Estão iguais, palmo a palmo: segundo lugar, atrás do Bayern de Munique, como não podia deixar de ser, quatro vitórias e três empates (em sete jogos), 12 golos marcados e quatro sofridos para um e cinco para outro. O um é o Colónia, bem mais habituado a estas vidas do que o outro, o Red Bull Leipzig. Sorrisos rasgados na cara dos adeptos, e um bode (Hennes) e um boi (um touro, se quiserem os mais tauromáquicos), felizes nos emblemas em foco neste momento da Bundesliga.
1.Fussbal-Club Köln: o Colónia, à portuguesa, é um dos clubes históricos da Alemanha mas, apesar disso, com apenas dois títulos de campeão – 1963/64 e 1977/78 –, e já lá vão uns anitos bem contados, como se pode ver. Alcunha: “Die Geissböcke”, isto é, os bodes, por via de um brasão bem identificativo, um bode de patas dianteiras assentes nas cúpulas da catedral de Colónia. E o bode tem nome: Hennes. Por causa de Weisweiler, Hans Weisweiler, diminutivo Hennes, jogador do clube nos anos 40, treinador por três vezes (1948/52; 1955/58; 1976/80), que passou também pelo Borússia de Mönchengladbach, Barcelona e Cosmos de Nova Iorque, por exemplo. Foi ele, portanto, o responsável pelo último título. E, assim sendo, que melhor nome para o bode?
Anos terríveis
2010/11 foi uma das épocas terríveis do Colónia: desceu de divisão. Na época seguinte não foi além do quinto lugar e por lá ficou. Regressou em 2014/15 e procura agora ir em busca do tempo perdido com a vontade de um Proust. O treinador é austríaco, Peter Stöger, e pela primeira vez trabalha fora do seu país, onde já orientou o Áustria, o Rapid, o Tirol Innsbruck e o Admira Wacker. Tudo gente com pergaminhos. No Áustria de Viena foi campeão e ganhou lastro para se transferir para a Alemanha, já que aí a língua não atrapalha. Foi o responsável pela subida do Colónia e por lá se tem mantido, obtendo mesmo a melhor classificação do clube nos últimos 24 anos: nono lugar. Já no decorrer de 2016, passado mês de setembro, nova alegria para os bodes: durante uma semana ocuparam o primeiro lugar da Bundesliga – algo que não acontecia há 20 anos.
Talvez nomes como Timo Horn (guarda-redes da seleção olímpica alemã), Jonas Hector (que já conta com 21 internacionalizações pela “Mannschaft”) ou o veterano Matthias Lehmann façam soar campainhas para aqueles que mais se dedicam à causa do futebol, mas são jovens como Leonardo Bittencourt e Lukas Klünter que asseguram o futuro de uma equipa com ambições de retomar brilhos de antanho.
Não é possível adivinhar quanto tempo se manterá o Colónia no topo da Bundesliga. A concorrência é forte e irredutível. Mas, para já, os amigos do bode Hennes gozam dias de sol.
Surpresa das surpresas
A outra surpresa destas primeiras sete jornadas do campeonato alemão é ainda mais surpreendente e vem do Leste, agora englobado na Alemanha moderna e indivisível: RasenBallsport Leipzig, muito comercialmente chamado de Red Bull Leipzig, por causa dos seus novos proprietários, e mais envergonhadamente conhecido por RB Leipzig, que as iniciais idênticas dão um jeitão.
Recordar-se-ão aqueles cuja geração para aí esteve virada do velho Lokomotiv Leipzig, que dividia com o Magdeburgo o maior naco das presenças europeias dos clubes da desaparecida República Democrática Alemã. Este Leipzig de hoje foi arrancado aos confins da 5.a Divisão, onde jazia sob a denominação desacreditada de Spiel- und Sportverein Markrandstädt, pela marca de bebidas energéticas que lhe atribuiu a nova nomenclatura.
Nova nomenclatura e nova vida. Trepando lugar a lugar, campeonato a campeonato, o RB Leipzig atingiu esta época a i Divisão. E parte à disparada junto dos grandes, lá na frente – ver-se-á, igualmente, por quanto tempo. Depois da experiência levada a cabo em Salzburgo e Nova Iorque, a Red Bull decidiu apostar fortemente na Bundesliga. Foram consideradas várias hipóteses, de Düsseldorf (Fortuna) a Munique (Munique 1860) e a Hamburgo (St. Pauli). Dietrich Mateschitz, o homem forte da organização para o investimento desportivo, viria mesmo a propor a aquisição do FC Sachsen Leipzig, herdeiro do velhinho Chimie Leipzig, mas o negócio foi vetado pela federação alemã. A escolha acabaria por recair no Markrandstädt, que vendeu os seus direitos desportivos por 350 mil euros.
A aventura começou na época de 2009/10 e não parou de crescer. Os jogos do clube, que tinham assistências na ordem dos 2500 espetadores, andam agora na casa dos 30 mil, que se reúnem no antigo Zentralstadion, completamente renovado e, naturalmente, renomeado: Red Bull Arena. Outro estará a caminho, segundo os responsáveis pelo clube: completamente novo e com capacidade para 55 mil espetadores. O crescimento do clube parece imparável…
Como geralmente acontece nestas histórias de gigantismo apressado, há sempre alguém que cavalga a onda como se fosse McNamara. No caso, más companhias. A imprensa alemã tem destacado que o grosso dos adeptos do neófito clube pertencem a grupos radicais, os ultras Red Aces, por exemplo, ou os Rasenballisten. Facto: o RB Leipzig não acumula simpatias por toda a Alemanha. Bem pelo contrário. Visto como marginal num futebol com muito de conservador, o clube vai acumulando receções hostis nas cidades onde joga.
Ralph Hasenhüttl, treinador de 49 anos (outro austríaco como Stöger) que nunca passou de clubes de pequena nomeada, foi o escolhido para gerir um investimento de muitos milhões na equipa de futebol. David Selke, filho de um emigrante etíope, ficou para os registos como a aquisição mais cara de sempre da ii Divisão alemã: 8 milhões de euros. Com ele vieram Willi Orban, Rani Kedhira, Lukas Klostermann ou Timo Werner. Saem do anonimato diretamente para as primeiras páginas dos jornais.