A crise do negócio bancário

Como o Sol noticiou, o Lloyds vai despedir funcionários. O banco britânico, liderado pelo português António Horta-Osório, pretende cortar custos eliminando cerca de 12 mil postos de trabalho.

Notícias como esta tornaram-se frequentes. Em Portugal, pelo menos entre os gestores bancários existe o consenso de que há banca a mais. Muitas agências estão a ser fechadas pelo país fora e a redução de pessoal no setor acentua-se. Há mesmo quem fale em fusões de bancos, o que poderá ameaçar uma saudável concorrência bancária, prejudicando os clientes.

Como se explica que o negócio da banca, que parecia tão rendoso há uma década atrás, tenha entrado em crise?

Antes de mais, convém notar que o aumento das operações bancárias através da internet dispensa muitos funcionários e agências. Mas não é isso que afeta a rentabilidade da maioria dos bancos, sobretudo na Europa. Nos Estados Unidos as empresas estão menos dependentes do crédito bancário porque recorrem com maior frequência aos mercados financeiros para emitirem ações e obrigações.

A falta de capital é um dos problemas dos bancos. Veja-se, entre nós, a Caixa Geral de Depósitos. A crise financeira global desencadeada a partir de 2007 leva as autoridades do setor a exigir aos bancos níveis mais altos de capitais, por uma questão de prudência face à possibilidade de uma nova crise. Receios reforçados pela má situação do Deutsche Bank, o maior banco alemão; aliás, o segundo maior, o Commerzbank, também vai fazer sair perto de dez mil funcionários.

Os banqueiros protestam contra as exigências dos reguladores de uma maior almofada de capital, que consideram exageradas. Mas percebe-se a desconfiança das autoridades: a crise dita do subprime revelou uma chocante falta de ética profissional da parte de numerosos e reputados bancos. Pior: mesmo depois da crise, não cessaram as más práticas bancárias. Por exemplo, no banco americano Wells Fargo funcionários manipularam contas de depositantes sem conhecimento destes, para ganharem prémios. 

A cultura de alto risco própria dos bancos de investimento afetou também os bancos comerciais. Uma lei de 1933, nos EUA, proibira a junção desses dois tipos de bancos. Mas há vinte anos essa lei foi revogada (era Bill Clinton Presidente).

Também as taxas de juro historicamente baixíssimas que hoje se praticam prejudicam o negócio bancário. Entre nós, os bancos procuram compensar os juros baixos subindo as comissões, por vezes algo escandalosamente.

Outro fator negativo é o alto nível de crédito mal-parado, em particular em Itália e Portugal. Conceder crédito é o negócio dos bancos. Ora com inúmeras empresas sobre-endividadas o crédito bancário retrai-se, até porque os gestores da banca também têm responsabilidades no malparado.

O fraco crescimento económico é mais um fator a travar o negócio bancário. Em Portugal são pessimistas as perspetivas de um retorno a um sólido crescimento, mantendo-se a economia quase estagnada desde o início do século.

Dito tudo isto, os bancos não devem exagerar nas lamentações. Como salienta o semanário The Economist, 90 bancos da zona euro pagaram aos acionistas entre 2007 e 2015 dividendos no valor de 223 mil milhões de euros e retiveram lucros de 348 mil milhões. A crise da banca existe, mas não é tão dramática como alguns a pintam.