A linha dura e tendenciosa

O ministro das finanças alemãs, o conservador Wolfgang Schauble, lançou um duro ataque ao executivo nacional. Como bem sintetizou o Diário de Notícias em título, “Portugal estava a ir bem até entrar o governo PS.” Não me apetece discutir, indicador económico por indicador económico, se estamos melhor ou pior do que no anterior governo. A…

O ministro das finanças alemãs, o conservador Wolfgang Schauble, lançou um duro ataque ao executivo nacional. Como bem sintetizou o Diário de Notícias em título, “Portugal estava a ir bem até entrar o governo PS.”

Não me apetece discutir, indicador económico por indicador económico, se estamos melhor ou pior do que no anterior governo. A meu ver, mais do que os números, a questão é ideológica: o conservador ministro das finanças alemão está apostado em destruir um governo socialista apoiado por dois partidos de extrema-esquerda. Aliás, não será a primeira vez. Numa entrevista que José Sócrates deu a Clara Ferreira Alves no Expresso, imediatamente antes do pedido de resgate, “aquele estupor (sic) do Schauble todos os dias punha notícias contra nós no Financial Times”, um dos jornais mais lidos pelos verdadeiros poderosos internacionais.

Schauble não faz estas afirmações de forma inocente: amanhã, de certeza, as taxas de juro da dívida portuguesa irão subir. O germânico tenta assim anular os efeitos positivos da manutenção do rating da agência DBRS, tornando o nosso financiamento mais caro e, claro, criando dificuldades ao governo.

Até que ponto se pode tentar tramar um parceiro que até faz parte dos mesmos blocos políticos, económicos e militares (UE e NATO)? A meu ver, as declarações de Schauble, com os efeitos nefastos que trarão, são difíceis de serem mais tendenciosas.

Felizmente, podemos contra-atacar. É verdade que o Deutsche Bank, o maior da Alemanha e quarto maior do mundo, enfrenta graves dificuldades financeiras? E se necessitar de ser resgatado pelo governo alemão, quais serão as consequências para as finanças públicas teutónicas, e o que dirá então o virtuoso Schauble? Talvez o possamos instruir em ditos populares portugueses, como “quem tem telhados de vidro não atira pedras”, ou “cá se fazem cá se pagam.”