As ações do Deutsche Bank voltaram, na semana passada, a negociar no valor mais alto, desde meados de setembro, voltando ao patamar dos 13 euros por título. Com esta valorização, o gigante alemão recupera das fortes perdas registadas na sequência do anúncio da coima milionária aplicada pelas autoridades norte-americanas de (12,5 mil milhões de euros) para encerrar um processo ligado aos créditos imobiliários de baixa qualidade (subprime), que provocaram a crise de 2008.
O anúncio colocou a instituição numa espécie de alerta de tsunami, com os investidores a recearem que o Deutsche Bank não tivesse capacidade para enfrentar esses custos legais. As ações afundaram em bolsa e atingiram mesmo um novo mínimo histórico a 30 de Setembro, nos 9,898 euros.
Mas apesar desta valorização no mercado bolsista, não significa que os problemas já tenham terminado para o banco alemão, apenas começa a ver uma luz ao fundo do túnel. Tanto que, mais de um mês depois, as negociações entre a administração do gigante alemão e as autoridades norte-americanas em torno do valor da penalização continuam e os rumores sobre um possível resgate ainda permanecem no ar.
Também o CEO do banco, John Cryan, permanece sob pressão para restaurar a confiança do mercado na instituição, depois de já ter garantido que não pretende realizar um aumento de capital.
A somar a isto há que contar com a apresentação de resultados do terceiro trimestre da instituição financeira, marcada já para o próximo dia 27 de outubro. Uma data vai captar as atenções dos investidores que continuam em sobressalto com a situação do banco e, ainda mais, com os resultados, principalmente depois de o Deutsche Bank ter apresentado uma queda de lucros para 20 milhões de euros no primeiro semestre do ano. Um valor que corresponde a menos de 98% que em igual período do ano passado.
Também os custos ligados à reestruturação e indemnizações atingiram os 207 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, um valor mais elevado do que os 45 milhões que foram despendidos em igual período de 2015.
Banco desvaloriza O CEO da instituição financeira, John Cryan, tem desvalorizado esta “crise” ao garantir que “algumas forças no mercado estão a tentar prejudicar essa confiança”. E deixa um recado: “Em alguns meios podem-se ler rumores acerca de que alguns fundos de capital de risco nos abandonaram. Isso gera, sem razão, intranquilidade. Temos que considerar todo o panorama do banco, o Deutsche Bank tem mais de 20 milhões de clientes. Continuem a trabalhar como até agora, somos e continuaremos a ser um banco forte”, adiantou.
Sigmar Gabriel, o vice de Merkel, vê no entanto um motivo de preocupação: o eventual impacto nos postos de trabalho, já que cerca de metade dos 101 mil empregos do Deutsche Bank são no país de origem. “O cenário são milhares de pessoas que vão perder o seu trabalho. Eles vão pagar o preço da loucura dos dirigentes irresponsáveis”, disse Gabriel, que é igualmente líder dos sociais-democratas, que governam em Berlim com os conservadores da chanceler alemã Angela Merkel.
Em Portugal, o banco já disse que o fecho de 15 agências vai implicar a saída de alguns funcionários. O objetivo global passa por cortar 15% da sua força laborial – cerca de 15 mil funcionários – através do fecho de operações em alguns países considerados não estratégicos (Nova Zelândia, Argentina, entre outros). Mas grande parte desta medida será aplicada na Alemanha, onde está previsto a redução de quatro mil postos de trabalho.
Alerta O primeiro sinal de alarme foi dado quando o banco apresentou os resultados do ano passado. Os primeiros negativos desde 2008, altura em que rebentou a crise do subprime. As perdas recorde foram de quase 6,8 mil milhões de euros. Para 2016, as perspetivas não eram animadoras, já que vários analistas garantiram que seria possível o Deutsche Bank ter mais prejuízos este ano. A própria administração chegou a admitir que, este não seria um ano fácil, uma vez que o pico do plano de reestruturação do banco iria ocorrer no final de 2016.
Também o Fundo Monetário Internacional (FMI), em junho, tinha alertado que o Deutsche Bank era a instituição financeira que atualmente mais riscos colocava sobre a estabilidade mundial enquanto fonte potencial de choques externos. As conclusões do FMI surgiram quase em simultâneo com a divulgação por parte da Reserva Federal de que as unidades norte-americanas deste banco alemão e do espanhol Santander chumbaram nos testes de stress daquele país, tendo sido os únicos em 33 entidades a chumbar.