Não caem bombas em Alepo desde terça-feira e a expectativa é a de que a acalmia se mantenha pelo menos até à noite de hoje. A Rússia anunciou ontem que iria estender o cessar-fogo temporário, prolongando por um quarto dia a trégua anunciada esta semana. As Nações Unidas receberam com agrado a notícia, mas afirmaram ontem que a pausa continua a não ser suficiente para resgatar as centenas de feridos na cidade e levar assistência humanitária às dezenas de milhares de pessoas cercadas.
Horas antes da notícia de que a trégua seria prolongada por mais um dia choveram milhares de panfletos nos bairros rebeldes de Alepo. Neles estavam inscritos mapas com direções para os oito corredores humanitários que o regime abriu, na tentativa de que residentes abandonassem a cidade e que rebeldes desarmassem para serem poupados. Mas só algumas dezenas de pessoas aceitaram a proposta na terça-feira, o primeiro dia simbólico de cessar-fogo.
“Não acreditamos neles”, dizia ontem Abu al-Hasan, comandante do grupo rebelde Fastakim, citado pelo “Wall Street Journal”. “Estão sempre a falar de cessar–fogos e tréguas, mas estão constantemente a atingir civis e a violar as leis da guerra”, prosseguiu, ecoando os receios entre muitos combatentes da oposição, que temem que os corredores abertos pelo regime levem à detenção ou à execução sumária. Os residentes dizem recear o mesmo, apesar dos rumores de que são os rebeldes quem os proíbe de abandonar a cidade.
Para muitos, os panfletos largados ontem sobre a cidade foram um relembrar de como a acalmia desta semana é temporária. “A batalha para o regresso de Alepo à nação entrou nas suas últimas fases: não adianta continuar a luta”, lia-se num deles. “Rendam-se antes que seja tarde”, prometia outro. Estas ameaças ganhavam força com as notícias de que o único porta-aviões russo está já próximo do Mediterrâneo, onde vai dar apoio ao que se pode revelar a ofensiva final para reconquistar o mais importante bastião rebelde.
Críticas europeias A pausa nos bombardeamentos sobre Alepo surge no fim de um mês de violentas barragens aéreas e de uma surpreendente ofensiva terrestre que já capturou alguns bairros aos rebeldes. Ao longo destas quatro semanas, quase mil civis morreram, segundo os números do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que monitoriza a guerra através de uma rede de ativistas no terreno. No curso destes ataques, as zonas rebeldes perderam também hospitais e estruturas de fornecimento de água. As Nações Unidas afirmam que os cerca de 250 mil civis no lado rebelde precisam de ajuda imediata.
Essa ajuda estava ainda a ser negociada ontem entre a ONU, a União Europeia e o regime sírio. De Bruxelas, aliás, onde ontem decorria um encontro do Conselho Europeu, estava em cima da mesa uma posição conjunta deixando em aberto a imposição de sanções aos apoiantes do regime sírio, numa referência pouco subtil a Moscovo. O portal europeu da POLITICO sugeria que a intenção de Paris, Berlim e Londres era até a de anunciar imediatamente novas sanções contra o governo russo, como punição pelo seu apoio a Assad na batalha de Alepo.
A posição conjunta segue a deixa lançada na noite de quarta- -feira por François Hollande e Angela Merkel, depois de uma reunião em Berlim com Vladimir Putin. “Tudo que possa servir de ameaça pode ser útil”, disse Hollande, numa conferência conjunta com Angela Merkel, segundo quem os ataques aéreos das últimas semanas em Alepo foram “desumanos e cruéis”.
“A Rússia tem clara responsabilidade no que está a decorrer na Síria”, disse a chanceler, num momento em que não era ainda claro se haveria prolongamento da trégua. Em separado, Putin prometeu apenas não bombardear enquanto as “forças terroristas” não atacarem.