As queixas começam a ser mais habituais por estes dias. Graúdos e miúdos mais ranhosos, o cabelo a cair e sintomas de alergias. Falámos com especialistas e contamos-lhe o que precisa de saber para atravessar a estação com menos chatices e informação para fazer escolhas acertadas.
Porque é que nos constipamos mais? Filipe Froes, pneumologista no Hospital Pulido Valente e consultor da Direção Geral da Saúde, explica que são vários os motivos. Por um lado, o tempo mais frio e a menor radiação solar fazem com que os vírus respiratórios sobrevivam mais tempo nas superfícies onde os podemos apanhar sem dar por isso, como botões de elevador ou interruptores. Por outro lado, à medida que chegam os dias mais frios e chuvosos, as pessoas começam a optar mais por espaços fechados e, entre tosse e espirros, os vírus acabam por ter caminho livre.
Entre os vírus que afetam as vias respiratórias, o da gripe acaba por ser dos mais problemáticos porque tem uma elevada taxa de ataque, sublinha Filipe Froes. “Estima-se que afete 10% da população adulta todos os anos e um terço das crianças”. Isto faz com que, embora a taxa de complicações seja muito baixa, como a doença afeta mais de um milhão de portugueses todos os anos surjam alguns milhares de casos graves, que incluem pneumonias secundárias causadas por bactérias nas pessoas com as defesas mais em baixo ou mesmo a descompensação de doentes crónicos com diabetes, insuficiência cardíaca ou renal. E é aqui que entra a vacina: além de prevenir alguns casos, diminui o risco de complicações. “Nenhuma vacina dada em adulto protege a 100% da infeção, a da gripe tem uma taxa de eficácia de 40% a 60%, o que é muito bom. Mas diminui muito o risco de problemas graves, que são a maior preocupação. É a forma mais eficaz de nos protegermos”.
Quem deve fazer a vacina e quando Os centros de saúde começaram a distribuir a vacina da gripe no início do mês. A DGS recomenda a imunização a todas as pessoas com mais de 65 anos, doentes crónicos e imunodeprimidos, grávidas e profissionais de saúde. Idosos, doentes em diálise e este ano também doentes à espera de transplante ou a fazer quimioterapia têm acesso gratuito à vacina, assim como portadores de síndrome de Down e outras pessoas com doenças crónicas que comprometem o sistema respiratório como fibrose quística ou algumas doenças neuromusculares.
Além dos grupos de risco, qualquer pessoa pode proteger-se: a vacina está à venda por 3,87 euros e pode ser feita nas farmácias ou nos centros de saúde. Quando é a altura ideal? Filipe Froes explica que a vacina demora em média duas semanas a fazer efeito. A ideia é estar protegido quando começa a atividade gripal – ou seja quando começam a surgir mais casos e aumenta o risco de contágio –, o que normalmente acontece no final do ano, com a fase epidémica a durar até Fevereiro. “O problema é que nunca sabemos exatamente quando começa, por isso o que recomendo aos meus doentes que façam a vacina entre 15 de Outubro e o final de Novembro”, sublinha Froes, explicando que não há contraindicação em ser um pouco mais cedo ou mais tarde.
O médico reconhece que hoje alguns idosos ainda têm receio de vacina e defende, por isso, que é preciso mais informação. “Por vezes fazem-na e depois ficam constipados, pensam que não vale a pena quando podem ter sido infetados com outro vírus respiratório ou mesmo ter sintomas mais ligeiros do que se não tivessem feito”.
O ponto alto da gripe ainda está longe, ficam desde já outros conselhos: antes de ir à urgência do hospital, deve ligar para a Saúde 24 (808 24 24 00) para perceber se é mesmo necessário. Na maioria dos casos, não é preciso um tratamento hospitalar: pode bastar um paracetamol para a febre, hidratação e repouso, até para não levar o vírus para a escola ou trabalho. O último ano não foi muito problemático, mas Froes usa a máxima de João Pinto “prognósticos só no fim do jogo” para explicar que os vírus da gripe em circulação mudam todos os anos e o cenário é, como no futebol, imprevisível. Nos últimos dez anos, e em particular depois do susto da pandemia da gripe A em 2009, as autoridades têm vindo a reforçar a sensibilização, que inclui a vacina mas também medidas de higiene reforçadas nesta altura do ano como lavar bem as mãos ou tossir para o cotovelo. Outra ideia a reter é que começamos a ser contagiosos um a dois dias antes de ter sintomas e até oito dias depois, pelo que evitar a exposição de outros é essencial, em particular dos mais vulneráveis. Em Portugal, segundo os registos do Instituto Ricardo Jorge, a época de gripe mais complicada aconteceu em 1998/1999. Nesse ano morreram mais 8500 pessoas do que é normal nos meses de outono e inverno, por causa dos vírus respiratórios mas também devido a ondas de frio, que agravam o risco de problemas cardiovasculares.
E se for uma alergia? Como distinguir se uma constipação é, na realidade, uma crise alérgica? Mário Morais de Almeida, imunoalergologista dos hospitais CUF, explica que alguém que esteja a passar por isso pela primeira vez pode fazer alguma confusão com os espirros e congestionamento geral, mas há sinais que devem levantar suspeitas: as alergias não costumam dar febre, os sintomas agravam quando estamos em determinados lugares (geralmente onde estão os agentes aos quais a pessoa é alérgica mesmo sem saber) e prolongam-se mais no tempo do que uma constipação normal.
Apesar de se falar mais nas alergias na primavera, o especialista sublinha que com a chegada do outono há duas preocupações. É a altura da polinização de plantas como a erva parietária (Alfavaca-de-cobra) ou a artemisia, o que afecta mais a população enquanto os dias ainda estão quentes. Mas um dos principais inimigos de quem sofre de asma e rinite (10% e 25% da população respetivamente) está dentro de casa: os ácaros. “Existem todo o ano mas com a chegada do tempo frio e humidade, proliferam”, salienta Morais de Almeida. “É a altura do ano de se passar a fazer uma limpeza reforçada, mudando a roupa da cama e aspirando o colchão, idealmente todas as semanas. “Deve haver o cuidado de usar roupa de cama e edredons impermeáveis, que possam ser lavados facilmente. Por vezes opta-se por revestimentos de penas e há aquela fantasia da grande limpeza a seco no Natal e na Páscoa, mas isso não chega e para muitas pessoas torna-se um martírio.” E tal como a prevenção é a palavra de ordem na gripe, o especialista recomenda que alguém que passe por uma crise alérgica procure ajuda médica, para que ser avaliado e, no próximo ano, se for caso disso, vacinar-se a tempo.
Cabelos por todo o lado? Falta falar desta última praga de outono, certa como o destino. Se é o seu caso, saiba que não está sozinho: segundo as últimas estimativas, 70% das pessoas têm queda de cabelo sazonal, um fenómeno semelhante ao de outros mamíferos que mudam de pelo e que tem o nome curioso de deflúvio telógeno. Cada fio de cabelo tem um ciclo de mais ou menos três anos, que quando cai é substituído por outro, e em média perdemos 100 cabelos por dia. Por vezes, há ciclos mais curtos, o que aumenta a queda.
Pode acontecer por causa do stress, algumas doenças ou medicação mas no outono a explicação parece ser a diminuição da luz solar, que faz variar os níveis de algumas hormonas como a prolactina e melatonina, que afetam o ciclo de vida de cada folículo.
Para prevenir a queda, mais do que evitar lavagens diárias, os especialistas recomendam que não se utilize o secador a temperaturas muito elevadas e nem a menos de 30 centímetros do cabelo. Deve também evitar pintar-se o cabelo mais do que uma vez por mês. Se a queda persistir ou for mesmo muito fora do habitual, e sobretudo se começar a ver mais couro cabeludo num curto espaço de tempo, deve procurar ajuda de um dermatologista antes de começar a tomar suplementos: é importante perceber a causa e, além disso, podem não ter qualquer efeito.