1. O cão que não ladrou? Sou um leitor habitual do Público. Mais agora, que vivo fora, do que quando vivia em Lisboa. Sou-o por hábito e pelo interesse e diversidade das colunas de opinião. Sou-o menos pela qualidade e equilíbrio da parte noticiosa, que várias vezes me choca por ser ‘inclinada para a esquerda’. Várias vezes foi dito que o jornal é o órgão oficioso da Fenprof. Concordo! Senão leia-se o artigo na edição do dia 6 deste mês a propósito de um estudo da rede Eurydice sobre salários comparativos dos professores dos segundo e terceiros ciclo. O artigo enfatiza várias conclusões, todas elas verdadeiras: que leque salarial em Portugal é dos maiores, que a distribuição dos salários dos professores se concentra junto ao limite inferior, que … Enfim uma litania das desventuras que afligem os professores. Mas nem uma palavra para o óbvio, aparente a qualquer olhar educado do gráfico que acompanhava a notícia: Portugal é dos países onde comparativamente ao rendimento nacional médio os professores mais ganham: o mais elevado salário mínimo e o terceiro mais elevado salário máximo. Os professores podem ganhar pouco em termos absolutos, mas relativamente ao que ganham os seus outros compatriotas são certamente dos privilegiados internacionalmente.
2. António Guterres. Já tudo se disse sobre a sua eleição para Secretário-Geral: os seus méritos pessoais, a ação da diplomacia nacional, os jogos de bastidores e, para os cínicos, a (ir)relevância do cargo. Vivendo no estrangeiro fiquei também feliz com a possibilidade de um português, que não Cristiano Ronaldo, ser reconhecido e ter grande projeção internacional. Esperança vã: apesar de privar com pessoas com um nível superior de educação, ninguém mostrou qualquer conhecimento ou interesse pela eleição ou pela nacionalidade do eleito. Provavelmente fazem mais pelo prestígio nacional os milhares de licenciados e de doutorados que discreta e diariamente trabalham em organizações, universidades, laboratórios e empresas espalhadas por este mundo.