de tudo Portugal será sempre a sua casa. “Não poria sequer em hipótese não desfilar na ModaLisboa e no Portugal Fashion”, diz-nos. “Tenho uma paixão tão grande pela passerelle que, mesmo que esteja cansada, arranjo sempre energia e motivação para dar o meu melhor e divertir-me nesses dois minutos de trabalho”, diz. Trabalho com aspas, sublinha, que é assim que encara isso de “representar as coleções e visões daqueles que [lhe] deram a mão no início da carreira”, cujo trabalho tem “o maior prazer em acompanhar”.
Nesta era em que o fim do tempo das supermodelos já foi mais que decretado, Maria Clara é a primeira a dizer que sim, é verdade, mas que continuam a ser elas a fonte de inspiração para tudo o que faz. “Se essa era acabou, então há de haver alguém a criar uma nova e com trabalho e perseverança procuro construir o meu caminho.” E “não há segredos”, diz-nos, tem sobretudo a ver com “dar o nosso melhor em cada trabalho que fazemos”. Trabalho, tem tudo a ver com trabalho, diz. E foco. Talvez por isso tenha dito, na semana passada, numa entrevista ao “Diário de Notícias” sobre a aposta das grandes marcas internacionais em celebridades das redes sociais, como Gigi Hadid ou Kendall Jenner, sentir que isso é “injusto para quem trabalha, é mesmo modelo, e passa por todo o processo de seleção até conseguir uma campanha” ou um desfile. “Para mim, não são modelos”. Talvez por isso também pareça perturbada com as vezes em que, em desfiles, “o andar pode não interessar”, e por isso vermos em desfiles “pessoas que não sabem andar”. Afirmações polémicas (e com os devidos pedidos de desculpas) de quem se aborrece quando lhe perguntam num casting quantos seguidores tem no Instagram. Esta semana eram 6.593, confirmámos nós, e isso parece muito pouco, prova de que não é mesmo por aí que Maria Clara, que não tem ainda nem página na Wikipedia, tem construído o seu percurso.
Ainda assim, quando falamos no assunto, reconhece que “a indústria está a mudar para uma época mais digital” e que é necessária uma adaptação, “de acordo com as exigências” do momento. “Quando criei a minha conta de Instagram foi simplesmente para fins profissionais porque me fui apercebendo dos benefícios que me poderia vir a trazer. É uma plataforma onde podemos expor o nosso trabalho e assim chegar a possíveis clientes não só em Portugal como no estrangeiro.”
Maria Clara começou a dedicar-se realmente à construção de uma carreira como manequim depois de em 2013, com apenas 15 anos, ter vencido a primeira edição do L’agence Go Top Model, mas o seu destino há muito que parecia traçado. Aos três anos, começou a fazer campanhas publicitárias, depois de um scouter a ter descoberto na praia, era ela a menina com cabelo aos caracóis que abria aquele anúncio de apelo à reciclagem “era uma vez… uma embalagem de cartão”. A partir daí, veio aos poucos a vontade e a certeza de que era esta a profissão que queria ter. E Maria Clara considera-se diferente na sua forma de pensar daquilo que se esperava de quem está na indústria da moda. “Não dou importância aos acontecimentos futuros, mas sim aos presentes”, explica. “Nunca se sabe o que futuro reserva e desta forma não me permito entrar em desilusão por não ter cumprido as minhas metas. Claro que tenho certos objetivos que adoraria que se concretizassem, mas tudo a seu tempo. E se ainda não aconteceram até agora é porque não tinham que acontecer. Simplesmente deixei as coisas acontecerem e os factos falarem por si só, com foco e trabalho”.