Jesse Eisenberg facilmente passa por uma espécie de alter ego de Woody Allen neste filme que o realizador levou à abertura oficial da última edição de Cannes e que é indiscutivelmente um dos melhores que fez nos últimos anos. Nos tempos a que aqui se regressa, os da art déco e a década de 1930, Café Society era uma das designações possíveis para o grupo de pessoas conhecido por ‘Beautiful People’ ou ‘Bright Young Things’, elite que frequentava os melhores bares de Londres, Paris e Nova Iorque, e que a partir dos anos 50 seria substituído pelo jet set. Café Society era também um bar de Nova Iorque dos anos 30 e é daí que Woody Allen parte para contar uma história que demora a lá chegar.
Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg em A Rede Social) é Bobby e Bobby é um judeu nascido no Bronx que se muda para Hollywood, onde vai encontrar o tio, Phil Stern (papel perfeito para Steve Carell, que era para ter sido interpretado por Bruce Willis, o que obrigou a que parte do filme tivesse de voltar a ser rodada para o ator ser substituído), agente de estrelas de cinema, à procura de um trabalho.
E é em Hollywood, onde se passa boa parte do filme, que Bobby conhece Vonnie (uma resplandecente Kristen Stewart), secretária de Phil, que quer levar de volta para Nova Iorque, onde trabalhará com o irmão, cliché do gangster (Corey Stoll) no seu Café Society. Mas não leva.
A isto há que somar ainda um nome: Vittorio Storaro. Ninguém melhor do que o diretor de fotografia de O Último Tango em Paris, O Último Imperador e Apocalypse Now para esta homenagem ao que foram aqueles anos.
Romance filmado
Aos 80 anos, longe de se reformar, Woody Allen acabou de estrear também a sua primeira série televisiva, Crisis in Six Scenes, série de apenas uma temporada de seis episódios produzida pela Amazon Studios, com Miley Cyrus, Elaine May, John Magaro, Rachel Brosnahan e o próprio realizador, no seu regresso ao outro lado da câmara – está também já a preparar um próximo filme, o 48.º, com Kate Winslet e Justin Timberlake, para estrear em 2017.
Chegado a esta fase, Allen revelou numa entrevista concedida à Hollywood Reporter que apagaria todos os seus filmes, com exceção de «seis ou oito» – talvez A Rosa Púrpura do Cairo (1985), Zelig (1983) ou Meia-Noite em Paris (2011). Também aí explicou que queria fazer neste filme «uma espécie de romance num filme, sobre uma família e as relações entre os seus membros, com uma relação de amor dos protagonistas. Quis que tivesse a estrutura de um romance para poder mover-me pelos vários membros da família. É também por isso que narrei o filme: quando se vê o filme é como se eu fosse o autor do romance a que se assiste».
Sobre filmar em Los Angeles, Allen acrescenta que essa ideia de que odeia a cidade é «um mito». «Nunca a odiei. É só um lugar onde nunca viveria porque não gosto de sol e não gosto de estar dependente de um carro. Gosto de cidades como Nova Iorque, em que saio de casa e estou logo no meio de tudo, e há barulho e trânsito e cinzento, dias cinzentos e neve».