O valor oferecido pelo CaixaBank na Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre BPI é mais baixo 53% do que o valor real das ações da instituições financeira e está e ser penalizado pela forte desvalorização que ocorreu no setor financeiro e acabou por se refletir no valor bolsista em toda a banca. Este é um dos argumentos usados por um grupo de pequenos acionistas do BPI em carta enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a que o SOL teve acesso, e onde é pedido um auditor independente para fixar o preço da OPA.
«As ações do BPI apresentam liquidez reduzida, pois revela-se difícil a sua transformação em meios monetários, sendo que, atualmente, o valor das ações no mercado regulado é inferior ao valor económico real», revela a mesma carta.
Este grupo de acionistas lembra ainda que o setor assistiu a eventos excecionais que se verificaram nos seis meses anteriores ao anúncio da OPA e foi nesse período que foi definido o valor da contrapartida. «Constata-se que este hiato temporal coincide com a medida de resolução de Banif, indefinição da estrutura do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos, insolvência de BES, desvalorização bolsista acelerada de BCP», revelam na mesma carta, argumentado que estes eventos extraordinários determinaram «uma alteração artificial» do valor do BPI no mercado.
De acordo com as contas destes acionistas, o valor a ser oferecido pelo banco espanhol deverá ser de 1,74 euros por ação, o que representa uma valorização de 53% face à atual oferta. Este valor é o resultado da avaliação feita por este grupo ao banco liderado por Fernando Ulrich e que se fixa nos 2,5 mil milhões de euros.
Baixa na administração
A verdade é que este «preço de saldo» oferecido pelo banco espanhol já levou a uma baixa na administração do banco. Edgar Ferreira já apresentou por carta a renúncia ao cargo de vogal da administração do BPI.
O relatório do Conselho de Administração do banco, divulgado ontem pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), incluiu a declaração de voto do administrador Edgar Ferreira, que assume uma «divergência profunda» com a deliberação do Conselho de Administração do banco relativamente à OPA.
Sublinhando que foi «o único administrador que não votou favoravelmente» a alienação de 2% do BFA (Banco de Fomento Angola) «pelo ridículo valor de 28 milhões de euros», considera que «estes atos de gestão no decorrer de uma OPA são suscetíveis de conduzir à apreciação e responsabilização judicial dos membros deste Conselho de Administração».
Na declaração de voto anexa ao relatório da administração do banco, o administrador cessante começou por dizer que o Conselho de Administração do BPI entendeu que o preço de 1,329 euros por ação proposto na anterior OPA lançada pelo CaixaBank em 2015 «não refletia, então, o valor do banco BPI», altura em que considerou que «o justo valor das ações seria de 2,26 euros», tendo desaconselhado a venda das ações.
Já no âmbito da OPA em curso, Edgar Alves Ferreira refere que a administração do BPI entendeu que o preço de 1,113 euros por ação apresentado pelo CaixaBank, «não refletia o justo valor do banco BPI, o qual se cifraria agora no valor de 1,54 euros por ação».
Um valor ainda assim mais baixo em relação ao que é defendido pelos pequenos acionistas. «No relatório do conselho de administração do banco BPI, a atividade doméstica é avaliada em 1700 milhões de euros. No mesmo relatório, a atividade do banco BPI em Moçambique é avaliada em 135 milhões de euros. Adicionalmente, na proposta feita à Unitel valoriza a atividade em Angola em 700 milhões de euros. Esta avaliação representa 1,74 euros por ação», revelam.
Preço de saldo
O certo é que este valor de 2,5 mil milhões de euros está muito acima do oferecido pelo grupo catalão, que avalia o BPI em 1650 milhões de euros – 1,134 euros por ação. Este preço é visto como uma forma de o banco espanhol ficar com o controlo da instituição financeira «com um duplo desconto: da atividade doméstica e uma valorização totalmente marginal da atividade em Angola, onde o BPI continuará a ter uma participação de 48%», o que iria «beneficiar o CaixaBank em prejuízo de todos os acionistas da instituição».
A verdade é que o preço por ação já tinha sido revisto pelo CaixaBank depois de a OPA se ter tornado obrigatória. A 18 de abril, quando o banco espanhol lançou a operação, oferecia 1,113 euros por ação, valorizando o banco em 1600 milhões de euros.
Para este grupo de acionistas, é fundamental a contratação de um auditor independente por forma a garantir a correta valorização do BPI e requerem que «seja declarada como contrapartida não equitativa, o valor estabelecido na OPA formulado pelo CaixaBank e consequentemente, a CMVM decida designar auditor independente para a fixação de contrapartida mínima devida pela OPA de CaixaBank ao BPI», diz na carta enviada ao órgão regulador.
Um assunto que já irá ser tratado pela nova presidente da CMVM, Gabriela Figueiredo Dias. A atual vice-presidente do regulador da bolsa vai substituir Carlos Tavares, que já tinha terminado o mandato há cerca de um ano.
BPI considera OPA oportuna
Já o conselho de administração do banco considera a OPA do banco espanhol como «oportuna e amigável». No relatório sobre a oferta do banco catalão, que já é o maior acionista do BPI com cerca de 45%, defende que a OPA pode reforçar a capacidade do BPI para enfrentar os desafios e oportunidades que se colocam ao setor bancário, designadamente pressão significativa sobre as fontes de receitas, crescentes exigências de capital, aumento dos custos regulatórios, transformação digital e consolidação.
Quanto ao preço oferecido, o conselho admite agora que é particularmente difícil quantificar um preço para o banco, sobretudo face a fatores de incerteza como relacionados com o valor da participação no Banco do Fomento Angola (BFA), que baixou para 49%, as crescentes exigências de capital e a impossibilidade de quantificar o impacto das novas exigências mínimas de fundos próprios e passivos elegíveis que resultam da entrada em vigor do mecanismo único de resolução bancária. Ainda assim, considera que a OPA do CaixaBank oferece uma opção de saída aos acionistas que valorizem de forma mais marcada os riscos do que as oportunidades futuras e permite aos atuais acionistas permanecerem no banco, beneficiando da criação de valor que a operação de consolidação possa vir a gerar.
A maioria dos elementos do conselho de administração ainda não decidiu