A impotência

Foi a revolução. Subitamente no outono passado, Portugal mudou. Em quarenta anos de democracia, descontando o breve período do PREC, o país foi governado pelo PS e pelo PSD, alternadamente, e a espaços coligados com o CDS. Embora o país fosse pobre, houve sempre a preocupação de nos comparamos com os mais ricos. Os governantes…

Embora os salários e a nossa realidade económica e social fossem de país pobre, o discurso político era de país rico. Para se ter uma ideia, Bélgica e Irlanda têm um salário mínimo que é o triplo do nosso. Nós não tínhamos uma classe média pujante, nem sequer tínhamos uma verdadeira classe média, mas era para essa classe média imaginária que os políticos faziam campanhas e governavam.

As mensagens e palavras de ordem dos partidos de extrema-esquerda nunca eram assumidas no discurso político e só tinham alguma relevância em dias de greve quando eram usadas por sindicalistas.

À medida que os governos se sucediam, os erros políticos iam-se acumulando: cada vez pediam mais dinheiro emprestado, gastavam mais, faziam mais obras públicas, enquanto a corrupção alastrava e as reformas difíceis ficavam por fazer. Fosse na administração pública, na justiça, na educação, na saúde ou na segurança social.

Quando os credores chegaram, em 2011, a reação foi muito grande. Reagiram as corporações. Reagiram os corruptos. E os media amplificaram o barulho por mil. A coesão social, já muito minada pela corrupção e pela desigualdade, esboroou-se de vez.

Em outubro de 2015, pela primeira vez na nossa democracia, o PS fez o que nunca tinha feito. O caldo de cultura estava cá, pobres sempre fomos, mas depois de Salazar ainda não tínhamos tido outros oportunistas que se aproveitassem.

António Costa rasgou o politicamente correto, deixou de querer ser igual a um dos países ricos da Europa, parou de falar para a classe média imaginária. Começou a falar diretamente para os pobres. Fez como Tsipras na Grécia.

Há um ano ainda houve alguns socialistas que tiveram vergonha de passar de elitistas a populistas, mas calaram-se entretanto.

O Governo-geringonça passou a governar para os funcionários públicos, para os pensionistas e reformados, passou a pagar a conta das exigências sindicalistas e aceitou o pensamento e frases revolucionárias da extrema-esquerda no discurso político.

O Governo-geringonça (até o nome é uma chalaça) fala e governa para todos aqueles que recebem até 1000 euros por mês, de preferência do Estado. Ou seja, fala e governa para 90% da população portuguesa.

Se quisermos ser sérios, Portugal era pobre a fazer-se de rico. Agora, deixou-se de pretensões e fingimentos.

É por causa disso que o Governo de António Costa tem sucesso e sobe nas sondagens. O discurso bate certo com a população que tem. Nivela por baixo.

Quando o poder usa fato-de-treino, uma oposição de fato e gravata não tem qualquer hipótese.