1.Marcelo Rebelo de Sousa quer Rocha Andrade fora do Governo – e já avisou António Costa da sua exigência. O Presidente da República sabe que a permanência do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais seria uma desautorização das suas palavras, proferidas em público (lembre-se que, logo no final de Agosto, Marcelo afirmara, sobre o pagamento das viagens pela Galp, que não admite a promiscuidade entre o poder político e o poder económico) e em privado (é um assunto recorrente nas conversas quase diárias entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro).
2.Se Rocha Andrade permanecesse no Governo, Marcelo Rebelo de Sousa sairia como o derrotado, como o político a quem António Costa também “passa a perna” – ora, isso, na cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa, é um ultraje. É verdadeiramente inadmissível.
Por conseguinte, o Presidente da República informou o Primeiro-Ministro de que irá promulgar o Orçamento de Estado (embora com reservas e com um vídeo explicativo que divulgará ao país), em troca da desistência governamental relativamente à Lei do sigilo bancário – e da saída de Rocha Andrade.
Bem pode António Costa tentar desvalorizar o episódio político do presente da GALP ao Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais – Marcelo quer ser o rosto da ética na política. Marcelo sabe que esta causa é querida à direita e à esquerda – logo, uma causa que lhe dá o que ele mais gosta: popularidade. Por outro lado, a saída de Rocha Andrade será um factor (outro!) de reforço do poder presidencial – e, inversamente, de enfraquecimento do Governo e da maioria política. Rocha Andrade é, assim, um pretexto para Marcelo Rebelo de Sousa cumprir o seu objectivo de se tornar o centro de gravidade do poder político português. Parece-nos evidente que assistimos a uma presidencialização do regime, com consequências ainda imprevisíveis.
3.Foquemo-nos, então, em Rocha Andrade: o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais parece ser o único que ainda não se conformou com a sua saída. O próprio António Costa já equaciona o substituto para o seu amigo de muitos anos; e os dois terão conversado sobre o processo de gestão política da sua saída e substituição. Sinais públicos de tal decisão? Já tivemos dois: um com origem em Belém; outro com origem em São Bento.
3.1.Com origem em Belém – Marcelo Rebelo de Sousa jantou há duas semanas (no sábado) com Luís Marques Mendes, véspera do comentário televisivo deste político. O tema Rocha Andrade foi um dos (muitos) que estiveram em cima da mesa: Marcelo terá contado a Marques Mendes que o Governo já sofreu um desgaste muito assinalável, por erros de gestão política.
E que a solução passa por uma remodelação governamental alargada às áreas mais sensíveis para a geringonça, porque ter membros do executivo fragilizados ou impedidos, num contexto político parlamentar já de si delicado, seria o primeiro passo para a queda de António Costa. Cenário que Marcelo Rebelo de Sousa não admite, nem deseja para já – qualquer mudança no cenário político poderia conduzir a um enfraquecimento do próprio poder de Marcelo. E Marcelo quer ser o centro.
3.1.1.Ora, Luís Marques Mendes, no dia seguinte, no comentário na SIC, afirmou que Rocha Andrade não ficará no Governo muito mais tempo – leia-se, será substituído por António Costa, no cumprimento de uma exigência de Marcelo Rebelo de Sousa. E o próximo na calha para sair chama-se Manuel Caldeira Cabral, Ministro da Economia – por acaso, o outro “ódio de estimação” de Marcelo…
3.2.Com origem em São Bento (ou lá perto) – Fernando Rocha Andrade declarou, em conferência na Universidade Católica, que não é o único no Governo que tem uma lista de impedimentos. Que todos os membros deste Governo têm uma lista de entidades sobre as quais não podem tomar decisões. Ou seja: Rocha Andrade não nega que a sua situação problemática – antes, defende-se anunciando que o problema é extensível a todo o Governo. Parece aqueles meninos birrentos que quando os pais castigam por terem feito alguma asneira, acusam logo os irmãos ou os colegas de terem feito o mesmo!
Ora, a pergunta que aqui se coloca é a seguinte: António Costa vai permitir, por inacção, que Rocha Andrade lance uma suspeita generalizada sobre a totalidade do Governo? António Costa vai permitir tamanho ataque à sua autoridade no Governo?
Num momento em que a opinião pública se indigna com a insensibilidade social do Governo (que só não aumenta as pensões mais baixos, porque acha que estas pessoas não servem para ganhar eleições – não votam PS) e os salários milionários dos administradores da Caixa Geral de Depósitos – António Costa vai enfiar a carapuça que Rocha Andrade lhe ofereceu, admitindo que o seu Governo está cheio de impedimentos e suspeições?
4.Portanto, Fernando Rocha Andrade – Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Ministério que mais carece de legitimação material e, logo, ser um exemplo de ética e virtude – deu mais um passos decisivo e firme para o fim da geringonça. E para o fim de António Costa…a não ser que Marcelo Rebelo de Sousa o segure. Vamos ver com atenção os próximos desenvolvimentos.
5.Conclusão: Fernando Rocha Andrade -eis a primeira vítima de Marcelo Rebelo de Sousa. Em Janeiro, diz adeus ao Governo. Segue-se Caldeira Cabral?
P.S – Marcelo Rebelo de Sousa nomeou mais um assessor político, Paulo de Almeida Sande. Sobre quem Marcelo dizia, em privado, ser a direita grunha. Por acaso, o seu novo assessor é comentador no “Observador”. Desta forma, Marcelo tem na sua equipa gente da SIC, da TVI, do EXPRESSO e, agora, do “Observador”. E parece que quanto aos demais media, que não têm ninguém na equipa de Marcelo, o nosso Presidente anda a espalhar que não têm qualidade jornalística suficiente. Qualquer dia, será necessário para ingressar na comunicação social o aval superior de Marcelo…